quarta-feira, julho 06, 2016
Valor Econômico - 06/07
Existe apenas uma alternativa ao governo Michel Temer: é o governo Dilma Rousseff. O processo de desestabilização aplicado ao governo interino tem feito questão de desconhecer essa realidade. Estão ambos em campanha para que, em agosto, o Senado Federal diga qual dos dois vai comandar o país.
O governo Dilma é mais do que conhecido. Nesses dois meses de gestão na interinidade, Temer se deu a conhecer. Conseguiu muito: estabelecer uma base mais fiel no Congresso, fixar a meta de resultado fiscal para este ano e o próximo (o que deve acontecer a qualquer momento esta semana), aprovar a desvinculação de receitas, formular uma política fiscal com base no teto de gastos e aguardar pela sua aprovação negociada, conseguir do Congresso a realização de votações para liberar reajustes concedidos e represados há oito meses, promover a correção do programa símbolo Bolsa Família, recompor uma equipe de excelência para gestão da economia, aí incluídos dirigentes de estatais e bancos públicos que pudessem devolver segurança no manejo do elevador de subida, renegociar a dívida dos Estados e tocar o dia a dia junto com a sombra da Operação Lava-Jato, que incapacita os governos de qualquer partido à tranquilidade. É um senhor saldo. O clima negativo mudou um pouco, esmaeceu a opacidade e a paralisia incapacitante parece ter ficado para trás.
Há, então, esse governo de dois meses incompletos, e há o da Dilma, de 17 meses anteriores a maio, com um saldo menor e crise política, econômica e moral equivalentes. Depois de agosto, ou é um, ou é o outro. Arquivem-se ideias mirabolantes do arsenal de recursos para manter o poder, tais como uma nova eleição agora, um plebiscito, ou qualquer invencionice que, neste momento, se apresente como alternativa.
Essa é a realidade da política, de um governo político, de uma democracia representativa, de nível e gosto duvidoso, porém não importa, é este o Congresso que há e, a julgar pela evolução da história da política brasileira, o próximo será seguramente pior.
Portanto, melhor seria se o multifacetado mercado, que não é um, mas são muitos, dominados por diferentes tipos de forças e pressões - há o financeiro, doutor em manobrar a crise, há o produtivo, insulado pelo colapso do consumo, há o dos negócios da infraestrutura, sem o qual não há crescimento e emprego - fosse tratado como tal, um jogo, que não inclui entre suas regras a paciência, a persistência, e a criatividade nas soluções.
O que prevalece nele é a falta de imaginação e a pressa. Tecnocratas que voltam a repetir o mesmo que disseram em todas as crises de todos os governos, os conceitos vagos, as saídas de sempre, ao ônus das mesmas presas fáceis de sempre. Do governo Temer, cobra-se, hoje, um plano pronto e acabado e zero de experiências e negociações políticas, antes mesmo de se tornar definitivo. Se entregar o que pedem, não se tornará.
Empossada com pompa uma equipe econômica de excelência não porque o mercado o exigia, mas porque o país precisava de autoridade para formular um projeto e reverter a sua queda vertiginosa abismo adentro, enquanto no plano político havia boa tensão para dar solidez ao governo a seguir adiante. Desta equipe se está a exigir, agora, 50 dias depois, o resultado de uma vida.
Do caminho percorrido até aqui não brotam milagres, menos ainda do que é preciso seguir nos próximos dois anos, seja com que gestão for. O governo em ação é interino, vale lembrar a todo momento, precisa da confirmação dentro de um mês e é a política que o comanda, embora seja admirável o grupo que conseguiu nomear no seu projeto para a economia.
São muitas as tentativas de desestabilizá-lo, mas está aí um governo que acredita na política, na interação entre os Poderes Executivo e Legislativo, principalmente, num momento em que o Judiciário está às voltas com a liderança firme do combate à corrupção, mal que gravou todos os Poderes, em especial os Executivos do PT e do PMDB, titulares dos governos em disputa. A realidade exige prosseguir nesta guerra e governar lado a lado com a Operação Lava-Jato.
Para manter o país funcionando, fazer política é preciso. Inaceitável, por exemplo, que o presidente em exercício, Michel Temer, anuncie constrangido que vai tomar, no futuro, medidas impopulares. Uma substituição de um governo por outro não pode ser uma sucessão de falta de originalidade. Temer faz uma ameaça à sociedade. Se as medidas são impopulares, como aponta, por que adotá-las? Se o são, não as faça. Para que punir o cidadão? Não tem mais de onde tirar soluções a não ser do assalariado? O governo tem obrigação de ser generoso.
