Você é um estudante liberal em uma faculdade esquerdista. E
agora?
Não é segredo para ninguém que o pensamento de esquerda
domina o ensino superior brasileiro. De professores com claras preferências
políticas e até partidárias a chapas de DCE que sonham com os tempos da União
Soviética, parece que quanto mais de esquerda, mais legal.
Isso está mudando aos poucos. 12 anos atrás, quando eu
entrei na faculdade, só um ou outro professor tinha ouvido falar de Mises. Hoje
em dia, não há praticamente um alunoque desconheça os grandes nomes
do pensamento liberal. Talvez por isso mesmo, a pressão esteja aumentando.
Formando minhas ideias no calor de debates estudantis, com
colegas e professores, dentro e fora da sala de aula (no caso, Filosofia na
USP), aprendi muito, ganhei muita experiência e cometi muitos erros também. Por
isso, pensei nessa lista de 10 conselhos para os estudantes liberais que se
veem em meio a uma faculdade dominada pela esquerda. No final das contas, cada
um aprende mesmo por conta própria, mas se isso servir de guia geral para
alguém, já ficarei feliz.
1) Em primeiro lugar, lembre-se que
você não deve explicações a ninguém pelas crenças que defende. A esquerda
buscou monopolizar a preocupação social, mas falhou completamente em traduzir
boas intenções em melhora de vida para milhões de pessoas. Você já parte de uma
base de entendimento social e propostas políticas muito mais sólida. Colegas e
até professores têm muito a aprender com você.
2) E você tem muito a aprender com
eles. Não tem problema admitir que não sabe, reconhecer méritos em outras
visões e aceitar indicações “do outro lado”. Idealmente, você e seus colegas de
esquerda serão parceiros em uma competição honesta de adquirir conhecimento e
de melhorar o mundo.
3) Leia muito. Você nunca mais vai
ter o tempo livre que você tem nesses anos. Vá atrás dos seus interesses,
pesquise na biblioteca, discuta com seus amigos, forme suas posições sem medo
de errar. Seja no silêncio da biblioteca, no debate em sala de aula ou na mesa
do bar, suas paixões e ideias podem contagiar outras pessoas. Só não deixe que
a política fale mais alto do que as amizades.
4) Ocupe os espaços. Poucas coisas
estão tão necrosadas quanto a política estudantil. A esquerda nunca teve o
monopólio da virtude, agora perdeu também o monopólio da representação. Ninguém
mais aguenta os mesmos slogans batidos de sempre, a indignação exagerada, o
autoritarismo, para as greves que prejudicam o curso. A maioria dos estudantes
não está nem aí para a política estudantil tradicional, justamente porque não
se sentem representados. Procure outras pessoas que partilhem de suas ideias.
Participe ou inicie grupos de estudo, chapas eleitorais, sessões de cinema,
debates, festas, etc. É hora de grupos organizados com visões modernas,
liberais, propositivas, tomar a dianteira e dar uma nova cara ao movimento
estudantil, tendo como ideais uma sociedade mais próspera para todos e uma
faculdade onde todos aprendam mais.
5) Ao debater em sala de aula,
lembre-se sempre que a aula não é sua. Discussões e uma postura crítica (desde
que positiva) contribuem para melhorar a aula e aumentar o engajamento de
todos, mas você não deve monopolizar o tempo do professor em sala. Ele está ali
para trabalhar, para expor um conteúdo que ele preparou, e cabe aos alunos
respeitar isso. Discussões mais longas podem sempre ocorrer fora do horário de
aula.
6) Muitos professores são abertos a
outras perspectivas e sabem reconhecer bons argumentos mesmo quando deles
discordam. Alguns, contudo, são verdadeiros ditadores do aprendizado, e só
passam quem se curva a sua ideologia. Se, em alguma avaliação, você tiver que
escolher entre dizer o que você acredita ou repetir o que o professor quer
ouvir, não se faça de mártir: escreva o que for preciso e siga em frente. O seu
futuro vale mais do que uma resposta de prova. Exceto se você e outros
colegas enxergarem uma boa chance de virar o jogo…
7) Divergência política não precisa
virar antipatia pessoal. Muitas desavenças seriam evitadas se cada um soubesse
defender suas posições com mais serenidade e sem demonizar o outro lado. Na
hora de discutir, lembre-se de manter a cabeça fria e o bom humor; o que não
significa ser menos firme em suas posições. Reconhecer quando o outro lado tem
o argumento mais forte também não é desonra nenhuma; é só mais um incentivo
para você se aprofundar mais.
8) Nem só de discussão intelectual é
feita a sociedade humana. As pessoas, na maioria das vezes, não são movidas
apenas por argumentos. Retórica, simbologia, visões de mundo, narrativas,
estética; tudo isso é essencial para tocar o coração de qualquer pessoa. Não
negligencie esses componentes menos racionais do ser humano. Os liberais se
deram muito mal nos últimos 150 anos ao se restringirem à superioridade
argumentativa e entregar de bandeja todo o resto a seus adversários. Está na
hora de mudar isso.
9) Ideias e posicionamentos não têm
gênero, raça, credo ou orientação sexual. Não deixe que ninguém te diga o que
você pode ou não pode defender por causa de suas características físicas,
psicológicas ou comportamentais. Além de completamente irracional, essa
tentativa de intimidação é uma forma muito baixa de preconceito.
10) Mantenha sua independência. Não
é porque você não se identifica com a claque da esquerda que o “seu” grupo
sempre terá razão. Saiba julgar atitudes e posicionamentos com isenção. Parte
importante de ser um liberal é cultivar a própria individualidade em oposição à
pressão dos mais variados grupos.
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