CORREIO BRAZILIENSE - 09/08
As Olimpíadas no Rio de Janeiro servem para desfazer a campanha internacional feita por Dilma e pelo PT de que estaria em curso um golpe de Estado no Brasil
As Olimpíadas no Rio de Janeiro servem para desfazer a campanha internacional feita por Dilma e pelo PT de que estaria em curso um golpe de Estado no Brasil
Não foi à toa que os petistas adotaram a palavra de ordem "Fora, Temer!", na qual se confundem com todos os demais adversários do presidente interino. É uma maneira de fugir à responsabilidade de defender a volta de Dilma Rousseff ao poder, uma missão impossível para a cúpula do PT, cujo único objetivo agora é se defender da Operação Lava-Jato. Mesmo a tese do "golpe de Estado" contra a presidente eleita já não tem o consenso partidário. Como caracterizar um golpe quando o presidente do Supremo Tribunal Federal(STF), Ricardo Lewandowski, notoriamente ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preside o julgamento do impeachment?
A partir de hoje, os senadores petistas - alguns dos quais também investigados na Operação Lava-Jato - , na sessão plenária do Senado Federal que decidirá julgará ou não o pedido de impeachment, já não poderão afirmar que o processo é um golpe sem também acusar Lewandowski de golpista. Ou seja, começa a cair por terra a tese de que a Constituição foi rasgada pelo Congresso. É que as regras do jogo foram estabelecidas pelo STF em julgamento no qual o Senado foi fortalecido como instância julgadora, uma vez que a Câmara, então ainda presidida pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), teve subtraído o poder de afastar a presidente da República. O processo se tornou mais demorado, mas enfraqueceu a retórica de que o processo de impeachment fora aberto como uma "vingança" de Cunha aliado à oposição.
Estranho golpe esse, sem tanques nas ruas, cassações de mandatos, fechamento de sindicados, censura à imprensa, ocupação de rádios e emissoras de tevê. Nada se parece com o golpe militar de 1964, como a presidente afastada chegou a comparar. Somente quem não viveu aqueles dias ou interpreta a história por um viés ideológico sustenta um paralelo tão fora da realidade. A propósito, a realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro serve para desfazer toda a campanha internacional feita por Dilma, por parte da diplomacia e por aliados do PT de que estaria em curso um golpe de Estado.
A proibição de manifestações de protestos nos locais de
jogos, que é usada para caracterizar um surreal processo de
fascistização do país, ao contrário do que alguns imaginam, foi
estabelecida a pedido do Comitê Olímpico Internacional pela própria
presidente Dilma Rousseff. Nada impede que os protestos contra o governo
Michel Temer sejam marcados e convocados para os locais onde
normalmente essas manifestações ocorrem.
Mas voltemos ao impeachment. Para ocorrer, o julgamento da presidente Dilma Rousseff precisa que a maioria simples dos senadores aceite o pedido aprovado pela comissão especial, nos termos do relatório do senador Antônio Anastasia. Essa votação será hoje, em sessão que servirá para uma avaliação realista da situação da presidente afastada e das dificuldades criadas pelos senadores que estão em cima do muro.
Dos 81 senadores, 39
declararam votos pelo impeachment, 18 são contrários e os demais
preferem não declarar o voto. Nos bastidores, porém, já passam de 60 os
senadores que se comprometeram com o Palácio do Planalto a aprovarem o
impeachment. São necessários 54 votos. O caso do senador Cristovam
Buarque (PPS-DF) é o mais emblemático: ele não disse que votará a favor
da cassação de Dilma, mas já deu sinais de que considera o impeachment
uma alternativa válida. O último deles foi repudiar a comparação com o
golpe de 1964.
O desafeto
A estratégia de usar a má fama de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da Câmara, para desmoralizar o impeachment também se esvai com o passar dos dias. Desde a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para presidente da Casa, sua influência diminuiu, embora ainda tenha aliados poderosos. Ontem, foi lido em plenário o pedido de sua cassação, que será publicado hoje no Diário Oficial. Abre-se, assim, o prazo de até duas sessões ordinárias (de votações ou debates) para que o processo seja incluído na pauta, com prioridade sobre outros temas.
O desafeto
A estratégia de usar a má fama de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da Câmara, para desmoralizar o impeachment também se esvai com o passar dos dias. Desde a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para presidente da Casa, sua influência diminuiu, embora ainda tenha aliados poderosos. Ontem, foi lido em plenário o pedido de sua cassação, que será publicado hoje no Diário Oficial. Abre-se, assim, o prazo de até duas sessões ordinárias (de votações ou debates) para que o processo seja incluído na pauta, com prioridade sobre outros temas.
O PT e o Psol, dilmistas, e o PSDB, o
DEM e o PPS, da antiga oposição, cobram a marcação imediata da data de
votação. A cassação é pedra cantada, até mesmo para os aliados de Cunha,
que têm medo dele se sentir traído e, por isso, denunciar a todos que
ajudou com recursos de campanha em acordo de delação premiada na
Operação Lava-Jato. Se perder o mandato, quem julgará seu caso é o juiz
Sérgio Moro, de Curitiba.
Maia argumenta que o tema é bastante polêmico e precisa ser definido por um plenário com quórum elevado.
São necessários 257 votos entre os 512 deputados em exercício para que seja determinada a perda do mandato de Cunha. O risco de não aprovarem a cassação de Cunha seria real durante as Olimpíadas do Rio, porque a opinião pública está inebriada pela festa.
Maia argumenta que o tema é bastante polêmico e precisa ser definido por um plenário com quórum elevado.
São necessários 257 votos entre os 512 deputados em exercício para que seja determinada a perda do mandato de Cunha. O risco de não aprovarem a cassação de Cunha seria real durante as Olimpíadas do Rio, porque a opinião pública está inebriada pela festa.
Mesmo assim, em votação
aberta, será muito difícil para qualquer deputado nâo comparecer à
sessão da cassação. A opinião pública considera Cunha uma espécie de
inimigo público número um. Ninguém se surpreenda se ele for cassado
antes mesmo do afastamento definitivo de Dilma Rousseff.
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