Temer, no seu mais recente discurso, aceitou a corda para se enforcar. Essa equipe de alto nível, com Ilan Goldfajn, Henrique Meirelles, Mansueto de Almeida, Carlos Hamilton, Pedro Parente, Silvia Bastos, José Serra, Paulo Caffarelli, não conseguirá inventar uma nova política? O crescimento só se fará com as dores do povo?
Juscelino Kubitschek, o exemplo de democrata para os governos pós ditadura militar, sempre vencendo a comparação com qualquer outro, foi criticado por ambíguo, contraditório, e conseguiu compatibilizar a, digamos simbolicamente, plutocracia paulista com a panela de pressão da esquerda, sem descuidar da classe média.
A política de desenvolvimento é feita de contradições e ambiguidades necessárias. O mercado não é monolítico, a sociedade também não, a política menos ainda. Não leva a nada contrapor um ao outro. A ruptura, no Brasil de hoje, acabou ficando inaceitável.
Aponte-se o dirigente de maior sucesso hoje, no mundo, e identifique-se o que o move. O Papa Francisco deve seu destaque ao rompimento com a inflexibilidade ou não? Não está tergiversando com a moral, com os costumes, com a fé, mas reconhecendo as situações de fato e enfrentando-as com bom senso.
O torniquete que se quer impor a um governo que prefere agir politicamente está viciado, representa interesses específicos que talvez não sejam o bem comum. Não é momento de aplicar teorias, mas de ter proposta para pessoas reais. Um governo necessário precisa coragem para contrariar velhos modelos.
Se ficar, por sucessão constitucional, o governo Temer tem que estar preparado para apresentar seu caminho depois de agosto. E Dilma Rousseff, em lugar de estar brincando de guerrilha, inclusive internacional, deveria debruçar-se sobre seu plano de condução do país para os dois anos finais até a próxima eleição presidencial. Senão não se sabe para quê quer voltar. Só existem os dois governos, e um é a alternativa ao outro.
Existe apenas uma alternativa ao governo Michel Temer: é o governo Dilma Rousseff. O processo de desestabilização aplicado ao governo interino tem feito questão de desconhecer essa realidade. Estão ambos em campanha para que, em agosto, o Senado Federal diga qual dos dois vai comandar o país.
O governo Dilma é mais do que conhecido. Nesses dois meses de gestão na interinidade, Temer se deu a conhecer. Conseguiu muito: estabelecer uma base mais fiel no Congresso, fixar a meta de resultado fiscal para este ano e o próximo (o que deve acontecer a qualquer momento esta semana), aprovar a desvinculação de receitas, formular uma política fiscal com base no teto de gastos e aguardar pela sua aprovação negociada, conseguir do Congresso a realização de votações para liberar reajustes concedidos e represados há oito meses, promover a correção do programa símbolo Bolsa Família, recompor uma equipe de excelência para gestão da economia, aí incluídos dirigentes de estatais e bancos públicos que pudessem devolver segurança no manejo do elevador de subida, renegociar a dívida dos Estados e tocar o dia a dia junto com a sombra da Operação Lava-Jato, que incapacita os governos de qualquer partido à tranquilidade. É um senhor saldo. O clima negativo mudou um pouco, esmaeceu a opacidade e a paralisia incapacitante parece ter ficado para trás.
Há, então, esse governo de dois meses incompletos, e há o da Dilma, de 17 meses anteriores a maio, com um saldo menor e crise política, econômica e moral equivalentes. Depois de agosto, ou é um, ou é o outro. Arquivem-se ideias mirabolantes do arsenal de recursos para manter o poder, tais como uma nova eleição agora, um plebiscito, ou qualquer invencionice que, neste momento, se apresente como alternativa.
Essa é a realidade da política, de um governo político, de uma democracia representativa, de nível e gosto duvidoso, porém não importa, é este o Congresso que há e, a julgar pela evolução da história da política brasileira, o próximo será seguramente pior.
