segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Folha de S. Paulo – A guerra acabou / Artigo / Carlos Brickmann

Folha de S. Paulo – A guerra acabou / Artigo / Carlos Brickmann É preciso pôr fim à propaganda eleitoral e trabalhar Está difícil perceber, mas a campanha eleitoral já terminou. O PT está na oposição; Bolsonaro é o presidente. Os dois lados fariam bem se, agora, se dedicassem à tarefa que os eleitores lhes indicaram. Nossa bandeira é um símbolo da pátria e não deve ser banalizada. Não façamos com nossa bandeira o que o futebol fez com nosso hino: de tão repetido, o público já não canta junto, não se emociona, nem sequer faz silêncio. Campanha é campanha, e os candidatos tentam provar que são gente como a gente. Não são: têm diferenças que nos levam a escolhê-los. O lema "um brasileiro igualzinho a você" não funcionou por esse motivo: se é para escolher alguém igualzinho a mim, voto em mim, e a eleição fica empatada. Foi bonito ver a esposa de Bolsonaro discursando em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, para os surdos? Sim --emocionante. Mas não é tema para debater dias e dias. Bolsonaro assina documentos com caneta Bic? Não tem importância: importa, isso sim, o conteúdo dos documentos. São medidas boas, corretas? Beleza --assinadas com Bic, Parker ou Montblanc. Michele tem costureira boa, não gasta com grifes? Seu marido gosta de arroz, feijão e pastel? Eu também --e daí? Isso nada diz sobre sua competência. E alguém acredita que Bolsonaro lave roupa? A propaganda (de ambos os lados) já encheu. Chega de notícias que surgem só para gerar fotos e manchetes. O governador do Rio, Wilson Witzel, disse que Bolsonaro vai propor lei que iguale terroristas e traficantes e autorize alvejá-los se portarem armas de guerra. É falso: como terrorismo não está definido em lei, não adianta igualar traficantes a terroristas. Seria preciso antes definir o crime de terrorismo e suas penas. E atirar em quem porta publicamente armas de combate não será a implantação da pena de morte, vedada por nossas leis? Por melhor que seja o governo Bolsonaro, terá oposição. Faz parte da democracia. O comunismo não deu certo em potências como União Soviética e Alemanha Oriental, mas ainda existe. No Brasil continuará havendo comunismo e comunistas, mesmo que todos os projetos do atual governo deem certo. Se o caro leitor acha absurda a sobrevivência do comunismo após a queda do Muro de Berlim, lembre-se de que há até hoje adeptos da tese de que d. Sebastião, rei de Portugal derrotado e morto em batalha na África, em 1578, na verdade não morreu e voltará em triunfo para reassumir o trono de Portugal, extinto há 108 anos. Há um filme, "A Facada no Mito", que lança dúvidas sobre o atentado a Bolsonaro. De quem é o filme? Não se sabe. Qual a produtora? Não se sabe. Há indícios de que um canal de YouTube foi criado só para divulgá-lo. E há quem o recomende. Um parlamentar quer inserir no ensino público a biografia elogiosa de um torturador, Brilhante Ustra. O que pretende, além de provar que não sabe o que é ensinar sem doutrinar? Eliminar os livros que, a seu ver, inoculam o veneno do comunismo nos estudantes, e trocá-los por outros que fazem a mesma coisa, mas louvando bárbaros do outro lado? É demais. A guerra acabou. Poupem-nos, senhores políticos. Que nos permitam um tempo de descanso de propaganda eleitoral. Vamos trabalhar --se houver suficientes empregos. E vamos viver.

O Globo – Bolsonaro é parte da ascensão de direita forte no mundo / artigo/ Merval Pereira

O Globo – Bolsonaro é parte da ascensão de direita forte no mundo / artigo/ Merval Pereira


5/01/2019

O governo Bolsonaro que ora se inicia tem proximidades ideológicas com dois movimentos internacionais que se unem em torno de ideias políticas de direita com pensamento liberal na economia. A emergência de uma direita politicamente forte no mundo, culminando em nossa região coma de Bolsonaro, leva a esquerda a perder força na América do Sul, com metade dos países sendo governados por partidos de direita, revertendo uma situação geopolítica. Há cinco anos, dos 12 países da região, só três eram governados por partidos de centro ou à direita: o Chile, de Sebastián Piñera, o Paraguai, de Federico Franco, e a Colômbia, de Juan Manuel Santos. Hoje, metade da região tem governos de centro ou centro-direita, dominando a vasta maioria da população e do PIB.

