segunda-feira, 25 de julho de 2016

“Escola Sem Partido”: entenda por que a esquerda já perdeu esse debate


Coluna do Fernando Gouveia

E pouco importa se vai ou não virar lei.
Escola sem Partido
Desde a semana passada, grupos de direita e esquerda disputam uma enquete promovida pelo site do Senado, obviamente sem qualquer valor oficial. Tal embate resulta de uma bandeira que passou a ganhar relevância mais recentemente, após uma série de campanhas organizadas e episódios bem lamentáveis de doutrinação nas salas de aula e em livros didáticos.


Em suma, virou uma causa. E a questão é exatamente essa: ao virar causa, pouco importa se haverá ou não uma lei para regular, o fundamental aí é inserir um debate até então inexistente. Sim, isso mesmo: o mesmo expediente usado pelos esquerdistas para levantar os temas de seu interesse.


Antes de tal tópico se tornar uma pauta relevante, a questão era simplesmente ignorada. E, a exemplo da ocupação das ruas, do colunismo da grande imprensa e da vendagem de livros de não-ficção, as salas de aula também eram trincheiras inexpugnáveis, hegemonicamente ocupadas pela militância canhota.


Chega a fazer parte do folclore a ideia de que os professores de determinadas matérias invariavelmente seriam defensores do socialismo e faziam tais defesas nas aulas. Também eram favas contadas os livros com lavagem cerebral e distorção dos fatos para encaixá-los na doutrina ideológica.


Com a extrema visibilidade que o tema ganhou, a coisa ficou complicada.


Autores e editoras agora sabem que serão fiscalizados quanto a isso, seja por parte de alunos, pais ou pessoas de fora das escolas. Os donos de colégio, também; e o mesmo vale para os professores. TODOS os operadores desse mecanismo tem agora plena consciência de que podem ser denunciados.


E essa é a principal e inapelável vitória, que independe da aprovação de uma lei. Caso clássico de advocacy por meio de campanha focada em mudança comportamental: um tema até então praticamente ignorado ganha relevância e passa a ser objeto de atenção/fiscalização.

Prova disso é o comportamento da militância esquerdista: primeiro ignorou, depois negou e agora passa a justificar como característica natural do ofício do magistério. Até tentaram fazer-se de bobos, mas não deu, a pauta os soterrou e tiveram de responder e reagir. Em suma: mais um ponto para a mudança comportamental.


Coisas desse tipo levam tempo e a inserção do debate é apenas o primeiro passo. O próximo será a natural adequação de colégios e chefes de departamento, seja por consequência das reclamações ou seja por medo de que algo assim prejudique a imagem do estabelecimento (ou do governo, no caso das escolas públicas).


Falta muito, é claro, e a eventual aprovação da lei evidentemente ajudará um bocado. Mas o principal é que agora existe tal debate e, com ele, existirá cobrança. Há muitos outros passos e a luta só aumentará daqui pra frente.


Mas o principal é isso: a participação de alunos e pais aumentará, com ela virão cobranças e quem usa as escolas para fazer doutrinação ideológica cedo ou tarde acabará parando, mesmo que não queira.
Portanto, se você acha que o Escola Sem Partido é apenas sobre a aprovação de uma lei, então você ainda não entendeu nada do que está acontecendo. Nem do que vai acontecer. E recomendo, afinal, a leitura da coluna do Cedê Silva, publicada na última sexta-feira.



Fernando Gouveia é editor e co-fundador do Implicante, onde publica suas colunas às segundas-feiras. É advogado, pós-graduado em Direito Empresarial e atua em comunicação online há 15 anos. Músico amador e escritor mais amador ainda, é autor do livro de microcontos “O Autor”.

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