terça-feira, 9 de outubro de 2018

Schüler: Eleição é a vitória do conservadorismo do brasileiro comum

Schüler: Eleição é a vitória do conservadorismo do brasileiro comum
 

"É totalmente falsa essa retórica de que estamos à beira do fascismo ou de que há riscos à democracia", diz Fernando Schüler, do Insper





08/10/2018

Para o cientista político Fernando Schüler, professor da escola de negócios Insper, o resultado do primeiro turno das eleições representa um tsunami na política tradicional brasileira. O motivo: a emergência de um conservadorismo calcado em valores arraigados no homem comum brasileiro, como o valor da meritocracia e a rejeição de ações afirmativas. Confira a entrevista de Schüler a EXAME:

Exame – Que país surge das urnas?
Schüler – 
Houve um tsunami na política tradicional brasileira. O homem comum varreu o sistema político tradicional. Os outsiders da política vieram de lugares inesperados. A população claramente rejeitou o financiamento de campanha, base de apoio dos políticos tradicionais. As redes sociais fizeram a grande estreia nas eleições brasileiras, superando o alcance de rádio e televisão neste homem comum. Foi uma eleição disruptiva, derrubando boa parte da elite política. O país sai mais dividido também do ponto de vista territorial, entre um Nordeste claramente de esquerda contra o resto do país mais conservador.

Veja também de Fernando Schuler:

Em Minas Gerais, a ida de Romeu Zema ao segundo turno, com grande expressão liberal, é uma expressão enorme dessa disrupção. A de Wilson Witzel, no Rio de Janeiro, também, pelo apoio ao conservadorismo em costumes. Temos uma nova geração de líderes, como Oriovisto Guimarães, eleito senador pelo Paraná. Será um congresso mais conservador e mais pró-mercado. É um Congresso com mais cara do Bolsonaro que do Haddad.

Exame – Quem sai vencedor dessa rodada?
Schüler – 
Certamente o conservadorismo brasileiro vai ficar muito mais estruturado depois dessa eleição. Diria que teremos em breve um grupo político bem semelhante ao que hoje representa o Partido Republicano nos Estados Unidos. Aconteceu aqui um movimento semelhante ao do Tea Party americano.

Exame – O que pensa esse conservadorismo?
Schüler – 
Expressão do pensamento do homem comum. É totalmente falsa essa retórica de que estamos à beira do fascismo ou de que há riscos à democracia. Trata-se de uma clássica incapacidade dos intelectuais de entender o homem comum. O pensamento médio da classe trabalhadora brasileira é de crença no mérito individual. Ele não gosta do politicamente correto, não gosta das ações afirmativas. Esses elementos culturais foram mais importantes que a visão pró-mercado para a vitória do conservadorismo na eleição de hoje.

Fonte: “Exame”

 



OS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA


OS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

No aniversário da Carta Magna, jurista Ives Gandra se diz contrário à ideia de uma nova Assembleia Constituinte e aponta reformas necessárias em função da democracia





05/10/2018

A Constituição brasileira de 1988 completa 30 anos neste dia cinco de outubro. É a sétima Constituição do país e representa um marco na consolidação do Estado de Direito. Neste período de corrida eleitoral, a possibilidade da convocação de uma nova Constituinte já foi citada pelos dois grupos políticos que lideram a corrida ao Palácio do Planalto. Em entrevista ao Instituto Millenium, Ives Gandra Martins, um dos juristas mais prestigiados do Brasil, falou sobre os méritos que a Carta Magna trouxe para a sociedade, e citou quais são as reformas necessárias para aprimorar ainda mais a nossa democracia. Ouça o podcast!

A Assembleia Nacional Constituinte foi instalada no começo de 1987 e formada por deputados e senadores com a missão de elaborar uma nova Constituição para o Brasil. Após quase dois anos de debates intensos, que reuniu milhares de propostas dos cidadãos, entidades representativas e dos próprios parlamentares, o texto foi promulgado como um marco do processo de redemocratização nacional, após mais de 20 anos sob o regime militar.

