Se
Dilma não fosse tão cabeçuda, tão turrona, eu teria até um pouquinho de
pena dela. Acontece que a mulher não deixa. Ela é tão escandalosamente
tola na relação com o PT que chega a ser irritante. Vamos pensar.
Nesta sexta,
houve manifestação contra o governo Temer em quase todas as capitais do
país. A maior foi em São Paulo. Ocupou quatro quarteirões da Paulista,
numa massa rarefeita. Os organizadores anunciaram 100 mil pessoas. Bem,
com boa vontade, havia lá umas 20 mil. Os petistas não enganam nem os
próprios militantes.
E olhem que
Lula, a estrela maior, anunciou presença e, de fato, discursou. Dilma é
politicamente xucra; ele não! Atenção! O chefão do PT não gritou “Fora
Temer”. Até porque Lula tem a esperança de que o “Dentro Temer” possa
ainda beneficiá-lo. Vamos, então, pôr os pingos nos is.
Atenção! O
PT que pensa já desistiu do “Fora Temer” e não quer nem ouvir falar em
“novas eleições”. O PT que tem miolos está se preparando para 2018. Quem
é antipetista tem de se preparar é para enfrentar o partido que
raciocina, não o que rumina a derrota. Explico melhor.
A carta
O PT e os ditos movimentos sociais levaram
Dilma a se comprometer em assinar um carta que anuncia a conversão de
seu governo à esquerda caso ela sobreviva ao impeachment. Atenção! Ela
só volta à Presidência por vontade dos senadores, mas estaria assumindo
um compromisso com os esquerdistas. Resumo da ópera: só ela acredita que
essa conversão poderia levá-la de volta ao Planalto. Ao forçá-la a
fazer esse movimento, os petistas a fazem assinar a sentença de morte.
Os lunáticos
Os dilmistas — uma minoria de lunáticos no
PT — afirmam que a presidente afastada “aceitaria” (podem rir!!!)
convocar um plebiscito com vistas a novas eleições. Assim, caso fosse
reconduzida ao Palácio, aceitaria a consulta popular. Pois é… Lula já
deixou claro que não quer nem ouvir falar dessa história, num sinal de
que louco não é.
Schopenhauer
Entre quatro paredes, os petistas do
núcleo duro só não chamam Dilma de Schopenhauer… Por quê? Lula já dá de
barato que Temer ficará na Presidência até 2018 e conta com ele para
fazer o ajuste de que o país precisa. Uma eventual eleição agora o
obrigaria a disputar a Presidência. Se derrotado, seria o fim da linha.
Se vitorioso, o que é improvável, também.
O pior
Os petistas que pensam (não é o caso de
Dilma), ainda que coisas malignas, ponderam que o pior cenário para o
partido seria a volta de Dona Doida ao poder. A simples piora das
expectativas conduziria o país à ruína, sem contar que ela reassumiria
como refém dos movimentos de esquerda.
O que quer o PT?
Mas, então, o que quer o PT? Ora, manter o
país num clima de mobilização constante até 2018, jogando nas costas de
Michel Temer a responsabilidade por todos os desacertos. Pensem: por
que a CUT rejeitou a proposta de greve geral de Rui Falcão? Vagner
Freitas, o presidente da entidade, explicou: porque, até agora, o
presidente interino não tomou nenhuma medida que a central possa tachar
de “contra os trabalhadores”. De fato, o PT, hoje em dia, torce por
cortes em programas sociais porque sabe que, sem isso, fica difícil
levantar uma bandeira.
A aposta
A aposta do PT, hoje em dia, é no desgaste
de Michel Temer. O núcleo duro do partido chegou à conclusão de que
essa é a única chance de sobrevivência do partido. A volta de Dilma
corresponderia a condenar a legenda à morte.
Mas então...
Mas, então, nós, os que não somos
petistas, não deveríamos torcer por isso? Não! O Brasil é maior do que o
PT. O partido morreria, sim, mas o país, que já vive uma crise de
dimensões inéditas, tenderia à ingovernabilidade.
Dilma sabe disso?
Dilma sabe que o PT não quer a sua volta?
Ela sabe, sim, mas não se conforma. É por isso que, à diferença do que
reza a lenda, a Afastada e Lula se odeiam. Ele tem a certeza de que ela
conduziu o PT à ruína. E ela tem a certeza de que nada mais fez do que
dar sequência à obra do mestre. Quem está certo? Os dois!
Em suma…
Lula não gritou “Fora Temer” porque sabe
que a sua única chance de sobrevivência está no “Dentro Temer”. Já deu
início à campanha eleitoral. O chefe inconteste do partido que comandava
a organização criminosa que tomou conta do estado brasileiro ainda teve
a cara de pau de chamar os deputados de picaretas, relembrando frase
célebre de 1994.
Pois é…
Vinte e dois anos depois, sabemos que o partido de que ele é o líder
máximo comandou o maior assalto aos cofres públicos de que se tem
notícia.
Eis Lula, o que não é… picareta!