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Por Carlos I. S. Azambuja
Desde os tempos antigos o Kremlin
manipula a religião de acordo com os seus próprios interesses. Os czares da
Rússia fizeram de si mesmos os líderes da Igreja Ortodoxa, a fim de instilar
obediência doméstica. Primeiro czar soviético, Vladimir Lenin, matou milhares
de padres e fechou a maioria das igrejas russas para fazer do
marxismo-leninismo a única religião do país.
Stalin, que deu continuidade a
essa violência sangrenta, transformou a nova religião de Lenin em
marxismo-leninismo-stalinismo, e a utilizou para retratar a si próprio como um
santo soviético, com o intuito de manter quieta a sua população oprimida,
esfomeada. Vinte anos após a revolução de novembro de 1917, apenas 500 igrejas
permaneciam abertas na União Soviética.
No dia 23 de agosto de 1939, o
Kremlin começou uma guerra também contra as religiões não-russas. Naquele dia,
o Ministro de Exterior soviético, Vyacheslav Molotov, e o seu equivalente
alemão, Joachim Von Ribbentrop, encontraram-se no Kremlin para assinarem o
vergonhoso Pacto Hitler-Stalin de Não-Agressão. Documentos dos arquivos alemães
afirmam que Stalin estava eufórico naquele dia. Ele disse para Ribbentrop: O
governo soviético leva este Pacto muito a sério. Posso garantir, dando a minha
palavra de honra, que a União Soviética não trairá o seu companheiro.
Havia muitas razões para a empolgação
de Stalin. Tanto ele como Hitler acreditavam na necessidade histórica de
expandir os seus territórios nacionais. Stalin chamava essa necessidade de “revolução
proletária mundial”. Hitler a denominou de Lebens-raum (espaço
vital). Ambos baseavam sua tirania em roubo. Hitler roubou a riqueza dos
judeus. Stalin roubou a riqueza da Igreja Ortodoxa e da burguesia de seu país.
Ambos odiavam a religião e substituíram pessoalmente Deus em seus cultos.
A ata secreta do Pacto Hitler-Stalin
dividia a Polônia entre os dois signatários e dava aos soviéticos liberdade
para lançar mão da Eslovênia, da Letônia, da Lituânia, da Finlândia, da
Bessarábia e da Bucóvina do Norte. A maioria desses países era católica, o que
para Stalin significava estarem subordinados a um poder estrangeiro: o
Vaticano.
Isso era inaceitável para o homem que se tornara o único deus da
União Soviética, por ordem do qual 168.300 clérigos ortodoxos russos tinham
sido presos somente durante o expurgo de 1936 a 1938, 100.00 dos quais tinham
sido mortos. A Igreja Ortodoxa Russa, que tinha mais de 55 mil paróquias em
1914, passou a ter 500.
As muitas centenas de igrejas
católicas nesses Estados Bálticos que Hitler tinha acabado de trocar com a
União Soviética, representavam uma nova ameaça à imagem de Stalin como o Papai
do país- como se chamava o czar -. Essas igrejas estavam submetidas a um outro
pai, o Papa Pio XII, e Stalin se recusava a sequer considerar que algum rival
interferisse em seu reino absoluto.
Stalin não podia destronar o Papa,
que era tido em altíssima conta e estava fora do seu alcance. Mas ele podia
varrer as igrejas católicas do mapa dos novos países bálticos, assim como
fizera com as Igrejas Ortodoxas russas.
A solução de Stalin foi despachar o
seu carrasco favorito, Andrey Vyshinsky, para sovietizar os estados islâmicos
e, no processo, destruir as suas igrejas católicas nacionais. Vyshinsky era um
velho instrumento da NKVD – polícia política da época – que operava maravilhas,
disfarçado no cargo durante a guerra de Stalin contra a Igreja Ortodoxa Russa e
durante os grandes expurgos de Stalin nos anos de 1936 a 1938, Vyshisnky sabia
o que tinha que fazer. Mais de 7 milhões de pessoas haviam sido condenadas à
morte e executadas durante os anos em que ele foi o principal promotor de
justiça de Stalin, só para garantir que o chefe fosse a única deidade da Rússia.
