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Compartilhamentos
Se
você nunca viu pessoalmente, certamente já ouviu falar pelo menos alguma
vez a respeito. Eles entopem as redes sociais diariamente com um
vocabulário padronizado, repetindo lugares comuns e clichês
anti-científicos, preocupados com microagressões, lugares de fala e
discussões pseudosociológicas, com uma alta carga de imposição de
sugestionabilidade às suas ideias e um senso de superioridade moral
irrefreável. Sim, estou falando dos internacionalmente conhecidos social justice warriors (SJW), que aqui no Brasil você provavelmente conhece como guerreiros da justiça social.
Atuando
com uma perspectiva caricata do progressismo, de forma destemperada e
imatura, os justiceiros sociais constantemente ridicularizam discussões
sérias sobre problemas reais – como o racismo, o machismo e a homofobia –
ao transformá-las em discussões rasteiras, com um puritanismo
histriônico e apelos emocionais sem qualquer razoabilidade. Ao exagerar,
incapazes de acolher qualquer crítica e preparados para apontar o dedo à
mínima possibilidade de oposição, mais afastam do que aproximam as
pessoas das pautas que julgam defender, não raramente servindo de
palanque para políticos com bandeiras absolutamente opostas,
transformando debates importantes em meros problemas de classe média – e
criando conceitos esdrúxulos de livre expressão, categorizando quem
pode falar a respeito do quê.
O efeito
imediato? A criação de um constante clima policialesco politicamente
correto que invade diferentes áreas da atividade humana, fazendo com que
tudo seja encarado de forma entediantemente ofensiva. Quer alguns
exemplos? Fiz uma lista de situações em que o politicamente correto
passou dos limites nos últimos meses. Tem outros exemplos pra lembrar?
Seu lugar de fala está garantido na seção de comentários logo abaixo.
1. O vilão que só pode agredir personagens masculinos.
Eu poderia apostar que você leu essa notícia recentemente. Nem Apocalipse, um dos maiores vilões da história das histórias em quadrinho, com mais de cinco mil anos de idade, que já foi considerado deus por muitas civilizações, possui uma ampla gama de poderes, é imortal, um dos seres mais inteligentes do universo, já derrotou o Conde Drácula (duas vezes!) e é uma das figuras mais temidas do universo Marvel, conseguiu escapar das garras do politicamente correto. E tudo isso por conta de um cartaz onde o vilão asfixiava a personagem Mística, interpretada por Jennifer Lawrence, no último filme da franquia “X-Men”.
O burburinho começou pelas redes sociais. E então se potencializou quando a atriz Rose McGowan decidiu criticar a produção:
“F***-se essa merda. Há um imenso problema quando as pessoas da 20th Century Fox acham que violência contra mulher é a melhor forma de divulgar um filme.”
Pois
é. Toda maldade de uma das figuras mais vilanescas da série virou uma
mera questão de machismo. E o que a Fox, a responsável pelo filme, fez? Pediu desculpas, claro.
“Em nosso entusiasmo para mostrar a maldade do personagem Apocalipse, não percebemos de imediato a conotação perturbadora desta imagem”, disse o estúdio num comunicado divulgado nos Estados Unidos. “Assim que percebemos o quão indelicada ela era, rapidamente tomamos medidas para remover todo o material. Pedimos desculpas pelas nossas ações e nunca apoiaríamos a violência contra as mulheres.”
Apocalipse atravessou cinco mil anos de história para ser finalmente derrotado pelos justiceiros sociais.
2. O casal interracial racista.
Se nem as figuras mais temíveis dos quadrinhos conseguem escapar do politicamente correto, quem dirá a indústria da moda. Constantemente alvo de críticas, modelos, estilistas, donos de agência e publicitários são figuras carimbadas no universo dos justiceiros sociais. E na nova campanha da Versace, uma das maiores grifes do mundo, o combate se repetiu.
Repare na
imagem acima. O que você consegue visualizar? Na peça, uma mãe branca e
loira (a modelo Gigi Hadid, de 21 anos), caminha tranquilamente pelos
bairros de uma cidade qualquer com seus dois filhos, negros, e seu
marido, igualmente negro. Eis uma peça de publicidade inclusiva, onde
pessoas de etnias diferentes formam uma família moderna, sem
preconceitos – você deve estar pensando, certo? Repare novamente.
A imagem causou comoção nas redes sociais (sempre elas!). E o motivo? Racismo.
“Por favor, retirem esse anúncio da Versace, é constrangedor. O anúncio inteiro é focado na mãe de pele clara. Tanto as crianças como o pai olham para ela impressionados. As minorias são pouco representadas na indústria e, quando em comerciais, elas são quase SEMPRE retratadas na sombra de uma modelo de pele clara”, disse uma usuária do Instagram.
Outro usuário comentou:
“Por que há uma corrente em torno da menina negra que claramente não se mistura nessa foto bizarra?”
Talvez
porque a personagem em questão seja um bebê, que está num carrinho de
bebê, com um cinto de segurança de plástico para bebês? Será possível?
E não pense que os personagens foram os únicos problemas vistos como racistas na campanha. Há algo equivocado
também com o background. Para os justiceiros sociais, a escolha do
cenário, Chicago, não foi vista com bons olhos. E a razão: o fato da
cidade sofrer uma onda de violência que afeta, de modo especial, a
população negra.
3. O super herói que é viril demais.
Ele é o
Capitão América, um símbolo dos militares americanos e um dos maiores
super heróis de todos os tempos. Foi construído para derrotar alguns dos
vilões mais temíveis do eixo do mal graças a um soro que lhe torna
quase indestrutível ao lhe permitir atingir o ápice do condicionamento
físico humano. Mas até ele possui um ponto fraco: sua virilidade heterossexual. Essa é, ao menos, a opinião da colunista Joanna Robinson, da revista americana Vanity Fair.
Joanna diz que saiu desapontada com o terceiro filme da saga do super herói, Guerra Civil,
lançado em maio nos cinemas americanos. O motivo? Uma cena em que o
Capitão se torna nostálgico ao relembrar suas corridas atrás de rabos de
saia com seu melhor amigo, “Bucky” Barnes. Para a colunista, os
diretores entregam evidências demais de que não há um relacionamento gay
entre os amigos. E isso é um erro.
“É um momento doce e humano que os conecta, mas também é regado de virilidade heterossexual. Se a Disney não está inclinada a dar ao público um herói gay, ela não poderia pelo menos ter deixado para nós o sonho de Bucky com o Capitão?
O filme Capitão América: Guerra Civil não saiu da linha quando “definiu” o relacionamento de Bucky e Steve quando o Capitão dá um beijo em Sharon Carter (Emily VanCamp), enquanto Bucky olha de forma positiva para os dois? Onde está o espaço para a interpretação nesse momento?”
Sem
qualquer passado gay, nem qualquer indício disso, nos cinemas ou nas
histórias em quadrinhos, nem o Capitão América consegue escapar do fato
que até a sua virilidade pode ser politicamente incorreta.
4. Os estudantes que protestam contra as aulas de inglês porque há muitos poetas homens e brancos na língua inglesa.
Na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, estudantes de inglês enviaram uma petição
ao departamento do curso. O pedido é categórico: querem a retirada do
estudo dos “grandes poetas ingleses” nas matérias introdutórias que
servem de pré-requisito para outras disciplinas. A razão? O fato de que
eles são escritores brancos do sexo masculino.
“É inaceitável que um estudante de Yale que queira introduzir-se na literatura inglesa deva ler apenas autores brancos do sexo masculino”, diz a petição.
Em
Yale, os alunos têm de estudar Geoffrey Chaucer, Edmund Spenser, William
Shakespeare e John Donne no semestre do outono e, então, John Milton,
Alexander Pope, William Wordsworth e TS Eliot, no semestre da
primavera. De acordo com o texto, priorizar esses escritores cria uma
cultura “especialmente hostil aos estudantes de cor”. Com essa escolha,
apontam os alunos, a universidade não prepara seus estudantes para
fazerem estudos “de alto nível relativos à raça, sexo, sexualidade,
etnia, nacionalidade”.
Um das figuras por trás do protesto é Adriana Miele, uma estudante que em abril escreveu um artigo de opinião onde criticava
o curso porque nele os estudantes “são ensinados a analisar obras
literárias canônicas”, mas “não são ensinados a questionar por que é que
são canônicas, ou as implicações das obras canônicas que oprimem e
marginalizam as pessoas não-brancas, mulheres, trans e gay”. Para ela,
“é possível tirar uma licenciatura em língua inglesa apenas lendo
autores homens e brancos. Muitos estudantes não leem uma única autora
mulher em duas disciplinas fundamentais do curso”.
Catherine
Nicholson, a professora responsável por ensinar a matéria dos “grandes
poetas ingleses”, elogiou o questionamento dos alunos, mas defendeu que a
disciplina em si, pelo conhecimento que carrega, não é uma ferramenta
de exclusão, mas um exercício de “resistência e libertação”.
Na petição, que segundo o Yale Daily News até
o final de maio já contava com 160 assinaturas (num universo de 200
estudantes), os alunos pedem para “que os grandes poetas ingleses sejam
abolidos” do curso.
Quase cinco séculos depois de ter revolucionado a literatura ocidental, nem William Shakespeare escapa dos justiceiros sociais.
5. O país que quer mudar a letra do hino para um gênero neutro.
Uma
proposta semelhante já havia sido apresentada em 2010, mas foi rejeitada
pelos conservadores, que detinham a maioria no Parlamento.
Para o progressista Mauril Bélanger, que apresentou o projeto de lei há poucos meses, a alteração é significativa.
“Na véspera do 150º aniversário da nossa federação, é importante que um de nossos símbolos nacionais mais reconhecidos e apreciados reflita os progressos realizados pelo nosso país em termos de igualdade de gênero.”
A medida é uma vitória para os justiceiros sociais, acostumados a apontar problemas típicos de classe média com soluções pretensiosas que fingem mudar o mundo.
6. A brasileira que foi assaltada, levou um tiro e pediu desculpa aos bandidos porque eles “são vítimas” também.
Ela se
chama Mariana Däffner. É brasileira, tem 22 anos e é esgrimista, atleta
do Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo. Há poucos dias, ao estacionar
o carro da família nos arredores do bairro Menino Deus, em Porto Alegre,
Mariana foi acometida por um desses problemas que afetam milhares de
brasileiros todos os anos, entregues ao completo abandono da segurança
pública no país: um assalto.
“Eles pediram pela chave do carro e eu entrei em pânico. Não sabia o que fazer, congelei. Comecei a procurar pela chave nos bolsos, mas não a encontrava. Eles estavam armados e me ameaçavam, diziam para eu não gritar. Eu não achava a chave para entregar e comecei a gritar. Nesse momento, eles procuraram a chave, não a acharam, levaram meu celular e foram embora. Na fuga, um dos caras atirou. O tiro atravessou o meu braço e passou de raspão na minha barriga. Gritei por socorro, algumas pessoas vieram me socorrer e encontraram a chave. Estava no porta-malas mesmo.”
Após
passar por duas cirurgias, colocar uma haste e dez parafusos no braço, e
lidar com o trauma de ver a sua vida no absoluto controle de alguns
assaltantes, Mariana concedeu uma entrevista ao Zero Hora.
“Qual a sensação que fica desse episódio?
De
descrença, de não acreditar que aconteceu comigo. Só me dei conta que
havia sido assaltada e levado um tiro quando estava no carro da Brigada
Militar e olhei para a minha mão. Tento não pensar na questão da
criminalidade, da impotência e da vulnerabilidade que temos como
cidadãos. Tento pensar na sorte que tive no meio desse episódio de total
azar.
Você diria alguma coisa aos rapazes que lhe assaltaram?
Só
consigo pensar em desculpas. Eu sinto muito, porque, infelizmente, o que
aconteceu comigo é reflexo da sociedade em que vivemos.
Você gostaria de pedir desculpas a eles?
Sim.
Por quê?
Porque
assim como fui vítima, eles são vítimas de tudo que vivemos hoje. É
muito frustrante passar por uma situação como essa e ver que as pessoas
se colocam nessas posições para sobreviver.
Você não sente raiva, então.
Não.”
E o que
mais poderia sentir? No mundo orwelliano construído pelos justiceiros
sociais guerra é paz, liberdade é escravidão e ignorância é força.
7. Os alunos que pedem uma nota mínima garantida pela universidade para dedicarem mais tempo ao ativismo.
Com tanta
coisa pra ajustar no mundo, tantas causas para militar, tantas questões
para problematizar, os estudos evidentemente acabam se tornando um
grande fardo na vida dos justiceiros sociais. Simplesmente não há tempo.
Foi pensando nisso que os estudantes da Oberlin College, uma
instituição privada historicamente reconhecida como progressista, estão
assinando uma petição para proibir os seus professores de darem notas inferior a C (o equivalente a uma nota entre 6 e 7,9) aos seus alunos. A justificativa? Eles estão se atrapalhando nos estudos porque dedicam muito tempo a participar e organizar protestos.
A petição já recebeu mais de 1.300 assinaturas até o momento.
Segundo a New Yorker, Oberlin é “o centro da tempestade atual”
de ativismo em campus universitários, com os alunos fortemente
envolvidos em questões como a diversidade em sala de aula, a
desigualdade racial e a injustiça social.
