O avanço da negociação do empreiteiro Marcelo Odebrecht com a força-tarefa da Operação Lava Jato e a delação de Sérgio Machado fizeram crescer ainda mais dentro do PT a desesperança com a volta de Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto, mas motivaram líderes do partido a ressuscitar a tese da implosão do sistema político, que culminaria na convocação de novas eleições ou até nas discussões em torno do parlamentarismo.
Mesmo
a corrente mais fiel à presidente afastada avalia que Dilma vem
perdendo dia após a dia qualquer condição política de retomar a
liderança do País. Para esse grupo, num cenário improvável de vitória da
petista na batalha final do impeachment, ela seria obrigada pelas
circunstâncias a negociar com Michel Temer, com o PSDB e com o Supremo
Tribunal Federal uma saída para a crise.
MARCELO ODEBRECTH
Líderes
do PT e ex-ministros da petista afirmam que Marcelo Odebrecht, preso
desde o ano passado em Curitiba, deve dar detalhes e fornecer provas
sobre as contribuições do conglomerado de empresas às campanhas de Dilma
Rousseff em 2010 e em 2014 capazes de enfraquecer a tese de que ela foi
vítima de um “golpe”, hoje a principal e quase única estratégia de
defesa de Dilma e do partido.
Odebrecht,
segundo seus advogados, ainda não começou a contar tudo o que sabe aos
investigadores da Lava Jato, porém tem marcado reuniões para discutir o
que pode revelar sobre as relações da empreiteira com o mundo político.
No
caso da delação de Sérgio Machado, os petistas acham que ela fornecerá
discurso para eles insistirem na estratégia de igualar a tudo e a todos
perante a opinião pública, que hoje enxerga o PT, conforme mostram as
pesquisas, como um partido corrupto. O ex-presidente da Transpetro já
fez revelações sobre nomes importantes do PMDB e esperam-se dele
acusações (ou mesmo gravações de diálogo) que envolvam o PSDB e seus
líderes.
CAOS SOCIAL
A
tese da implosão do sistema tem também um braço operacional nos
movimentos sociais historicamente ligados ao PT. Se eles tiverem força
para manter e engrossar os protestos contra o presidente em exercício,
podem ajudar a criar na opinião pública a sensação de que o novo governo
estará inviabilizado antes da votação definitiva do impeachment no
Senado.
Tudo
isso, no entanto, reconhecem os petistas mais realistas, deverá se
transformar num devaneio se Temer melhorar as condições da economia
brasileira ou pelo menos indicar ser possível sair da crise. O
presidente em exercício corre contra o tempo.
27 de maio de 2016
Alberto BombigEstadão
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