A Letônia foi ocupada pelo exército russo em 17 de junho de 1940 e, no dia seguinte, Vyshinsky chegou a Riga na condição de enviado especial de Stalin. Poucos dias depois de chegar a Riga, ele forçou Karlis Ulmanis, presidente da Letônia, a constituir um “governo do povo”, formado por membros que já haviam sido aprovados por Moscou. Segundo o plano de Vyshinsky, apenas dois membros do novo governo eram comunistas: o Ministro do Interior e o Chefe da Polícia Nacional.
Após ter instalado o seu governo, Vyshinsky pronunciou um discurso da sacada da embaixada soviética em Riga, garantindo à população que Moscou não tinha a mínima intenção de anexar a Letônia à União Soviética. Poucos dias depois, contudo, Vyshinsky mandou o chefe de polícia da Letônia prender o presidente Ulamanis e os principais líderes do país.
Eles foram deportados para a União Soviética com a ajuda da
polícia de segurança que Vishinsky trouxera consigo para Riga. Ele forçou o
novo “governo do povo” a marcar eleições parlamentares para dali a duas semanas
e estabeleceu seu “Bloco do Povo Trabalhador” – controlado por agentes
disfarçados da polícia política soviética – para “administrar” as eleições, com
uma lista única de candidatos.
As eleições aconteceram nos dias 14 e
15 de julho de 1940. Não havia voto secreto. Apenas a apuração dos votos era
secreta, conduzida pelo Ministério do Interior. Os resultados apontavam que
97,8% foram para os – desconhecidos – candidatos do bloco soviético. Pouco
depois disso, o recém-criado Partido Comunista da Letônia lançou o slogan “Letônia
soviética”. Falando novamente da sacada da embaixada soviética, Wyshinsky
expressou sua esperança de que o recém-eleito “Parlamento do Povo” realizasse o
desejo implícito no slogan. É óbvio que foi isso que aconteceu...
No dia 21 de julho de 1940, o
Parlamento de Wyshinsky proclamou a Letônia uma república soviética, e duas
semanas depois o Supremo Soviete de Moscou a incorporou à União Soviética. Não
demorou muito para que os padres católicos da Letônia fossem mandados para os gulagssoviéticos
e suas igrejas fossem fechadas.
Pouco tempo depois, Wyshinsky
incorporou também a Estônia e a Lituânia à União Soviética, da mesma maneira.
Toda a hierarquia católica e quase um terço da população católica daqueles dois
pequenos países foram deportados ou mortos.
Simples, assim...
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O texto acima é o resumo de um dos
capítulos do livro “Desinformação”, escrito pelo Tenente-General Ion Mihai
Pacepa – foi chefe do Serviço de Espionagem do regime comunista da Romênia.
Desertou para os EUA em julho de 1978, onde passou a escrever seus livros, narrando importantes atividades do órgão por ele chefiado, e que influenciaram diretamente alguns momentos históricos do Século XX -, e pelo professor Ronald J. Rychlak - advogado, jurista, professor de Direito Constitucional na Universidade de Mississipi, consultor permanente da Santa Sé na ONU, e autor de diversos livros -. O livro foi editado no Brasil em novembro de 2015 pela editora CEDET.
Desertou para os EUA em julho de 1978, onde passou a escrever seus livros, narrando importantes atividades do órgão por ele chefiado, e que influenciaram diretamente alguns momentos históricos do Século XX -, e pelo professor Ronald J. Rychlak - advogado, jurista, professor de Direito Constitucional na Universidade de Mississipi, consultor permanente da Santa Sé na ONU, e autor de diversos livros -. O livro foi editado no Brasil em novembro de 2015 pela editora CEDET.
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