Para Ives Gandra, apesar das diversas correntes políticas acarretarem em um texto adiposo, com alguns dispositivos sem densidade constitucional, ele possui também muitos pontos positivos. A questão central é o equilíbrio entre os Três Poderes, que passaram a atuar de forma harmônica e independente. Cabe, portanto, ao Legislativo a criação de leis; ao Executivo a incumbência de executá-las e administrar o país; e ao Judiciário a função de um “legislador negativo”, aplicando a legislação e atribuindo ao Supremo Tribunal Federal (STF) o papel de “guardião da Constituição”. Se houver conflito, eles podem recorrer às Forças Armadas para repor a lei – e não para uma ruptura no sistema. “Os freios e contrapesos da Constituição não têm sido muito respeitados. Apesar da qualidade dos ministros do STF, há uma invasão de competência dos poderes legislativos e, como parte do Legislativo está acuado pelas denúncias e investigações, eles não têm coragem de enfrentar o Judiciário”, avaliou Ives.


O jurista é contra as propostas de favorecer o ambiente para uma nova Assembleia Constituinte no Brasil. Para ele, com o atual cenário fragmentado do Congresso, onde atuam mais de 30 partidos, não há garantias de que o novo texto possuiria mais qualidade do que o anterior. Na opinião de Ives, as propostas de uma Carta Magna escrita por “notáveis”, não eleitos pela população, é praticamente impossível, já que dificilmente deputados e senadores abririam mão de seu direito de discutir a matéria, previsto no texto de 88. A Constituição só pode ser alterada – exceto as cláusulas pétreas – por emendas submetidas a dois turnos de votação no Senado e na Câmera, e aprovadas por quórum especial de três quintos, ou seja, 60% dos parlamentares.

Aprimoramento
Ives acredita, porém, que a Carta Magna brasileira precisa passar por algumas transformações. “Uma reforma administrativa, para reduzir o nível da burocracia; uma reforma tributária, não só para simplificar a legislação, mas eventualmente reduzir a carga, como aconteceu recentemente nos Estados Unidos; uma reforma previdenciária, que se faz necessária no caminho em que nós estamos; uma reforma política evidentemente, pra reduzir o número de partidos, criar o voto distrital e passarmos a ter um país mais coerente do ponto de vista da representação política; e, por fim, uma reforma do Judiciário”.

Entre os méritos da Constituição de 88, o jurista cita também a garantia dos direitos individuais dos brasileiros. “Ela trouxe estabilidade democrática. Passamos por escândalos como mensalão e petrolão, dois impeachments de Presidentes da República, e isso representa que funcionou. Trinta anos depois, estamos em uma democracia e as instituições resistem com bastante tranquilidade”.

 

UMA DITADURA




 

UMA DITADURA






06/10/2018

As eleições para eleger o novo presidente colocam o eleitor brasileiro numa situação que nunca aconteceu antes. Eleições, normalmente, são uma das ferramentas mais importantes da democracia ─ mas na eleição deste fim de semana um dos lados tem como objetivo, caso ganhe a eleição, acabar com o regime democrático no Brasil.
 
É uma droga de democracia, como todo mundo está cansado de saber, mas por pior que seja ainda é menos ruim que uma droga de ditadura ─ e é justamente isso que o consórcio formado pelo ex-presidente Lula, o PT e sua vizinhança quer fazer no país. Não falam assim, é claro. Mas os atos concretos que prometem praticar depois de assumir o governo vão deformar de tal maneira o poder público, os direitos individuais e a máquina do Estado que o resultado prático vai ser a construção de um regime de força no Brasil.

 
Não se trata apenas, como já aconteceu tantas outras vezes, de eleger um presidente ruim. O problema, agora, é que um dos possíveis finalistas, pelo que dizem há meses as “pesquisas de opinião”, tem um projeto público de ditadura para o país.


Acabar com o Poder Judiciário, por exemplo, anulando o seu tribunal mais elevado e interferindo nas decisões dos juízes e desembargadores ─ isso é ou não é uma providência básica que toda ditadura, sem exceção, julga indispensável tomar? Sim, é.
 
Então: o candidato a presidente do PT promete que se for eleito vai criar um negócio chamado “controle social na administração da Justiça”. Isso quer dizer que as sentenças dos magistrados estarão sujeitas, no mundo real, a comitês externos ao Poder Judiciário, com membros nomeados pelo governo.
 
