Todos a defendem, todo mundo a quer, mas ninguém sabe dizer
objetivamente o que seria reformado. Há muito grito e pouco foco,
retrato de nosso debate político atual.
Todo mundo é a favor da “Reforma
Política”. Todos a apontam como grande solução para os problemas
estruturais do país e acreditam que sua implantação deveria ser urgente.
Ok, ok. Mas qual reforma? Pois é.
Assim como quando se fala em reformar
uma casa, a expressão permite todo tipo de mudança. Desde algumas
irrisórias, relativas à pintura, até a demolição de quartos, construção
de andares e assim por diante. Dizer-se a favor da “Reforma Política”,
sem especificar o que seria reformado, é algo um tanto bocó.
Sim, a expressão tem um efeito sonoro
interessante, e o verbo “reformar” possui valor semântico de mudança que
cai como luva nos anseios atuais. Mas, a rigor, não significa nada.
Pode ser qualquer coisa e ao mesmo tempo coisa nenhuma.
Alguns pontos da “Reforma Política”,
aliás, são opostos entre si. Parte da esquerda, por exemplo, defende a
adoção de “lista fechada” (vota-se no partido e ele escolhe quem ocupa o
parlamento). Mas muitos outros pleiteiam o voto distrital (cada
distrito/região teria um candidato à Câmara). Como reformaríamos, nesse
caso? E assim vão quase todos os tópicos.
No auge da crise, um “gif” fez sucesso
nas redes: Lula, Dilma, Aécio, Marina, Cunha, Renan com as legendas “nem
ele, nem ela, nem ele, nem ela” etc. Por fim, as frases de efeito:
“FORA TODOS! QUEREMOS A REFORMA POLÍTICA!”. Era impressionante (de forma
lamentavelmente negativa) o pessoal divulgando isso a sério, sem ser de
forma sarcástica.
Em 2013, quando as “jornadas de junho”
explodiram, e o governo e seus militantes ainda achavam possível
capitalizar com a revolta (arrogantes que eram e são, jamais suporiam – e
até hoje não aceitam – que a GRANDE MAIORIA era/é contra as pautas
esquerdistas). Mas o que fez Dilma naquele momento? Depois de longos
dias acuada, propôs medidas estapafúrdias, com especial destaque àquela
voltada ao que seria sua “Reforma Política”.
Sem medo do ridículo, defendeu a
convocação de plebiscito para uma “constituinte exclusiva” a deliberar
sobre o que seria reformado. Os petistas, com sua empáfia ignorante,
supunham eleger maioria favorável na tal assembleia e, com isso, mudar
tudo de acordo com seus interesses.
Desnecessário dizer que, após algumas
pesquisas, o próprio governo enterrou essa ideia de jerico. Motivo:
tomariam uma surra nas urnas e a tal constituinte seria muito mais
“reacionária” do que imaginavam. Tentaram usar as manifestações para
emplacar suas pautas, mas perceberam que já tinham perdido apoio
ideológico especialmente entre os jovens.
O resto é história: vaias na Copa,
panelaços, manifestações com milhões de pessoas e enfim o impeachment.
Essa ladeira, hoje praticamente no fim, começou a ser descida naquele
momento de 2013.
Não existe uma única “Reforma Política”;
cada partido defende a sua e cada militante a empurra para seu lado.
Dizer simplesmente “PRECISAMOS FAZER A REFORMA POLÍTICA!”, sejamos
francos, é ridículo já no nível em que fica difícil manter o respeito
intelectual pela pessoa.
A revolta é compreensível, mas não dá
para usar uma frase de efeito como solução de problema objetivo e
específico (assim como gritar “TEM QUE ACABAR COM TUDO ISSO QUE ESTÁ AÍ”
não costuma dar certo para acabar com nada que está aí). E é patético
que o debate pare justamente nesse ponto. Pedem a “reforma” e fim de
papo, sem nem dizer o que pretendem reformar – ou então até dizem, mas
recuam quando percebem que os eleitores não estão propriamente
favoráveis a tal causa.
E não adianta levantar falsas
esperanças: simplesmente NUNCA haverá qualquer “Reforma Política” da
forma como é proposta. Podem mudar alguma coisa aqui e ali, mas só a
perfumaria. O motivo é simples: são os próprios políticos, já eleitos,
não tem interesse em modificar as regras de um sistema que os mantem no
poder.
Mudanças desse tipo acontecem de forma
gradual, com etapas longas, pequenos passos, alguns recuos e muitas
dificuldades. Há que se ter foco e estratégia. Mas não é isso que fazem.
Vendem uma ideia genérica, com expressão que parece resolver todos os
problemas, e no fim, por óbvio, não acontece nada. Sobra discurso e
faltam ações.
Mais do mesmo. O de sempre.
Desse modo, meu humilde conselho é:
parem de falar da “Reforma Política” sem especificar as mudanças
pretendidas, como se expressão, por si, encerrasse algum significado
objetivo. Isso já seria um bom primeiro passo.
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