Steve Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump e ideólogo de uma direita internacional, projeta um grupo para reunir os partidos de direita ou extrema direita da Europa em torno de discussões políticas comuns. Eduardo Bolsonaro, eleito o deputado federal mais votado da história do país, pretende ser o líder intelectual da direita na região, e está em sintonia com Bannon.

Na América Latina, a Fundação Índigo, ligada ao PSL, fez recentemente uma reunião em Foz do Iguaçu com diversos representantes de partidos de direita ou centro-direita, que pretendem ser um contraponto ao Foro de São Paulo, que reúne a esquerda de vários países, criado em parceria entre Lula e Fidel Castro, e chegou a elegera maioria dos presidentes de países vizinhos. Ao mesmo tempo, a adesão do novo governo brasileiro a uma política externa alinhada aos Estados Unidos leva a uma maior aproximação com Israel. A anunciada decisão de transferira embaixada brasileira para Jerusalém, acompanhando a decisão deTrump, tema ver com o apoio que evangélicos fundamentalistas lá e cá dão aos governos Trump e Bolsonaro.

O pastor Silas Malafaia chegou a afirmar que os evangélicos apoiaram Bolsonaro sobretudo porque ele se comprometeu com o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, o que foi reafirmado por Bolsonaro ao próprio primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que permaneceu no Brasil por cinco dias. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, muito ligado a Netanyahu, foi das autoridades presentes à posse de Bolsonaro. Aluta contra a elite globalista abarca desde aposição deTrump contra a ONU e demais organismos internacionais, a movimentação na Inglaterra para o Brexit, assim como os ataques do presidente da Turquia, Recep Erdogan, e do próprio Orbán contra a União Europeia. A emergência política da direita no mundo está merecendo análises em diversos centros de estudos, e um dos especialistas na área, o professor Jonathan Weiler, da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, vê paralelos entre a vitória de Bolso n aro eaascen sã ode líderes populistas de direita que defendem as virtudes do nacionalismo e os perigos do globalismo, entre outras causas não diretamente ligadas aos problemas brasileiros, como o controle da imigração. Governos autoritários de direita surgem em países tão diversos quanto Dinamarca, Áustria, Hungria, Polônia, Guatemala e Peru. O que todos esses líderes têm em comum, diz W ei ler,éa habilidade de convencer muitas pessoasd eque om undoé um lugar perigoso, eque eles são os únicos que podem protegê-las. Oapeloàl ei eàord eme o nacionalismos ã o traços comuns a eles. Weiler divide os cidadãos em três campos de temperamento: os fixos, que têm medo de mudanças; os fluidos, mais abertos a elas, e os mistos, ambivalentes. É nesse ambiente que trabalham os líderes políticos.

O professor da Universidade da Carolina do Norte diz que classificares ses políticos simplesmente de autoritários reduza questão a fenômeno marginal, quando o comportam entoem relaçãoàr aça ei migraçãoé central na formação da opinião pública dos países. Aqui no Brasil, poderíamos fazer uma relação com os valores morais, enfrentamento da violência ou questões de gênero. E coma adesão do novo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, ao movimento anti globalista. Quando as pessoas consideram que o caos está tomando contada sociedade e as ameaças são onipresentes, pondera o professor JonathanW ei ler, tendem afazer vista grossa ao autoritarismo no interesse de impor mais ordem. Sem levarem conta que a democracia é intrinsecamente conturbada. (Amanhã, o movimento evangélico)

Metade da América do Sul tem governos de centro ou centro-direita, dominando a maioria do PIB e da população

O Estado de São Paulo – Embaixador toma posse como número 2 do Itamaraty


Por Lu Aiko Otta

Chanceler Ernesto Araújo nomeou Otávio Brandelli como secretário–geral, que ficará a cargo da máquina do ministério

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deu posse ontem ao embaixador Otávio Brandelli no posto de número 2 da pasta, o de secretário–geral. Trata–se do cargo mais elevado da casa, que é exclusivo dos diplomatas de carreira.