Promete-se, também, “repensar” os conselhos nacionais da Justiça e do Ministério Público. Todo mundo sabe muito bem o que significa “repensar” alguma coisa neste país ─ é virar a mesa. No caso, querem criar “ouvidorias”, compostas por pessoas que representem a “sociedade”, para vigiar juízes e MP. Querem, também, criar algum sistema de cotas para a escolha de juízes, de forma a “favorecer o ingresso e ascensão” de “todos os segmentos da população” nas carreiras do Judiciário, sobretudo as “vítimas históricas de desigualdades”.
 
A coisa vai por aí afora, de mal a pior, mas o ex-deputado José Dirceu achou uma boa ideia acrescentar um plus a mais: segundo disse, deveriam ser tirados “todos os poderes do Supremo Tribunal Federal”. Segundo o pensador-chefe do PT, o “Judiciário não é um poder da República”.
 
Quem manda, diz ele, é o povo, através do voto. Além do mais, afirmou, o que interessa é “tomar o poder”. Eleição é outra coisa.

O futuro governo Lula também promete criar oficialmente a censura à imprensa no Brasil. (Isso mesmo, governo Lula: o ex-presidente está na cadeia, condenado como ladrão em primeira e segunda instâncias, mas toda a estratégia do PT é provar que quem vai mandar de verdade no país é ele, e não seu preposto nas eleições.) Como acontece em relação à democracia, não se utiliza a palavra “censura”, assim abertamente; o que anunciam é o “controle social dos meios de comunicação”. É exatamente a mesma coisa. Esse “controle” não vai ser exercido pelo Espírito Santo.
 
Quem vai “controlar” são pessoas de carne e osso nomeadas pelo governo, e “controlar” significa decidir o que a mídia pode ou não pode publicar. Isso é censura ─ e o resto é conversa, sobretudo os desmentidos de que haverá censura. A partir daí, só fica pior. Falam em “fortalecer” a prodigiosa TV Brasil, que eles mesmos inventaram, consegue gastar 1 bilhão de reais por ano de dinheiro publico e até hoje tem audiência próxima ao zero. Falam em dar concessões de tevês e de rádios para sindicatos, “coletivos” e “movimentos sociais” ─ e mais do mesmo.


O projeto do PT inclui também uma “Assembleia Constituinte” paralela ao Congresso, como se fez na Venezuela, para criar um novo regime político e social no país. O que será isso? Nada fica dito em português claro, mas nem é preciso ─ basta ouvir o que dizem todos os dias as lideranças do partido.
 
Propõe-se orientação “política” para o ensino básico, a parceria com governos criminosos, como os da Venezuela e Nicarágua, e com ditaduras africanas, e um governo dos “povos do campo, das águas e das florestas”, seja lá isso o que for.
Mais que tudo, a candidatura do PT quer a volta dos governos Lula-Dilma ─ que acabam de ser acusados pelo ex-ministro Antonio Palocci de gastarem 800 milhões de reais em dinheiro basicamente sujo para se manter no poder na última campanha presidencial.
 
Francamente, não é preciso mais nada.

Fonte: “Veja”, 05/10/2018
 



“A honestidade deixou de ser premissa e passou a ser diferencial”

“A honestidade deixou de ser premissa e passou a ser diferencial”

CEO do Ideia Big Data, Maurício Moura comenta pesquisa que aponta honestidade como prioridade para o eleitorado brasileiro em 2018


Os brasileiros não acreditam em seus representantes no Congresso Nacional. É o que aponta uma pesquisa realizada pela Ideia Big Data para o Brazil Institute do Wilson Center, nos EUA.


Com o objetivo de avaliar a relação entre o poder Legislativo e o cidadão brasileiro, o levantamento revela que 72% do eleitorado tem a honestidade como referência na hora de votar em seus candidatos às vagas de deputado e senador.

Deste percentual, 38% definiram que o requisito mais importante para o seu voto é a honestidade ou o fato do candidato não ser corrupto; 13% indicaram a transparência; 11% destacaram a importância do candidato não estar envolvido com as acusações da Operação Lava-Jato e, para 10%, o candidato deve ser novo ou fora da política.