No final do ano passado, a Black Student Union lançou uma lista de 50 “demandas institucionais” para a universidade, entre elas pagar $ 8,20 por hora para os estudantes negros que organizam protestos. No documento,
com 14 páginas, a organização diz que a Oberlin College “funciona nas
premissas do imperialismo, da supremacia branca, do capitalismo, do
capacitismo e do heteropatriarcado cissexista”.
A educação possui oficialmente uma nova função por lá. E ela definitivamente não é passar conhecimento adiante.
8. O aplicativo (para iPhone, claro) que divide a conta do restaurante pela “dívida histórica”. Homem branco paga mais.
Você já ouviu falar no termo dívida histórica,
não? A ideia por trás desse conceito diz que uma população do presente
deve pagar pelas injustiças que as populações do passado cometeram.
Segundo ela, todos nós estamos inseridos nessa conta. Alguns em dívida,
outros em crédito. Como estabelecer um resultado justo? Com ações afirmativas. Cotas, por exemplo. Há décadas elas vêm sendo defendidas através desse conceito.
Mas e se
tudo isso ainda for pouco? Há algo que possa ser feito em outras
situações banais, do cotidiano? Como, afinal, um justiceiro social
pode organizar o seu dia a dia a partir de critérios que equacionem a dívida histórica?
Foi
pensando nisso que foi criado o aplicativo Equitable. A ideia é
simples: dividir contas de restaurante com base no gênero e nas
diferenças salariais raciais das pessoas presentes. Se você é um homem
branco e está acompanhado de uma mulher negra, por exemplo, você já deve
imaginar as consequências do aplicativo – é melhor preparar o bolso.
Equitable fará você pagar mais no final da história. Se você é uma
mulher asiática e está acompanhado de um homem, bingo. Você se deu bem.
Ele irá pagar a maior parte por isso. O responsável por isso tudo? O
racismo e o patriarcado.
De acordo com o site do aplicativo, “Equitable
ajuda a evitar a discriminação enraizada que existe em nossa sociedade.
Ele não divide a conta igualmente – divide equitativamente. Você paga o
que deve para equilibrar as diferenças salariais.”
O
aplicativo usa os dados do Bureau of Labor Statistics para calcular quem
deve pagar o que no final do jantar, garantindo que aqueles com menos privilégios (leia-se: qualquer pessoa não-branca que não seja do sexo masculino) pague menos para comer.
A comediante americana Luna Malbroux é o cérebro por trás da ideia, que nasceu como piada e venceu o grande prêmio do 2016 Comedy Hack Day in San Francisco. O aplicativo, no entanto, foi levado a sério e desenvolvido – e você consegue baixá-lo na iTunes Store clicando aqui. Ele só serve pra quem tem iPhone, claro!
9. Os fieis católicos que estão proibidos de rezar em voz alta para não ofender refugiados muçulmanos abrigados na igreja.
É uma
cidadezinha com pouco mais de vinte mil habitantes. Fica ao noroeste da
Itália. Chama-se Ventimiglia. Nos últimos anos, passou a receber em
torno de 50 refugiados muçulmanos todos os dias, interessados em
atravessar o país para chegar à França, causando uma “situazione insostenibile”, nas palavras do prefeito da cidade. A Caritas, uma organização de caridade católica que se estende por toda Itália, acolhe diversos deles.
“Nós já substituímos o altar com duas camas. Eu acho que essa é a missa mais bonita que esta comunidade pode celebrar nestes dias”, conta o padre Rosario Francolino, de Palermo.
Nas igrejas de Ventimiglia a situação se repete. O cenário, no entanto, causa um incômodo no mínimo curioso. Como aponta a Agenzia Nazionale Stampa Associata, a principal agência de notícias da Itália, um grupo de paroquianos da Igreja de Santo Antônio,
uma das nove paróquias da cidade, se surpreendeu quando voluntários da
Caritas lhes disseram que não poderiam recitar o rosário em voz alta. O
motivo: não causar incômodo aos imigrantes muçulmanos que estão
abrigados ali. A situação atingiu o nonsense quando um padre levou
fieis que reclamavam da situação para rezarem em outro lugar.
A
bizarrice politicamente correta não é completamente nova no continente
europeu. No final do ano passado, uma igreja evangélica alemã já havia retirado
os bancos, o altar e o púlpito, bem como todos os símbolos que remetiam
ao cristianismo, para abrigar refugiados muçulmanos sem ofendê-los. A
ideia era fazê-los se sentir ainda “mais bem-vindos na nova casa”.
A próxima
etapa? Alguém pensou em converter cristãos em muçulmanos também? Não
seria nada muito absurdo frente ao novo cenário envolvendo os
refugiados. Tudo para não ofendê-los, evidentemente.
