domingo, 12 de junho de 2016

Como intervir na discussão pública (contra os petistas).

Mídia Sem Máscara.

adA actual hegemonia esquerdista é resultado de estratégia e perseverança. Décadas atrás seria inacreditável se alguém dissesse que, no futuro, as pessoas iriam ter um medo de morte do fumo passivo ou da gordura animal mas iriam achar normal o aborto ou a indefinição sexual.

Quem coloca opiniões políticas nas redes sociais já está, mesmo que não perceba, tentando fazer parte da discussão pública. Há duas maneiras de fazer isso. 




Uma é dialéctica, que não pretende ter um impacto imediato no decorrer das acções mas tenta perceber o que está acontecendo, iluminando também outros, o que acaba por influir nas acções mas apenas indirectamente e a médio/longo prazo. 


Outra forma de intervir é retórica. Mas a retórica, como mostrou Aristóteles, é uma coisa tão séria como a dialéctica e deve ser feita com método e conhecimento de causa e de circunstância. Não é apenas “fazer claque”, aplaudir para ser aplaudido, vaiar quem já está a ser vaiado e assim por diante.


Um ponto essencial na retórica é a percepção das crenças da plateia. No contexto em que vivemos, essas crenças não têm uma coerência sistémica mas são um misto de ideias socialistas, umas poucas liberais e várias outras lançadas ao público pela guerra cultural, que incluem várias mitologias sobre História, religião, ciência, etc. Fazendo apelo a estas crenças, facilmente se pode manipular o ‘pathos’ da plateia, colocando-a indignada ou amedrontada, por exemplo. Contudo, o sujeito que se diz conservador e religioso não partilha destas crenças e, assim, não pode seguir o percurso normal da retórica. 


Se ele for fazer o seu discurso como se toda a gente pensasse como ele, ninguém vai entendê-lo ou será ridicularizado por estar a negar o “óbvio”. Ele pode estar protegido disto se falar apenas para o seu grupo mas, ao receber alguns elogios virtuais, pode achar que está a tocar o “público”.



Então, resta o caminho de apelar ao ‘ethos’, à própria força de carácter. Contudo, isto já não pode ser feito mostrando bondade ou falando a verdade chapada, porque ninguém acredita mais no bem ou na verdade, e todos acham que só existem interesses, camuflagens, jogadas e assim por diante. 


A única saída é mostrar uma total falta de respeito pela discussão pública actual, pelas suas crenças e pelas reacções expectáveis do público e, ao mesmo tempo, criar uma nova discussão pública em paralelo com vista a substituir a vigente. Isto é, não fazer qualquer concessão ao modelo vigente de discussão, abordar assuntos totalmente novos ou abordar assuntos em pauta através de pontos de vista totalmente diferentes do habitual. 



Se isto for feito com persistência, ao fim de algum tempo outras pessoas irão se interessar por aquilo e mesmo apenas por “osmose” são criadas novas tendências na discussão pública e as questões passarão a ser enquadradas segundo outros critérios e conceitos. O que é necessário é um núcleo de algumas dezenas de pessoas que continuamente alimentam este novo tronco, ganhando raízes no público e secando a concorrência.


A direita parece não saber como se faz isto mas a esquerda já deu o exemplo. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, muitos celebraram a democracia liberal e o “fim do comunismo”, o tal “fim da História”. Mas o que fez o pessoal da esquerda? A esquerda mais ortodoxa, como o Partido Comunista Português, simplesmente continuou com o mesmo discurso de sempre, como se nada tivesse acontecido, ou seja, sem respeitar o novo estado da discussão pública. Muitos diziam que eles tinham sido ultrapassados pela História e que iriam desaparecer, mas conseguiram-se aguentar e passado cerca de uma década já estavam a fortalecer-se novamente e hoje são um dos partidos mais influentes em Portugal.



Outra parte da esquerda aproveitou o “fim do comunismo” para poder ter que ter um novo tipo de acção sem o risco de ser associada ao estalinismo, ao gulag e assim por diante. Na realidade, não foi um tipo de acção tão novo assim, porque recuperava trabalhos da Escola de Frankfurt, de António Gramsci e de novas formulações, como as da hegemonia e estratégia socialista por Ernesto Laclau e Chantal Mouffe. 



Estes dois últimos apresentaram o seu livro em 1985, antevendo o esgotamento do modelo soviético e procurando novas formas de alcançar poder, sejam em lugares de governo, seja através de formas distribuídas na sociedade (que se materializaram em redes de ONG, movimentos ecológicos, medicalização e jurisfacção da sociedade e assim por diante). Assim, o comunismo cuja morte tinha sido celebrada, renasceu e conseguiu implementar em plena democracia um totalitarismo quase perfeito.



A actual hegemonia esquerdista é resultado de estratégia e perseverança. Décadas atrás seria inacreditável se alguém dissesse que, no futuro, as pessoas iriam ter um medo de morte do fumo passivo ou da gordura animal mas iriam achar normal o aborto ou a indefinição sexual. Obviamente que o processo não se resumiu apenas à discussão pública, tendo sido um esforço coordenado (e que continua) de universidades, empresas de comunicação social, indústria do espetáculo e demais agentes de influência.



Não é preciso e nem é possível montar um aparato tão grande para descredibilizar isto, porque é tudo baseado na mentira e na alienação. 


O que é necessário é mostrar que não respeitamos nem tememos estas pessoas, ideias, condutas, etc. Claro que só pode fazer isto quem realmente não teme e nem respeita a retórica e o imaginário criado pela esquerda. Mas basta algumas pessoas fazerem isto sem recuar um milímetro para logo outras virem atrás. Isto não vai acabar logo com o domínio socialista da sociedade, mas basta quebrar a hegemonia para a influência ser muito menor, porque a ideia de que “não há alternativa”ou de “é o progresso” vai por água abaixo.


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