Veja maisMaurício Moura: “Em 2018, candidatos dependerão do Big Data para achar eleitores”
Em entrevista ao Instituto Millenium, o especialista e CEO da Ideia Big Data, Maurício Moura, analisa três argumentos importantes evidenciados pela pesquisa. Ouça abaixo!





1) O peso da honestidade
Diferentemente da eleição de 2014, a honestidade deixou de ser apenas uma premissa e hoje ocupa uma posição importante para os eleitores, explica Moura: “A pesquisa destaca que a honestidade é muito mais importante do que a proposta, experiência, ou o fato do político estar preparado ou não”.


2) Congresso em baixa
A pesquisa revelou que 84% discordam da frase “o Congresso representa o povo brasileiro”. O CEO explica que esse é um fenômeno global, porém, no Brasil, este índice representa um nível muito alto de insatisfação dos brasileiros com a política.


3) A falta de memória
No Brasil, 79% dos eleitores não lembram em quem votaram nas últimas eleições, aponta o levantamento. Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, um grande percentual da população não sente a representação dos candidatos, mas lembra de seus escolhidos. Maurício aconselha: “Se o povo quiser sentir maior representatividade em 2019, deve analisar com mais critério e calma em quem votar como deputado”.

"Renovação dos integrantes dos quadros políticos neste domingo foi claramente um grito de independência", analisa a CEO do Imil

Coragem de ser brasileiro

"Renovação dos integrantes dos quadros políticos neste domingo foi claramente um grito de independência", analisa a CEO do Imil


Muitos analistas acreditavam haver um processo de perda de contato da sociedade com as instituições e os políticos no Brasil. O número impactante de eleitores representando a classe média que acordou neste domingo, porém, mostrou seu relacionamento com a democracia numa votação reveladora.
A população está mais consciente? Ela está mais informada? Eu acho que não. No entanto, o voto contra o roubo de impostos, contra a eliminação de empregos por intervenção estatal e contra a corrupção política que interrompe investimentos básicos no Brasil, levou o eleitor a optar por renovação. Os eleitores cansaram de ser usados como peças de xadrez no “eles” contra “nós”. A renovação dos integrantes dos quadros políticos neste domingo foi claramente um grito de independência.

Independência e coragem mostradas por economistas renomados que se candidataram e assessoram candidatos. Coragem de empresários que poderiam sair do Brasil, mas preferiram apostar na renovação da política com suas próprias candidaturas e movimentos democráticos sociais.
Parabéns a esses novos políticos que ontem foram premiados com votos da classe média cansada de promessas impossíveis.

Leia mais de Priscila Pereira Pinto

De olho no presidente
“Eu me vejo”: o slogan do eleitor consciente
“O terceiro setor virou referência para os candidatos”

Os bravos colocaram seus trabalhos e famílias de lado para concorrer ao governo dos estados, às assembleias estaduais, ao Congresso Nacional e à Presidência. Pessoas que entendem o processo cíclico da política, que é muito simples: testamos através da eleição a competência de um representante, e se o eleito falhar não é reeleito.
O Brasil ignorou este processo natural da democracia até o governo Dilma. Nas escolas e na mídia ouvimos que somos vítimas de lideranças ricas e dominadoras na política, fazendo-nos pensar que votar não faria diferença e que entrar para a política é bobagem. Provamos o contrário ontem no Legislativo!
Democracia funciona.
Esses bravos e corajosos que entraram terão que redefinir discussões profundas em torno do que a sociedade quer do Estado. Está claro que o Estado é incapaz de ser o provedor de tudo. O cidadão tem que aprender a se defender com inovação, empreendedorismo, pesquisa e cobrando do setor privado.
Ontem eu percebi que as pessoas entendem que a obrigação do cidadão é muito maior que o voto. A eleição não acaba depois das urnas. É preciso que o cidadão seja um fiscal atento de quem elegeu. A transparência da sociedade atual nos obrigou a olhar para onde vamos e trabalhar para o que queremos. O terceiro setor colocou conteúdo apartidário à disposição de todos, e agora o Brasil estará de cara nova. A coragem voltou.

DO PEDALINHO AO VIADUTO (Otimo!)