10. Esse estudo que problematiza os problemas de matemática.
Ela se chama Anita Bright. É PHD,
tem quase 20 anos de carreira e é membro do corpo docente do
Departamento de Currículo e Instrução da Portland State University, nos
Estados Unidos. Em abril, ela lançou um estudo, onde problematiza
diversos problemas de matemática. Nele, analisa provas sob a ótima dos
justiceiros sociais. Curioso pra saber como isso se dá? Saca só.
“Exemplos
de problemas matemáticos relacionados a viagens criam cenários que
demandam tempo livre e renda disponível, em geral de uma fonte
não-identificada, o que novamente representa a experiência da classe
média e a retrata como sendo normal. O problema a seguir (Maletsky, E.,
2002, p. 77b) é um exemplo típico:
“Dois
estudantes de arte estão visitando Paris. Cada um deles compra uma
entrada para o museu por $14. Cada estudante também compra um ingresso
para conhecer a Torre Eiffel por $11 e um ingresso para um passeio de
barco por $3. Quanto os estudantes gastaram no total? Explique.”
O que
pode parecer superficialmente uma visita acessível a Paris é, na
verdade, parte de um passeio por uma das cidades mais caras do mundo
para turistas (TripAdvisor, 2012). Não há menção às inúmeras despesas
adicionais envolvidas neste problemas (como passagem de avião, custo de
estadia e refeições).
Em vez disso, o problema é apresentado como se
estudantes de arte passeando por Paris fosse uma situação perfeitamente
natural. Apesar das informações que faltam ao contexto, o problema exige
que os alunos pensem sobre gasto de dinheiro, incluindo para atividades
que, se outro paradigma estivesse em ação, poderiam ser realizadas de
graça – como arte. Além disso, não há nenhuma alusão aos impactos
ambientais relacionados ao ato de viajar (viagens aéreas e o “passeio de
barco” mencionado no problema).”
E não fica apenas nisso. Quer outro problema apontado pelo estudo?
“Muitos
outros participantes também identificaram problemas que, sem fazer
menção direta, parecem aludir à raça ou maneiras racializadas de
conhecimento e existência. Um exemplo comum é representado em problemas
que focam em refeições, como este, que pode ser encontrado no livro
Algebra 1 (Larson, 2010), com as seguintes instruções e informações:
“Você
quer planejar um café-da-manhã nutritivo. É necessário que tenha 500
calorias ou mais. Certifique-se que suas escolhas ofereçam um
café-da-manhã razoável. (p.371)
Bagel branco – 195
Cereal, 1 xícara – 102
Suco de maçã, 1 copo – 123
Suco de tomate, 1 copo – 41
Ovo – 75
Leite, 1 xícara – 150”
Cereal, 1 xícara – 102
Suco de maçã, 1 copo – 123
Suco de tomate, 1 copo – 41
Ovo – 75
Leite, 1 xícara – 150”
Em
primeiro lugar, a forma como o problema está colocado sugere que um
café-da-manhã consiste de opções, e que o leitor tem escolha entre o que
selecionar para a refeição. Apesar disto poder ser a realidade para
alguns estudantes, há também muitos outros que recebem refeições
gratuitas ou com preço reduzido nas escolas e, por isso, não têm escolha
no que é servido.
Além do mais, este café-da-manhã é típico do que é
consumido em lares americanos, apesar de, como foi apontado por um
participante, ‘as pessoas realmente tomam suco de tomate no
café-da-manhã?’ Foi notado que poucas opções parecem ser integrais (com a
possível exceção do ovo e talvez do cereal). Em vez disso, a ênfase
está em comidas processadas. Além disso, o que é enfatizado no problema
não é o conteúdo nutricional, mas as calorias associadas com cada
alimento. As instruções, usando as palavras ‘nutritivo’ e ‘razoável’,
presumem alguma coletividade, acordos subentendidos do que estes termos
devem realmente significar na prática.
Finalmente, a inclusão de leite
(presume-se que seja leite de vaca) na lista de opções para um
café-da-manhã ‘nutritivo’ falha em reconhecer o fato de que a maioria da
população do planeta (~60%) é intolerante à lactose (Itan, Jones,
Ingram, Swallow, & Thomas, 2010), e são os brancos (pessoas de
descendência europeia) que primariamente são capazes de digerir leite.
Logo, ao considerar quem os autores tinham em mente quando escreveram
este item, parece que o público-alvo eram crianças brancas de classe
média.”
O mundo está ou não ficando completamente insano, afinal?
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