E pouco importa se vai ou não virar lei.
Desde a semana passada, grupos de direita e esquerda disputam uma enquete promovida pelo site do Senado,
obviamente sem qualquer valor oficial. Tal embate resulta de uma
bandeira que passou a ganhar relevância mais recentemente, após uma
série de campanhas organizadas e episódios bem lamentáveis de
doutrinação nas salas de aula e em livros didáticos.
Em suma, virou uma causa. E a questão é
exatamente essa: ao virar causa, pouco importa se haverá ou não uma lei
para regular, o fundamental aí é inserir um debate até então
inexistente. Sim, isso mesmo: o mesmo expediente usado pelos
esquerdistas para levantar os temas de seu interesse.
Antes de tal tópico se tornar uma pauta
relevante, a questão era simplesmente ignorada. E, a exemplo da ocupação
das ruas, do colunismo da grande imprensa e da vendagem de livros de
não-ficção, as salas de aula também eram trincheiras inexpugnáveis,
hegemonicamente ocupadas pela militância canhota.
Chega a fazer parte do folclore a ideia
de que os professores de determinadas matérias invariavelmente seriam
defensores do socialismo e faziam tais defesas nas aulas. Também eram
favas contadas os livros com lavagem cerebral e distorção dos fatos para
encaixá-los na doutrina ideológica.
Com a extrema visibilidade que o tema ganhou, a coisa ficou complicada.
Autores e editoras agora sabem que serão
fiscalizados quanto a isso, seja por parte de alunos, pais ou pessoas
de fora das escolas. Os donos de colégio, também; e o mesmo vale para os
professores. TODOS os operadores desse mecanismo tem agora plena
consciência de que podem ser denunciados.
E essa é a principal e inapelável vitória, que independe da aprovação de uma lei. Caso clássico de advocacy
por meio de campanha focada em mudança comportamental: um tema até
então praticamente ignorado ganha relevância e passa a ser objeto de
atenção/fiscalização.
Prova disso é o comportamento da
militância esquerdista: primeiro ignorou, depois negou e agora passa a
justificar como característica natural do ofício do magistério. Até
tentaram fazer-se de bobos, mas não deu, a pauta os soterrou e tiveram
de responder e reagir. Em suma: mais um ponto para a mudança
comportamental.
Coisas desse tipo levam tempo e a inserção do debate é apenas o primeiro passo. O próximo será a natural adequação de colégios e chefes de departamento, seja por consequência das reclamações ou seja por medo de que algo assim prejudique a imagem do estabelecimento (ou do governo, no caso das escolas públicas).
Falta muito, é claro, e a eventual aprovação da lei evidentemente ajudará um bocado. Mas o principal é que agora existe tal debate e, com ele, existirá cobrança. Há muitos outros passos e a luta só aumentará daqui pra frente.
Mas o principal é isso: a participação de alunos e pais aumentará, com ela virão cobranças e quem usa as escolas para fazer doutrinação ideológica cedo ou tarde acabará parando, mesmo que não queira.
Portanto, se você acha que o Escola Sem Partido
é apenas sobre a aprovação de uma lei, então você ainda não entendeu
nada do que está acontecendo. Nem do que vai acontecer. E recomendo,
afinal, a leitura da coluna do Cedê Silva, publicada na última sexta-feira.
Fernando Gouveia é editor e co-fundador do Implicante,
onde publica suas colunas às segundas-feiras. É advogado, pós-graduado
em Direito Empresarial e atua em comunicação online há 15 anos. Músico
amador e escritor mais amador ainda, é autor do livro de microcontos “O Autor”.
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