Ninguém culpa mais as vítimas do que os esquerdistas, pois, em caso
contrário, precisariam refutar a ideologia a que devotam fé. E isso eles
não admitem nem hipoteticamente.
Os esquerdistas, diferentemente do que
eles próprios apregoam, não são contrários à prática imbecil de atribuir
culpa à vítima em razão de crime por ela sofrido. Fingem ser contra
isso, mas é tudo que fazem em diversos casos. Muitos, mesmo.
Já foi dito, por exemplo, que os
bandidos assaltam por causa da ostentação alheia. Os “ostentadores”,
claro, seriam justamente as vítimas. Culpa delas. O mesmo – e
estapafúrdio – raciocínio de que a culpa de um estupro seria o uso de
saia curta. Como assim? Um relógio caro desses a essa hora da noite e
nessa rua escura? Aí pediu para ser roubado, né? Eles pensam exatamente
assim.
Também já disseram que levar objetos de
valor à praia seria idiota e quem faz isso merece mesmo sofrer arrastão.
De novo, a vítima é culpada. Ninguém manda ela ser trouxa. Aí não tem
jeito, o bandido é praticamente obrigado a roubar. Na cabeça canhota, o
crime é a regra.
E isso vale também para o terrorismo.
Quando da chacina dos jornalistas do Charlie Hebdo, a esquerda chegou a
dizer com todas as letras que eles haviam provocado. Culpa deles, ora!
Alguns ensaiaram uma mudança de viés, provavelmente alguém deu um toque,
mas está tudo registrado. O atentado, para eles, foi decorrência
natural do exagero nas piadas.
Falaram também dos ataques recentes, na
França e em todo o mundo ocidental. A culpa seria dos terroristas?
Nunca! Jamais! A França que é culpada, pois “intervém” no Oriente Médio.
O mesmo valendo para os Estados Unidos, Israel, Alemanha, enfim,
qualquer país. Praticar o terrorismo, na mentalidade esquerdista, é um
processo natural e tais práticas devem ser “compreendidas em seu
contexto”.
Outra forma de responsabilizar a vítima é
dizer que culpa de determinado crime é “da sociedade”. Ou seja, é de
todos. Em suma: quem sofreu o crime tem sua considerável parcela de
responsabilidade, pois ajuda a mover as alavancas e engrenagens deste
mundo desigual. Só o criminoso, mesmo, que nunca tem nada a ver com
isso.
E, claro, há a “culpa cultural”. É mais
ou menos parecida com a “da sociedade”, mas teria a peculiaridade de
acontecer num contexto em que tal prática seria aceitável. Mesmo sendo
expressamente condenável até entre criminosos. Mesmo não sendo praticada
nem por 0,001% da população. Nada disso importa. O chavão ideológico
sempre prevalece sobre os fatos.
Aliás, a melhor e mais eficiente forma
de tirar a responsabilidade de um criminoso é fazer com que a culpa seja
de todos. Esse é sem dúvida o maior desserviço do esquerdismo quanto ao
enfrentamento dos crimes. A postura dogmática, de não admitir a
resolução de um problema quando ela viria a atropelar suas convicções
ideológicas, faz com que neguem a própria realidade usando saídas
retóricas estapafúrdias para além de qualquer limite.
Desse modo, a esquerda não é contra
culpar a vítima. Na verdade, ela é especialista nisso. Ninguém culpa
mais as vítimas do que os esquerdistas, pois, em caso contrário,
precisariam refutar a ideologia a que devotam fé. E isso eles não
admitem nem hipoteticamente.
Em nome desse dogmatismo fundamentalista, os fatos e a verdade que se lasquem. E as vítimas, também.
Fernando Gouveia é editor e co-fundador do Implicante,
onde publica suas colunas às segundas-feiras. É advogado, pós-graduado
em Direito Empresarial e atua em comunicação online há 15 anos. Músico
amador e escritor mais amador ainda, é autor do livro de microcontos “O Autor”.
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