domingo, 12 de junho de 2016

Não se engane pela propaganda. O PT sai do poder deixando um país ainda duramente miserável.




Longe do marketing político, o Brasil permanece onde sempre esteve – ainda miseravelmente pobre, sujo e ignorante.


Talvez você não saiba disso, mas há mais de 25 milhões de brasileiros (uma Austrália) vivendo com uma renda domiciliar per capita inferior à linha de pobreza, e mais de 8 milhões (uma Suíça) vivendo abaixo da linha de extrema pobreza (ou seja, na indigência). Mais da metade das casas brasileiras vivem com até um salário mínimo. E pobreza está longe de ser o nosso único problema.




Nós ainda somos um país terrivelmente ignorante. Segundo o IBGE, 39,5% das pessoas aptas a trabalhar no Brasil não possuem sequer o ensino fundamental e mais de 13 milhões de brasileiros são incapazes de ler um texto como esse pela única razão de serem analfabetos – e se você não faz ideia do que esse número significa, imagine que se somarmos a população do Uruguai, da Nova Zelândia e da Irlanda não alcançaremos a quantidade de analfabetos que existem por aqui. É muita gente.


E ainda há os analfabetos funcionais. Segundo um estudo publicado em fevereiro pelo Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa, 27% da nossa população pertence a essa categoria. Achou o número alto? De acordo com a pesquisa, apenas 8% dos brasileiros têm condições de compreender e se expressar plenamente (isto é, são capazes de entender e elaborar textos de diferentes tipos, seguindo normas gramaticais).


E não vá pensando que a língua portuguesa é o único dos nossos problemas. Segundo um estudo da ONG Todos Pela Educação, apenas 4,9% dos estudantes da rede pública saem do ensino médio com conhecimentos básicos em matemática. Em resumo: nós ainda não sabemos nos expressar direito, nem fazermos contas básicas de aritmética.


Na média, os nossos estudantes passam menos tempo numa escola que os estudantes do Irã e da Cisjordânia e os nossos professores recebem os piores salários do mundo – na penúltima posição no ranking da OCDE (no mesmo índice nós ainda “celebramos” a mais baixa média de pessoas com ensino superior e o terceiro pior índice entre os que completam o ensino médio).


E educação é apenas uma amostra da nossa miséria. Se ela funciona muito longe do que é aceitável, com a saúde o cenário é ainda pior. Num índice elaborado pela Bloomberg que compara a expectativa de vida da população com o gasto em saúde, o Brasil está na última posição no ranking dos sistemas de saúde mais eficientes do mundo. Em geral, a nossa população sobrevive em hospitais públicos caindo aos pedaços, lidando com um número de médicos per capita muito abaixo do ideal, com falta de remédios e recursos.


Também possuímos gargalos de terceiro mundo no saneamento básico. Segundo dados do Ministério das Cidades, mais de 35 milhões de brasileiros não possuem acesso sequer ao abastecimento de água tratada. É como se houvesse um Canadá inteiro sem uma mísera torneira jorrando água dentro de casa. 


De acordo com o relatório, quase 100 milhões de brasileiros não possuem acesso nem à coleta de esgoto – e do esgoto coletado, apenas 40% é tratado. 17 milhões de pessoas (uma Holanda) não têm acesso à coleta de lixo (e nunca é demais lembrar que cada brasileiro produz, em média, 1 quilo de lixo por dia) e outras 4 milhões de pessoas (uma Croácia) não possuem sequer um banheiro em casa. Já imaginou? Eis o caos do cocô.


Também temos um déficit habitacional de 6,2 milhões de moradias (e aqui não estamos falando apenas da falta de residências, mas também de habitações em más condições), que afeta dezenas de milhões de pessoas, expostas às piores condições possíveis.


E se a infraestrutura micro é inoperante, a macro é praticamente inexistente. No índice que mede a qualidade da infraestrutura de um país, organizado pelo Fórum Econômico Mundial, nós ocupamos o vergonhoso 120º lugar em 144 posições possíveis, atrás de países como Etiópia, Suazilândia, Uganda, Camboja e Tanzânia. Só pra se ter uma ideia, dos 29.165 quilômetros de malha ferroviária que o Brasil possui, apenas um terço é produtivo. Passados quase dois séculos, o número é equivalente ao período do Império no Brasil.


Num ranking elaborado pelo IPEA a partir da análise da qualidade do setor portuário, estamos na 123ª posição entre 134 países (todos os portos brasileiros somados movimentam menos conteineres que o porto de Hamburgo, na Alemanha). Em outro ranking, o dos países mais competitivos do mundo, estamos na 75ª posição, atrás de países como Irã, Marrocos, Ruanda e Cisjordânia – segundo o Fórum Econômico Mundial porque nossos sistemas regulatório e tributário são inadequados, nossa infraestrutura é deficiente e nossa educação é de baixa qualidade.


O resultado inevitável disso tudo? Pobreza e baixa qualidade de vida. Hoje quatro trabalhadores brasileiros são necessários para atingir a mesma produtividade de um trabalhador norte-americano (em 1980, um brasileiro tinha produtividade equivalente a 40% da de um americano; hoje, ela está em 24%). Há dez anos, em média, ganhávamos 50% a mais que os chineses – hoje ganhamos 20% a menos.



E isso para não falar de segurança pública. Em 2014, nós registramos o maior número de assassinatos da nossa história: foram 59.627 homicídios. Visto de outra perspectiva, o crime mata mais no Brasil do que a guerra entre Israel e Palestina, e outros confrontos bélicos ao redor do mundo. 



Segundo o Atlas da Violência 2016, do IPEA, nós detemos o título mundial de assassinatos no planeta. Não é pouca coisa. A taxa de homicídios por aqui é quase três vezes maior daquela que a ONU classifica como ‘epidêmica’. Ou seja, nós estamos muito abaixo daquilo que já é considerado inaceitável.



Muito longe da prosperidade, Dilma encerrou 13 anos de Partido dos Trabalhadores no controle de um país que permanece duramente miserável, ignorante, sujo e violento. Apesar da propaganda oficial, num olhar distante das nossas paixões políticas sobre a realidade, o fato é que ainda estamos muito longe de mudarmos a nossa condição subdesenvolvida, apesar das tentativas de estancarem o sangue jorrado em nossas feridas com band-aids, enaltecidas pelo antigo governo.


A solução para resolver todos esses problemas? Certamente não virá da noite para o dia, como num passe de mágicas. Passará por reformas institucionais que abram o país para o comércio internacional, diminuam o inchaço da máquina pública, aumentem os investimentos em infraestrutura e ampliem os direitos de propriedade (e se você quer entender mais a respeito, dediquei quase 7 mil palavras para escrever sobre esse assunto nesse texto). 


Longe do populismo e perto dos bons incentivos econômicos.


Chegou a hora de finalmente entrarmos no século 21 e abandonarmos o marketing político como sinônimo de verdade.

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