Desdenhar ou querer dar uma aula de sociologia em uma situação em que
um homem tenta ser cavalheiro é de um pedantismo doentio. Não seja
idiota
Há tempos o feminismo convencional tem
mirado no termo “cavalheirismo” como algo ameaçador. Já li em algum
lugar que o cavalheirismo é “o machismo envernizado”. Aparentemente, é
como se um homem que presta honrarias a uma mulher fosse uma raposa
disfarçada, esperando o melhor momento para enganar, ludibriar e se
apoderar dessa pobre mulher vítima de um macho que se ofereceu para
abrir a porta do elevador para ela. Que elas não me ouçam, mas esse é
até um comportamento inconscientemente cristão, porque o diabo sempre se
mostra sedutor e quando o incauto é seduzido pela fala mole do capiroto
todos os males lhe acontecem porque no final das contas o diabo é o
diabo. E assim tem sido visto o cavalheirismo masculino.
O que é um grande equívoco nessa
história toda, além da óbvia desumanidade em encher o saco dos caras por
nada, é que as investidas cavalheiras podem ser apenas uma tentativa de
colocar em prática o melhor da educação que esse homem em questão
recebeu da família. Famílias de rapazes simples podem apenas estar
tentando educá-los para tratar com muita polidez uma mulher. E isso é
tão bonito! Desdenhar ou querer dar uma aula de sociologia em uma
situação em que um homem tenta ser cavalheiro é de um pedantismo
doentio, reação tão infame quanto o ateu que responde “não acredito em
Deus” quando alguém lhe deseja que fique com Ele. Em ambos os casos
basta dizer “obrigado (a)”. Não seja idiota.
É comum, pelo Brasil, o conceito de que
as mulheres são mais frágeis e portanto mais suscetíveis a certas
situações que os homens. Nós somos latinos e em certo aspecto as
mulheres são mais frágeis mesmo. Pela simples diferença da compleição
física e nada mais, não há nenhuma outra teoria oculta, é coisa de
biologia. O corpo masculino tem, em geral, mais capacidade cardíaca e
pulmonar – ao menos que você seja uma atleta e tenha superado isso.
Negar que somos biologicamente diferentes é uma perda de tempo que não
leva a um lugar lúcido dessa discussão dos direitos inerentes aos
gêneros e demais questões. Homens querem proteger mulheres. Que que tem?
Isso não faz de nós seres incautos, frágeis e quase princesas
anencéfalas.
Em uma busca simples pelo significado
“cavalheirismo” se encontra apenas adjetivos que – desculpe essa frase
de ursinho carinhoso – poderiam fazer um mundo melhor: nobreza,
cortesia, gentileza. Não tem como dar errado um gesto cavalheiro que,
prestem atenção, em nenhum lugar da história da nossa civilização está
escrito que deva partir um homem para uma mulher. Já pararam pra pensar
que mulheres podem ser cavalheiras? Sim, o substantivo existe na língua
portuguesa na flexão do gênero feminino, ninguém precisou forçar a barra
como no episódio recente do uso do “presidenta” – cruz credo,
inclusive.
Toda essa desconfiança com o
cavalheirismo me faz lembrar Dom Quixote: um homem que é gentil e sua
gentileza faz dele um bobo ou um ser maligno como alguns acreditam nessa
contemporaneidade. Sabe aquele sentimento de compaixão e admiração
concomitantes? O sentimento que dá um nó na garganta como naquele filme
“O Campeão” do Franco Zefirelli em que o John Voight morre no ringue?
Porque vai haver um Dom Quixote nessa história toda, alguém simples que
acha correto o seu cavalheirismo compartilhado com homens e mulheres e
que de repente descobriu que seu jeito de ser, o que lhe ensinaram ser
certo, na verdade é errado. Independentemente do cavalheirismo, a
maldade, a grosseria e a violência vão existir. Pode reparar, a
sociedade agora deu de querer acabar com as coisas bonitas da vida.
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