DO PEDALINHO AO VIADUTO




19/01/2018

O viaduto Dona Marisa Letícia leva ao paraíso. Não o bairro paulistano, mas o nirvana mesmo. O lugar onde não há culpa, só prazer. Exemplo: o contribuinte brasileiro (você) está pagando US$ 3 bilhões aos americanos pelo assalto de Lula à Petrobras. Enquanto isso, o próprio Lula é convidado para uma animada partida de futebol com Chico Buarque – uma espécie de celebração à delinquência, provando de uma vez por todas que o crime compensa, se tiver a embalagem certa. A única injustiça é você pagar e não ser convidado para jogar também.

Aí a maior cidade da América Latina inaugura uma obra viária com o nome da recém-falecida esposa do maior assaltante da história nacional. Criminoso este já condenado e, agora, em vias de ser preso. Detalhe: a própria homenageada, antes de falecer, estava sendo investigada como cúmplice do marido em seus crimes de corrupção passiva – sendo os mais visíveis deles o do tríplex em Guarujá e o do sítio em Atibaia, aquele que tinha os pedalinhos personalizados “Lula & Marisa”. Os autores da homenagem devem ter imaginado que quem já batizou pedalinho pode batizar viaduto sem problema nenhum.

É disso que o Brasil está brincando nos dias de hoje: passar a mão na cabeça de bandido simpático para ver se salva a lenda populista. Está dando certo. Existe por exemplo uma horda de indignados com o desabafo comovente do mesmo Chico Buarque, dando conta de que não consegue mais andar nas ruas do Leblon sem ouvir o bordão “vai pra Cuba, viado”. É mesmo uma grosseria. Resta saber onde estariam os grossos se o cantor não tivesse virado marqueteiro de bandido. Possivelmente estivessem remoendo em silêncio a sua grossa insignificância.


É um enigma insondável essa compulsão de alguns grandes artistas por causas vagabundas. Em Hollywood há uma penca de estrelas, também de inegável talento, comprometidas com a ditadura sanguinária da Venezuela – todos fingindo que o chavismo é a redenção dos pobres do Terceiro Mundo. Assim como os falsos heróis brasileiros, são personalidades que não precisariam dessas lendas fajutas, por já serem, eles mesmos, figuras lendárias (graças à sua própria obra). Ou seja: renunciam à grandeza para besuntar a reputação de verniz falso. Poderia ser altamente pedagógico se, entre um e outro “vai pra Cuba, viado”, surgisse um “se olha no espelho, querido”.

Enquanto houver gente para propor e para tolerar um viaduto homenageando a primeira-dama do petrolão, esse espelho vai sempre refletir um líder revolucionário em lugar do oportunista melancólico. E esse oportunismo faz escola. Entre os candidatos a reabilitar o PT do maior assalto da história estão também procuradores, juízes e outros fascinados com os ganhos fáceis proporcionados pelo tal verniz de esquerda – cuja falsidade se constata num simples olhar para Lula ou Maduro: picaretagem não tem lado, muito menos ideologia.

Rodrigo Janot, de triste memória, está sendo convocado pela Polícia Federal para depor sobre a farsa da delação de Joesley – na verdade uma conspiração tosca para tentar devolver o poder aos companheiros. Entre os cúmplices da malandragem malsucedida estão ministros do STF como Edson Fachin, hoje também conhecido como Edson Facinho, dada a celeridade sem precedentes com que homologou o truque mambembe – contando com a altiva cobertura da companheira presidenta da Corte. Aí você fica sabendo que as provas de Mônica Moura (alguém se lembra dela?) contra Lula e Dilma ficaram sete meses paradas no Supremo – e constata até que ponto pode chegar o altruísmo para com os protagonistas da lenda.

Personagens soltinhos da silva como Dirceu, Dilma e agora até o lendário mensaleiro Pizzolato (obrigado, companheiro Barroso) estão conspirando à vontade e falando pelos cotovelos, com o caixa cheio para promover suas micaretas revolucionárias. Enquanto isso, os outrora diligentes investigadores da Lava Jato – destaque cheio de purpurina para o mosqueteiro Dartagnol Foratemer – estão fazendo comício no Twitter e cuidando, também eles, de se besuntar da lenda salvacionista à prova de espelho.

Ou o Brasil sobe o viaduto das panelas acelerando para ver se chega ao paraíso ou mostra com todas as letras que futebol de bandido é no presídio.

