terça-feira, 28 de junho de 2016

Durante uma semana, Bolsonaro teve o mundo em suas mãos. E jogou fora…



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Jair Bolsonaro ganhou na loteria dias atrás. Foi transformado em réu pelo STF. Parecia ser um revés político, não? Nada disso. Ele ganhou a oportunidade de se transformar em um mártir na luta pela liberdade de expressão.


Isso aconteceria por que os verdadeiros defensores da liberdade de expressão compreendem o que significa a frase de Evelyn Beatrice Hall, biógrafa de Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. Até hoje a frase é falsamente atribuída a Voltaire, mas o que importa é seu significado.


De imediato, vários formadores de opinião da direita – mesmo que discordassem de Bolsonaro – saíram em seu apoio. Eu me incluo entre eles. O texto Jair Bolsonaro é vítima de fascismo censório do STF possui até o momento 25.000 curtidas. Por tê-lo escrito, fui brindado com um texto revoltadíssimo – e involuntariamente cômico – do site ultraesquerdista Congresso em Foco. Eu era apenas um dentre muitos dispostos a defender o direito de Jair Bolsonaro ter liberdade de expressão e não ser punido injustamente.


Uma análise do jornalista Denian Couto demonstra a que ponto Bolsonaro estava em vantagem:
Estava tudo pronto para começarmos um debate em favor da liberdade de expressão. Boa quantidade de autoridade moral estava disponível para os que lutassem em favor da liberdade, uma vez que trariam em mãos o caso de uma pessoa com a qual discordavam.

Pois na última quinta-feira (dia 23), Bolsonaro colocou tudo a perder, com essas frases: “Apelo humildemente aos ministros do STF que votaram para abrir o processo, não para me condenar ainda, que reflitam sobre esse caso… Foi um ato reflexo. As desculpas que eu peço são para a sociedade, que foi desinformada sobre a verdade dos fatos”.

Eu costumo discordar de Alexandre Seltz, mas nesse vídeo ele foi certeiro:
É isso. Bolsonaro “arregou”. Pediu desculpas quando na verdade seus ofensores é que deveriam clamar pela absolvição pública. Suplicou “humildemente” ao STF quando na verdade os quatro ministros fanfarrões que o transformaram em réu é que deveriam pedir perdão, e de joelhos.

Algumas pessoas disseram que Bolsonaro fez um cálculo político, dado que o STF tem o poder de condená-lo. Essa visão é equivocada, já que o STF só não irá condená-lo se tiver receio de fazê-lo, por medo da pressão popular. Mas a pressão popular só decorrerá de uma postura indignada e revoltada de Bolsonaro, e não a partir de uma arregada vergonhosa. Ao pedir “humildemente” para o STF não condená-lo, Bolsonaro subcomunicou a mensagem: “vocês não precisam mais me temer”.

Bolsonaro peidou na farofa. Com isso, desestimulou grande parte de um movimento espontâneo que poderia transformar seu caso em símbolo da luta pela liberdade de expressão. Pior ainda para o candidato: ele começou a perder apoio até mesmo de alguns de seus correligionários. Não poderíamos esperar coisa diferente. 


 Que “Bolsomito” é esse que pede “humildemente” para o STF não condená-lo?


Eu não voto em Bolsonaro, salvo em situações em que tenha que me livrar de candidatos de extrema-esquerda. Mas estava motivado a defendê-lo em uma possível cruzada a favor da liberdade de expressão. Com seu recuo imperdoável, Bolsonaro deu cabo desta batalha. Se tivermos que lutar pela liberdade de expressão – exigindo o respeito a esse valor – teremos que fazê-lo com um próximo mártir, pois agora Bolsonaro já não serve mais a esse fim. Quem “pede humildemente” algo ao STF não faz parte daqueles que exigem o respeito à livre expressão.

Bolsonaro havia ganhado na loteria ao ter transcendido a fronteira de seus apoiadores, granjeando apoio daqueles que lutariam pela liberdade de expressão. Ao arregar para o STF, ele rapidamente rasgou o bilhete premiado. Assim não há pragmatismo que aguente, certo?

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