Sobre renúncia, Papa Emérito afirma não ter sofrido
pressões ou chantagens
por O GLOBO, COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
01/07/2016 8:40 / Atualizado 01/07/2016 13:15
O ex-papa Bento XVI renunciou ao
cargo em fevereiro de 2013 alegando motivos de saúde - VINCENZO PINTO /
AFP
CIDADE DO VATICANO — Escondido em um antigo convento nos
jardins do Vaticano, o e papa emérito Bento XVI passou os últimos anos
trabalhando no livro de memórias “The Last Conversations” ("As últimas
conversas", em tradução livre), previsto para ser lançado no dia 9 de
setembro. Nele, o ex-líder da Igreja Católica afirma não ter sofrido pressões
para renunciar, mas relata que o “lobby gay” no Vaticano tentou influenciar
decisões.
As informações foram divulgadas nesta sexta-feira pelo
diário italiano “Corriere della Sera”, que adquiriu os direitos para publicar
trechos do livro. Segundo o jornal, o papa emérito afirma ter tomado
conhecimento sobre a presença de um “lobby gay” formado por quatro ou cinco
pessoas que tentavam influenciar as decisões do Vaticano, mas ele teria
conseguido “quebrar este grupo de poder”.
A Igreja Católica mantém sua oposição a atos homossexuais.
Porém, fontes afirmam a existência da suspeita sobre a existência de muitos
gays trabalhando no Vaticano, e que eles se unem para apoiar a carreira um do
outro e influenciar as decisões burocráticas.
Bento XVI renunciou ao papado em 2013, no primeiro caso do
tipo em seis séculos, citando questões de saúde. Entretanto, a renúncia se deu
após escândalo que ficou conhecido como “Vatileaks”, no qual seu mordomo vazou
cartas pessoais do pontífice e outros documentos que indicavam a existência de
uma rede de corrupção no Vaticano. Na época, a imprensa italiana levantou a
hipótese de o vazamento ter sido comandado por adversários que queriam
pressionar pela saída de Bento XVI.
No livro, que está sendo escrito pelo biógrafo Peter
Seewald, o papa emérito nega chantagem ou pressões para sua renúncia. Contudo,
diz ter contado apenas a algumas pessoas próximas sobre a intenção de deixar o
papado, temendo que a informação vazasse antes do anúncio surpresa, feito no
dia 11 de fevereiro de 2013.
Bento XVI afirma ter tido que superar suas próprias dúvidas
sobre o efeito de sua decisão no futuro do papado. Sobre a sua escolha para o
cargo, em 2005, ele diz ter ficado “incrédulo” com o resultado do conclave para
a eleição do sucessor de João Paulo II. Sobre a escolha de Francisco para
sucedê-lo, ele diz ter ficado “surpreso”.
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