Fonte: “Época”, 18/01/2018

 

Jornalista e escritor brasileiro, Guilherme Fiuza mantém uma coluna sobre política na revista "Época" e escreve para o jornal "O Globo". É co-autor da minissérie "O brado retumbante", exibida em 2012 pela TV Globo, e assina o livro "Meu nome não é Johnny" cuja adaptação ao cinema rendeu ao escritor o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro na categoria Melhor Roteiro Adaptado. Além deste, Fiuza escreveu "3.000 dias no bunker", "Amazônia, 20º andar", “Bussunda - A vida do Casseta” e "Giane — Vida, arte e luta". (Foto: Leo Aversa)

 

Financial Times (Reino Unido) – Brazil's presidential candidates eye shift to centre in bid for votes

Financial Times (Reino Unido) – Brazil's presidential candidates eye shift to centre in bid for votes

 
When far-right presidential candidate Jair Bolsonaro voted in the first round of Brazil's elections on Sunday, the ex-paratrooper gave a simple thumbs up to the gathered cameras instead of his trademark finger guns.
 
For a congressman who has spent his career advocating a shoot-first policy against criminals and yearning for Brazil's former military dictatorship, analysts said the change of campaign gesture represented the start of a shift to the centre.
 
Mr Bolsonaro underlined the message later in the day, with a victory speech that lacked his usual vitriol. He won the first round with 46 per cent of votes compared with 29 per cent for his main rival, Fernando Haddad of the leftist Workers' party, or PT, just short of the simple majority needed for an outright first round win.
 
"There remains for us only two paths — the one of prosperity, of liberty, of family, of those who are on the side of God . . . and, on the other side, [the path] of Venezuela," Mr Bolsonaro said in his victory speech on YouTube.
 
As Brazil braces for the second round of the election on October 28, Latin America's largest country stands at one of its most important crossroads since it returned to democracy from authoritarian rule in the mid-1980s.
 
Once on the fringes of Brazilian politics for his disparaging remarks against women, homosexuals and blacks, as well as his admiration for known torturers during the dictatorship, Mr Bolsonaro is the first far rightwing politician with a real chance of ruling the country in more than 30 years.
 
He has sold himself as an "outsider" in spite of having served 27 years in congress. He has campaigned on traditional "family" values, capitalising on popular discontent with establishment political parties such as the PT and its rival, the centrist Brazilian Social Democracy party, which are tainted by sweeping corruption investigations and the country's worst recession in history. And, taking a page from the playbook of US President Donald Trump, he has used social media to bypass Brazil's traditionally dominant television news outlets.
 
"We lament that a part of the Brazilian press doesn't open its eyes, what do they expect [to gain] with the ascension or the return of the PT to power?" said Mr Bolsonaro.
 
However, Thiago de Aragão, partner at Arko Advice, a political risk consultancy, also believes that Mr Bolsonaro's campaign benefited from unexpected events, including being stabbed in September. The incident left him seriously injured and hospitalised for days. But despite being off the campaign trail, the stabbing won him blanket television coverage and attention on social media.
 
Deep dissatisfaction with the PT also helped. Mr Bolonaro won in every state except in the poor north-east, which remains loyal to the party's founder, former president Luiz Inácio Lula da Silva who is in jail for corruption. Mr Lula da Silva is revered among low-income earners for the social welfare programmes he introduced while president between 2003 and 2010.
 
"The growth of Bolsonaro is a due to a range of factors including his symbolism as an anti-establishment individual. It also represents the end of the PT era," said Mr Aragão.
 
For the PT's Mr Haddad, the challenge will be to move to the centre if he wants to win, according to analysts.
 
The lawyer, economist and philosopher can expect to receive many of the votes of Ciro Gomes, another leftist politician who won 12.5 per cent in the election, plus about 1.5 per cent from other candidates.
 
But voters who backed centre-right candidates, such as former São Paulo governor Geraldo Alckmin of the PSDB, whose once dominant party was all but destroyed in the first round, are more likely to go to Mr Bolsonaro. To win over some of these voters — plus the near 30 per cent of the electorate who were absent or voted null or blank — Mr Haddad will need to distance himself from Mr Lula da Silva.
 