Em seu discurso, Araújo fez uma analogia: o presidente da República seria o arquiteto, o chanceler, o engenheiro, e o secretário–geral, o “mestre de obras” na construção de uma nova política externa para o Brasil. Ele frisou que sua gestão não se limitará a administrar a pasta, mas sim “construir algo”.

Brandelli, por sua vez, abriu seu discurso agradecendo sua “promoção” a mestre de obras. A brincadeira deixou clara a amizade entre os dois. Araújo contou que eles se tornaram amigos quando serviram em Bruxelas, nos anos 90. “Olho para o Otávio e sei o que ele está pensando, qual é o trocadilho”, disse o ministro, sorrindo. Brandelli confirmou, dizendo que a comunicação entre ambos é praticamente “telepática”.

Gaúcho como Brandelli, Araújo terminou seu discurso dizendo que será necessário abrir uma exceção ao lema proclamado pelo presidente Jair Bolsonaro em sua posse, que a bandeira verde–amarela jamais será pintada de vermelho. “Exceto se for a do Inter.”

Responsável pela administração da máquina do Itamaraty, Brandelli afirmou que dará “atenção prioritária” a um problema que aflige o corpo diplomático: o fluxo de carreira. Ele admitiu que esse problema “aflige” seus colegas e prometeu mudanças para “preservar a capacidade de recrutar e manter os melhores quadros do Brasil”.

Hoje, o Itamaraty convive com um inchaço nos níveis hierárquicos mais baixos causado pelo grande número de concursados durante a gestão de Celso Amorim, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003–2010).

O Globo – Diretor–geral da OMC defende discurso de Ernesto Araújo contra 'globalismo'


De acordo com o brasileiro Roberto Azêvedo, pronunciamento foi 'propício' e 'muito compatível' com o que ocorre no mundo

Jussara Soares

BRASÍLIA — O diretor–geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o embaixador brasileiro Roberto Azêvedo, elogiou o discurso de posse do chanceler Ernesto Araújo, que, ao assumir o Ministério das Relações Exteriores, prometeu "libertar a política externa brasileira". Segundo o diplomata, o discurso foi "propício" e "muito compatível" com tudo o que está acontecendo no mundo.

— Acho que (o discurso) foi muito propício, muito compatível com tudo o que está acontecendo — disse Azêvedo, após um encontro na tarde desta quinta–feira com o presidente Jair Bolsonaro e o chanceler no Palácio do Planalto.

Azevêdo defendeu o discurso do chanceler pregou contra o globalismo. Segundo ele, o conceito trata–se da "aceitação das regras, dos conceitos internacionais sem visão crítica" e precisa ser repensado.

— É aceitar como está. Eu entendo que temos que repensar isso (globalismo) — pontuou.

O embaixador afirmou que o Brasil não é o único a ver "deficiência" e "ineficiência" no sistema multilateral de comércio. Segundo ele, a própria OMC está passando por uma reformulação.

— A OMC está sendo reformada porque há uma percepção de vários países membros de que o sistema multilateral precisa se repensar, ele precisa ser arejado, precisa ser modificado, precisar reagir de maneira mais efetiva aos interesses dos países membros. O Brasil, acho, entende as coisas dessa forma também.

O embaixador defendeu que os acordos bilaterais, defendidos pelo governo Bolsonaro, são mais efetivos dos que o sistema multilateral.

— Eles deixaram muito claro que a ideia é usar os mecanismos internacionais, a própria OMC, de uma maneira que evidentemente sirva aos interesses brasileiros. Eu tenho dito que o caminho bilateral é importantíssimo e tem que ser trilhado.  Ele é mais rápido, é mais efetivo sobretudo nas negociações tarifárias e de acesso a mercado — disse.

O diretor–geral da OMC evitou comentar os possíveis impactos comerciais com países árabes diante da intenção do governo Bolsonaro de mudar a Embaixada Brasileira em Israel de Tel–Aviv para Jerusalém.

— Não tratamos desses assuntos. Falamos mais em contexto geral, não tratamos de temas particulares, muito menos relações bilaterais ou coisas desse tipo. Falamos mais do fato do Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, inevitavelmente terá interesses diversificados, diversos em vários mercados, em que essa complexidade do comércio exterior brasileiro tem que ser muito bem pensada, muito bem avaliada, mas não nos detivemos em nenhum tema.