Portanto, melhor seria se o multifacetado mercado, que não é um, mas são muitos, dominados por diferentes tipos de forças e pressões - há o financeiro, doutor em manobrar a crise, há o produtivo, insulado pelo colapso do consumo, há o dos negócios da infraestrutura, sem o qual não há crescimento e emprego - fosse tratado como tal, um jogo, que não inclui entre suas regras a paciência, a persistência, e a criatividade nas soluções.
O que prevalece nele é a falta de imaginação e a pressa. Tecnocratas que voltam a repetir o mesmo que disseram em todas as crises de todos os governos, os conceitos vagos, as saídas de sempre, ao ônus das mesmas presas fáceis de sempre. Do governo Temer, cobra-se, hoje, um plano pronto e acabado e zero de experiências e negociações políticas, antes mesmo de se tornar definitivo. Se entregar o que pedem, não se tornará.
Empossada com pompa uma equipe econômica de excelência não porque o mercado o exigia, mas porque o país precisava de autoridade para formular um projeto e reverter a sua queda vertiginosa abismo adentro, enquanto no plano político havia boa tensão para dar solidez ao governo a seguir adiante. Desta equipe se está a exigir, agora, 50 dias depois, o resultado de uma vida.
Do caminho percorrido até aqui não brotam milagres, menos ainda do que é preciso seguir nos próximos dois anos, seja com que gestão for. O governo em ação é interino, vale lembrar a todo momento, precisa da confirmação dentro de um mês e é a política que o comanda, embora seja admirável o grupo que conseguiu nomear no seu projeto para a economia.
São muitas as tentativas de desestabilizá-lo, mas está aí um governo que acredita na política, na interação entre os Poderes Executivo e Legislativo, principalmente, num momento em que o Judiciário está às voltas com a liderança firme do combate à corrupção, mal que gravou todos os Poderes, em especial os Executivos do PT e do PMDB, titulares dos governos em disputa. A realidade exige prosseguir nesta guerra e governar lado a lado com a Operação Lava-Jato.
Para manter o país funcionando, fazer política é preciso. Inaceitável, por exemplo, que o presidente em exercício, Michel Temer, anuncie constrangido que vai tomar, no futuro, medidas impopulares. Uma substituição de um governo por outro não pode ser uma sucessão de falta de originalidade. Temer faz uma ameaça à sociedade. Se as medidas são impopulares, como aponta, por que adotá-las? Se o são, não as faça. Para que punir o cidadão? Não tem mais de onde tirar soluções a não ser do assalariado? O governo tem obrigação de ser generoso.
Temer, no seu mais recente discurso, aceitou a corda para se enforcar. Essa equipe de alto nível, com Ilan Goldfajn, Henrique Meirelles, Mansueto de Almeida, Carlos Hamilton, Pedro Parente, Silvia Bastos, José Serra, Paulo Caffarelli, não conseguirá inventar uma nova política? O crescimento só se fará com as dores do povo?
Juscelino Kubitschek, o exemplo de democrata para os governos pós ditadura militar, sempre vencendo a comparação com qualquer outro, foi criticado por ambíguo, contraditório, e conseguiu compatibilizar a, digamos simbolicamente, plutocracia paulista com a panela de pressão da esquerda, sem descuidar da classe média.
A política de desenvolvimento é feita de contradições e ambiguidades necessárias. O mercado não é monolítico, a sociedade também não, a política menos ainda. Não leva a nada contrapor um ao outro. A ruptura, no Brasil de hoje, acabou ficando inaceitável.
Aponte-se o dirigente de maior sucesso hoje, no mundo, e identifique-se o que o move. O Papa Francisco deve seu destaque ao rompimento com a inflexibilidade ou não? Não está tergiversando com a moral, com os costumes, com a fé, mas reconhecendo as situações de fato e enfrentando-as com bom senso.
O torniquete que se quer impor a um governo que prefere agir politicamente está viciado, representa interesses específicos que talvez não sejam o bem comum. Não é momento de aplicar teorias, mas de ter proposta para pessoas reais. Um governo necessário precisa coragem para contrariar velhos modelos.
Se ficar, por sucessão constitucional, o governo Temer tem que estar preparado para apresentar seu caminho depois de agosto. E Dilma Rousseff, em lugar de estar brincando de guerrilha, inclusive internacional, deveria debruçar-se sobre seu plano de condução do país para os dois anos finais até a próxima eleição presidencial. Senão não se sabe para quê quer voltar. Só existem os dois governos, e um é a alternativa ao outro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário