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Por Merval Pereira
Quando, em setembro de 2015, o
Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu desmembrar a investigação da Operação
Lava Jato, retirando da jurisdição da 13ª Vara Federal do Paraná, do
juiz Sergio Moro, o processo sobre a corrupção no ministério do Planejamento,
houve comemoração nas hostes petistas. Mas houve também quem previsse que
aquela medida criaria “vários Moros” pelo Brasil.
Ontem, com mandados expedidos
pelo juiz Paulo Bueno de Azevedo, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, foram
feitas várias prisões e executados mandados de busca e apreensão em diversos
estados, atingindo inclusive dois ex-ministros dos governos petistas, Carlos
Gabas, ex-ministro da Previdência tão ligado à presidente afastada Dilma
Rousseff que a levava a passear por Brasília na garupa de uma de suas possantes
motocicletas Harley Davidson, e Paulo Bernardo, em cujo ministério do
Planejamento que chefiava foi montado um grosso esquema de corrupção, segundo
as investigações da Polícia Federal.
Com se previa, os juízes que
receberam processos derivados da Operação Lava Jato estão atuando no mesmo
diapasão da Justiça de Curitiba, a demonstrar que esse não é um padrão
exclusivo de Moro e dos Promotores de Curitiba, mas de uma nova geração de
juízes e Procuradores do Ministério Público, que se sentem moralmente
responsáveis pela continuidade de uma ação do Judiciário que tem amplo apoio da
sociedade.
No Rio de Janeiro, por exemplo, o
Juiz Marcelo Bretas, da 7 Vara Federal Criminal, conhecdo como "o Moro do
Rio", está à frente de casos do Eletrolão, que investiga a atuação do
ex-presidente da Eletrobrás, Vce-Almirante Othon Pinheiro, especialmente na
construção da usina Anga-3, e também alguns termos da delação premiada de
Nestor Cerveró sobre compras de empresas estrangeiras pela Petrobras, uma de
gás no Uruguai e outra na Argentina.
A sentença do caso de Angra-3 sai em
julho, pois semana que vem iniciam os prazos para as alegações finais das
defesas.Também está sendo investigado no Rio o ex-governador do Rio de Janeiro
Sérgio Cabral, por suspeita de ter recebido propina de empreiteiras envolvidas
nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e nas obras de
reconstrução do Maracnã para a Copa do Mundo.
O desmembramento de diversos casos só
aparentemente fragilizou a tese da Procuradoria-Geral da República de que o que
está sendo investigado é uma organização criminosa que atuou em várias
instâncias do governo federal além da Petrobras. A ação do Ministério Público
Federal e da Polícia Federal, dando apoio a diversas investigações pelo país,
garantiu que a Operação Lava Jato e suas ramificações não sofressem
descontinuidade.
Está provado que não existe apenas um
juiz no país, como ironizou o ministro do STF Dias Toffoli ao apoiar o
desmembramento da investigação sobre o esquema dos empréstimos consignados
montado no ministério do Planejamento pelo ex-ministro Paulo Bernardo. Naquela
ocasião, houve críticas à decisão de desmembrar, pois como alegou o ministro
Luis Roberto Barroso, o caso deveria ter sido definido pelo próprio juiz Moro
na primeira instância, que decidiria qual tribunal adequado para conduzir as
investigações do caso Consist.
Também o ministro Gilmar Mendes se
opôs à medida, alegando que, no afã livrar certos acusados do juiz Moro,
estavam sendo puladas etapas importantes nas decisões do Supremo. Se Moro se
afirmasse competente, e alguma parte discordasse, poderia interpor a
"exceção de incompetência", a ser julgado pelo Tribunal Regional
Federal da 4ª Região, cabendo dessa decisão o recurso especial ao STJ.
Foi o que o plenário do STF decidiu
na quarta-feira, enviando ao juiz Sérgio Moro o desmembramento do caso contra o
presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha, que decidirá se tem competência
para assumir as investigações sobre a mulher e a filha do deputado, cabendo
recurso em caso positivo.
Os desdobramentos das investigações
ligadas à Operação Lava Jato em diversos pontos do país demonstram que há uma
tendência nova no Judiciário brasileiro, o que abre caminho para uma superação
de antigos vícios e costumes políticos no país.
Merval Pereira é Jornalista e membro
das Academias Brasileiras de Letras e de Filosofia. Originalmente publicado em
O Globo em 24 de junho de 2016.
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