"The big question now is whether Haddad can somehow move to the centre and convince moderates that he is his own man, rather than Lula's puppet. Easier said than done," said Oliver Stuenkel, assistant professor of international relations at the Getulio Vargas Foundation in São Paulo.
 
The other task for Mr Haddad is to win over the markets. Mr Bolsonaro delivered his first-round victory speech flanked by economic adviser, a University of Chicago-trained economist, who has helped lend credibility to his promises of liberal reforms to rein in Brazil's oversized state and budget deficits.
 
Mr Haddad, on the other hand, has scared markets with pledges to use state spending to stimulate consumption — the problem that many believe helped cause Brazil's recession in the first place.
 
Marcos Casarin, of Oxford Economics, said the PT leader needed to move to the centre quickly on economic policy. "If they don't come up with an announcement of a market-friendly finance minister in the next few days, I think they are going to lose precious time," he said.

Le Figaro (França) – Au Brésil, une élection sous le signe de la colère

Le Figaro (França) – Au Brésil, une élection sous le signe de la colère

 
Michel Leclercq
 
AMÉRIQUE LATINE Où est passée l’alegria, la joie de vivre légendaire des Brésiliens ? Le mot du jour serait plutôt colère . Contre les politiques, la corruption, la violence . Les uns envers les autres. La campagne électorale s’achève ce samedi, veille du premier tour de l’élection présidentielle. Elle a été polarisée et violente comme rarement dans l’histoire de ce pays où la démocratie n’a repris ses droits qu’en 1985 après 21 ans de dictature militaire. Certains craignent un retour de ces années sombres en cas de victoire de Jair Bolsonaro, un capitaine de réserve de 63 ans, nostalgique du régime des généraux.
 
Le « Capitao » n’a cessé, ces derniers jours, de grimper dans les sondages, en dépit de son étiquette de sexiste, homophobe et raciste. Il est le grand favori du premier tour avec 35 % des intentions de vote, treize points de plus que Fernando Haddad, l’héritier de Lula. Dans les projections de second tour, les deux hommes sont à égalité, annonçant une lutte serrée pour la présidence de ce pays de 200 millions d’habitants, grand comme 15 fois la France et huitième économie mondiale. Les candidats modérés, tels Ciro Gomes de centre gauche, Geraldo Alckmin de centre droit ou l’écologiste Marina Silva, apparaissent laminés.
 
Les deux favoris sont aussi ceux qui cristallisent le plus fort rejet. Les femmes ont été aux avant-postes de la mobilisation contre Jair Bolsonaro, dans un pays où les violences contre les femmes atteignent des niveaux records. Elles étaient plusieurs centaines de milliers samedi dernier dans les rues du Brésil avec le mot d’ordre : #EleNao (Lui Non).
 
Personnalités aux extrêmes
Fernando Haddad, 55 ans, s’il est un universitaire jugé modéré au sein du Parti des travailleurs (PT), représente un parti marqué par la corruption et une politique économique désastreuse qui a conduit le pays à une récession historique et à 13 millions de chômeurs. « Si vous voulez voir l’avenir du Brésil avec le PT, regardez le Venezuela », disent les partisans de Bolsonaro . Le parti de Lula réplique : « C’est une lutte de la démocratie contre la barbarie. » Pour éviter ce face-à-face entre le PT et l’extrême droite, une pétition sur Internet a demandé à Ciro Gomes, Geraldo Alckmin et Marina Silva de s’unir, dans une infructueuse tentative de dernière minute.
 
Deux personnalités aux extrêmes, Jair Bolsonaro et Luiz Inacio Lula da Silva, ont marqué la campagne. Avec pour seul point commun d’avoir polarisé l’électorat sans avoir mis les pieds sur le terrain. Le « Capitao » parce qu’il a été poignardé par un illuminé en pleine réunion électorale, le contraignant à rester alité trois semaines dans un hôpital de Sao Paulo, un attentat manqué qui a renforcé son image de « victime ». Lula, parce qu’il purge une peine de douze ans de prison pour corruption à Curitiba, dans le Sud . Déclaré inéligible après des mois de guérilla judiciaire, l’ancien leader syndical s’est résolu mi-septembre à passer le témoin à Fernando Haddad . Mais, depuis sa cellule, il a gardé la main sur la campagne de son dauphin. Peu connu, cet ancien maire de Sao Paulo a basé toute sa stratégie sur un simple slogan : « Lula, c’est Haddad, Haddad c’est Lula ». Car, en dépit de toutes les affaires, le « père des pauvres » est resté extrêmement populaire.
 
« On ne peut pas comprendre l’ascension de Bolsonaro si on ne voit pas ce qui s’est passé dans le pays depuis 2014 avec le “Lava Jato” », souligne Mauricio Santoro, directeur du département des relations internationales de l’université de Rio de Janeiro UERJ. Ce tentaculaire scandale de corruption a touché tous les grands partis de gouvernement, en particulier le PT et le parti social-démocrate PSDB qui se partagent le pouvoir depuis près d’un quart de siècle. « Ce séisme dans le système politique brésilien a provoqué un sentiment de grande colère contre l’establishment, contre le système politique et contre les partis qui ont échoué à offrir une alternative », ajoute le politologue .
 
Guerre des gangs
Lula avait échappé à un premier scandale d’achat de votes de députés lors de son premier mandat et avait quitté le pouvoir en 2009 avec une popularité inégalée. Mais il a été rattrapé par le « Lava Jato ». L’actuel président, Michel Temer, n’est en liberté que parce que les députés lui ont, par deux fois, évité un procès. « C’est la pagaille. Il n’y a plus de gouvernement. On vole d’un côté, on vole de l’autre, c’est vraiment une honte ! », s’enflamme Silvio Nascimento, chauffeur de taxi à Recife, dans le Nordeste déshérité du Brésil . Cet ancien électeur de Lula votera Bolsonaro, « une personne honnête ». Ce dernier se targue de n’avoir jamais été mis en cause dans le « Lava Jato » . La corruption est alimentée par un système politique à bout de souffle. Pas moins de 35 partis sont recensés, dont la seule raison d’être pour beaucoup est de participer au grand troc de faveurs que les Brésiliens appellent « toma-la, da-ca » (prend ceci, donne ça).
 
Les Brésiliens se sentent aussi abandonnés par un État impuissant face à la montée sans fin de la criminalité : guerre des gangs, fusillades entre policiers et trafiquants de drogue, attaques sur les routes… Les violences ont fait près de 64 000 victimes l’an dernier . À Rio, l’armée a pris directement en main la gestion de la sécurité et des milliers de soldats ont été déployés. Sans résultat tangible . En début de semaine, une intense fusillade a éclaté dans le quartier de Copacabana, à deux pas de la célèbre plage, effrayant habitants et touristes.
 
Dans les favelas, les tirs sont quotidiens.« Au milieu de l’après-midi, en pleine lumière du jour, les tirs ont commencé alors que les gens rentraient du travail et les enfants sortaient de l’école. On a peur de se déplacer . Mais on ne peut pas s’arrêter de vivre », dit Regina, une habitante de la favela de Rocinha, la plus grande du Brésil . Le « Capitao » séduit par ses réponses simples, voire simplistes. Il propose de généraliser le port d’armes et de garantir l’impunité des policiers. Pour lui, « un bon bandit est un bandit mort ».
 
Jair Bolsonaro a reçu le soutien des puissants lobbies des évangélistes, de l’agrobusiness et des armes, dit « BBB » (bible, bœuf, balle). Et des marchés. Ceux-ci misent sans états d’âme sur ce nationaliste étatiste qui a fait une mue libérale sous l’influence de son gourou, un économiste formé à l’Université de Chicago. Euphorique, la Bourse a salué les derniers sondages par sa plus forte hausse en deux ans. Au nom du « tout sauf le PT », qui veut relancer une économie atone par plus d’investissements et de dépenses sociales alors que les comptes sont au rouge.
 
Faut-il voir dans le « Capitao » un avatar tropical de Donald Trump ou des populistes européens ? Non, parce que la mondialisation et l’immigration ne nourrissent pas au Brésil les forces populistes comme aux États-Unis et en Europe, note Mauricio Santoro. Oui, parce qu’il a réussi à incarner le ressentiment contre les élites politiques . « Il est grossier, il crie, il est agressif. Cela fonctionne . Les électeurs se sentent représentés par cette colère », analyse le politologue.