terça-feira, 26 de julho de 2016

Sororidade não existe

Coluna da Camilla Lopes


A ideia é: já que nós duas temos “vaginas”, e somos “oprimidas pelo patriarcado”, devemos advogar uma em defesa da outra. Isso na prática funciona? Evidente que não.


Hillary Clinton - Sororidade
Você já ouviu falar em “sororidade”? Não? Bem, talvez sim, caso você tenha o hábito de andar lá pelos rincões do Facebook. Mas, se aceita minha explicação, aí vai:
Sororidade é a empatia automática que uma mulher deve ter com outra mulher independentemente de sua história pregressa e até mesmo de seu caráter. A ideia é: já que nós duas temos “vaginas”, e somos “oprimidas pelo patriarcado”, devemos advogar uma em defesa da outra.

Isso na prática funciona? Evidente que não.

Entendo como um grande erro mulheres que insistem em carregar diversos estigmas umas sobre as outras. Não adianta dizer que os estigmas não existem: está na música de uma funkeira dessas, que recentemente foi alçada ao posto nobre de ‘feminista do povão’ – é mole?

A música da funkeira diz “O meu sensor de periguete explodiu. Pega sua inveja e vai pra puta que pariu…” Que inveja? Do que ela tá falando? Que coisa mais de gente com espírito de porco.Você pode pensar: “ah a música é só uma brincadeira”. É uma brincadeira ruim, você já viu a selvageria que é quando uma mulher briga com a outra por causa de vagabundo? Vá ao Youtube e veja. Faça o search “talarica”, veja a violência que é uma briga dessas. Não há só mulheres, mas meninas se estapeando por disputa de vaidade – muitas vezes alimentada pela música da “feminista funkeira”.

Você acha tudo lindo? A funkeira é amiga dos gays? Vai vendo…

Outra que a gente pega na mentira é Hillary Clinton, que eu considero uma imoral por ter fechado os olhos e virado a cara para o boquete histórico no Salão Oval, mas ela ainda foi além: passou a vender uma almofada femininistinha durante sua atual campanha – só devemos lembrar que a mulher de Bill deixou Monica Lewinsky sair de piranha sozinha nessa história toda.

Hillary jamais teve a tal “sororidade” com Monica Lewinsky quando deveria ter. Cadê a sororidade com a estagiária que fez sexo oral no seu marido? Tem não, alguns sentimentos nossos são animalescos, principalmente aqueles que ferem nossa dignidade de fêmea. Nunca a Sra. Clinton abriu a boca para falar nada para minimamente defender Monica. Eu não me preocuparia com isso, se Hillary agora não inventasse de bancar a feminista em 2015/16, porque vivemos tempos de uma justiça social histérica e ela queria achar seu nicho e, por ser mulher, achou legal virar feminista como quando era universitária.

Ah, sabe o que eu lembrei? A Hillary tem um “projeto” para os EUA, que é muito grande e bonito para ser estragado por um boquete…
Aham.


Outro dia deu na TV que uma mãe largou um bebê recém-nascido em um córrego, para a criança morrer mesmo. E o neném morreu, de fato. Questionada, a mãe relatou que escondeu a gravidez do avô da criança que era bêbado e violento e, quando nasceu seu filho, achou que seria uma boa ideia descartar a criança no córrego, no frio, ao relento. Se você tiver um pingo de sanidade, essa história vai chocá-lo e você pensará “essa mulher deve ser presa, afinal ela é uma assassina”, certo? Errado. Aliás, se for uma adepta do feminismo contemporâneo, erradíssimo.


Uma dessas feministas, no Twitter, me disse o seguinte: “você tem que olhar com ‘sororidade’ para a mulher porque ela sofreu violência do patriarcado e por isso pirou e matou o filho”. Percebem?


O pessoal tá passando a mão na cabeça em nome da tal sororidade. Será que eu deveria ter sororidade com a Suzane Von Richstofen e com o Sandrão sua ex- namorada sequestradora de criancinha?


O feminismo da Hillary, assim como o da funkeira, vem bem a calhar quando elas precisam “humanizar” sua imagem, ainda que no passado elas próprias tenham jogado mulheres na fogueira com o que disseram, cantaram ou mesmo deixaram de fazer.


Que sororidade é essa da Hillary e da funkeira? Acredito que “sororidade” a gente deva ter com mulher que tenha bom caráter. Mas aí é respeito e isso se tem com qualquer um independentemente do sexo. Sororidade não existe.


Camilla Lopes é jornalista, trabalha há mais de 7 anos com conteúdo online. Também é orgulhosamente mãe e dona de casa. Gosta de escrever sobre a mulher na sociedade. Mantém com Sarah Bergamasco e Karina Audi a página Margaretes. Escreve no Implicante às terças-feiras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário