segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O Estado de S. Paulo – Fux infla especulações / Coluna / Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo – Fux infla especulações / Coluna / Eliane Cantanhêde


O filho de Jair Bolsonaro nem sequer era investigado, mas se jogou no olho do furacão. E, na sofreguidão de agradar ao presidente, Fux acabou dando mais um empurrão.

A liminar do ministro Luiz Fux suspendendo as investigações do Ministério Público do Rio sobre as contas do ex–assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro é daquelas que parecem coisa de amigo, mas só podem ser de inimigo. O filho do presidente nem sequer era investigado, mas se jogou no olho do furacão. E, na sofreguidão de agradar ao presidente da República, Fux acabou dando mais um empurrão.

Em vez de “hay gobierno, soy contra”, Fux é adepto do “hay gobierno, soy a favor”. A liminar de ontem, porém, pode ter um efeito prático oposto ao pretendido pela família Bolsonaro. Em vez de suspender, ampliar e apressar as investigações.

Desde o início, as reações à história levantada pelo Coaf e divulgada pelo Estado têm sido erradas do ponto de vista jurídico, político e midiático. Não é admissível que o policial militar e exassessor Fabrício Queiroz, sua mulher e suas filhas não apareçam para depor. É um desrespeito inaceitável com as instituições republicanas. Para piorar, Fabrício alegou questões de saúde para não depor, enquanto aparecia bem serelepe em entrevista à TV. Sem falar na dancinha do hospital...

Em vez de esclarecer, os Bolsonaro trataram de complicar e quem cobrou publicamente explicações não foram o PT, a imprensa, a oposição, foram os generais, à frente o vice–presidente Hamilton Mourão. Se nem assim as explicações vieram, é porque provavelmente os envolvidos não as têm.

Depois de também não atender ao chamado do MP–RJ (no caso dele um mero convite), Flávio Bolsonaro agora parte para uma estratégia de altíssimo risco. Ele havia dito que não tem nada a ver com isso e que o assessor do seu gabinete é quem deveria se explicar. Se não tem nada a ver com isso, por que entrar com pedido de suspensão de investigações junto ao Supremo?

No caso de Luiz Fux, a situação é mais do que apenas constrangedora, como admitem seus colegas no Supremo. Ferrenho defensor do fim do foro privilegiado, ele usou justamente o foro para privilegiar o filho do presidente. E com argumentações questionáveis, segundo seus próprios pares, que passaram o dia ontem trocando telefonemas, informações e impressões.

Em sua decisão, Fux – que responde pelo STF nessa segunda fase do recesso do Judiciário – alegou que Flávio Bolsonaro foi eleito senador e assumirá o mandato e ganhará foro privilegiado em primeiro de fevereiro e, segundo o ministro, cabe ao plenário decidir o que deve ou não se encaixar no foro.

Só que... a decisão do plenário foi clara: o foro no STF para senadores e deputados vale para crimes cometidos durante o mandato e em função do mandato. No caso de Flávio Bolsonaro: 1) até agora, não há crime; 2) se houve algum foi quando ele era deputado estadual no Rio; 3) nada disso tem a ver com o seu futuro mandato no Senado.

Logo, tudo isso demonstra um certo desespero e joga ainda mais suspeitas, intrigas e especulações sobre os envolvidos. Uma delas, que circulava ontem em Brasília, é de que as investigações estariam evoluindo rapidamente e deixando não apenas Flávio como o próprio pai, agora presidente, numa situação delicada. A conta de Fabrício não seria abastecida só pelos funcionários? E seria um “caixa comum” da família?

O fato é que o tema viralizou na internet – um front em que as tropas bolsonaristas venceram a guerra das eleições e vinham ganhando as batalhas de governo. Isso pode mudar e os generais não estão mais sozinhos ao pedir explicações. Seus soldados nas redes também querem entender o que acontecia no gabinete de Flávio, que dinheiro era aquele, de onde vinha e para onde ia. Os Bolsonaro ganharam as eleições, não um habeas corpus para fazerem o que bem entendem. Ninguém está mais acima da lei, lembram?

Se Flávio Bolsonaro nem era investigado, por que tanto medo das investigações?

UOL – Bolsonaro cita PT e diz que Brasil tem parte da culpa em crise na Venezuela

UOL – Bolsonaro cita PT e diz que Brasil tem parte da culpa em crise na Venezuela


Talita Marchao e Alex Tajra

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou nesta quinta–feira (17), ao lado de representantes da oposição venezuelana, que o Brasil é parcialmente responsável pela crise política na Venezuela.

Ele citou os ex–presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT), que apoiaram o chavismo. A declaração está em um vídeo divulgado pelo Palácio do Planalto no Twitter.

Mais tarde, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota dizendo que o Brasil fará "de tudo" para ajudar a Venezuela a "viver em liberdade".

"Sabemos como esse desgoverno [de Nicolás Maduro] chegou ao poder, inclusive com a ajuda de presidentes que o Brasil já teve, como Lula e como Dilma, e isso nos torna responsáveis pela situação em que vocês se encontram, em parte", disse Bolsonaro ao lado do presidente do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ) no exílio, Miguel Ángel Martin, do argentino Gustavo Cinosi, representante da OEA, e do chanceler brasileiro, Ernesto Araújo.

Nas imagens, Bolsonaro afirma que os dois representam a Venezuela que o Brasil quer. Ele afirma que "tudo nós faremos para que a democracia seja restabelecida, que vocês possam viver em liberdade".

"Nós nos sentimos de uma maneira bastante constrangida, porque se vocês não tiverem essa liberdade, nós aqui também nos sentimos da mesma maneira", afirmou o presidente. "Acredito que uma solução virá brevemente."

Ángel Martin disse que uma vez que a Venezuela seja recuperada, o país se colocará ao lado do Brasil e de outros países do continente "para seguir a luta e resgatar todos e cada um dos países que têm problemas em sua democracia". "Acredito que o Brasil renasce", afirmou o presidente do TSJ venezuelano exilado.

Mais cedo, um grupo de opositores venezuelanos se reuniu com o chanceler Araújo no Itamaraty, entre eles o ex–prefeito de Caracas Antonio Ledezma, o ex–presidente da Assembleia Nacional Julio Borges e Carlos Vecchio, um dos líderes do Partido Vontade Popular (VP). Representantes do grupo Rumbo Libertad também estavam presentes. Segundo o Itamaraty, representantes do Grupo de Lima, criado para lidar com a crise venezuelana, e dos EUA também participaram da reunião.
Ação

A nota distribuída pela imprensa pelo Itamaraty nesta noite diz que o Brasil "tudo fará para ajudar o povo venezuelano a voltar a viver em liberdade e a superar a catástrofe humanitária que hoje atravessa".

"O papel–chave do Brasil, sob a liderança do Presidente Bolsonaro, na mudança do cenário venezuelano, onde pela primeira vez em muitos anos ressurge a esperança da democracia, foi reconhecido por todos os líderes venezuelanos", diz o Itamaraty na nota.

O Itamaraty reiterou que não considera o mandato presidencial de Nicolás Maduro legítimo e enxerga com bons olhos a disposição do deputado oposicionista e presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, de assumir o mandato interinamente.


Valor Econômico – Brasil diz que governo Maduro é mecanismo do crime organizado

Valor Econômico – Brasil diz que governo Maduro é mecanismo do crime organizado


Por Fabio Murakawa | De Brasília

Alan Santos/PRErnesto Araújo, Miguel Ángel Martín e Bolsonaro: nota admite apoio brasileiro a presidente da Assembleia Nacional

O Ministério das Relações Exteriores disse ontem que o governo venezuelano "chefiado por Nicolás Maduro constitui um mecanismo de crime organizado", que "está baseado na corrupção generalizada, no narcotráfico, no tráfico de pessoas, na lavagem de dinheiro e no terrorismo".

A afirmação veio em um comunicado divulgado após 11 horas de reunião entre o chanceler Ernesto Araújo e líderes venezuelanos exilados, que teve "por objetivo discutir ideias de ação concreta para restabelecer a democracia na Venezuela".

Na nota, o Brasil admite apoiar o presidente da Assembleia Nacional, o opositor Juan Guaidó, em "sua disposição de assumir a Presidência da Venezuela interinamente, seguindo a Constituição venezuelana".

"O papel–chave do Brasil, sob a liderança do presidente [Jair] Bolsonaro, na mudança do cenário venezuelano, onde pela primeira vez em muitos anos ressurge a esperança da democracia, foi reconhecido por todos os líderes venezuelanos", afirma o documento. "O Brasil tudo fará para ajudar o povo venezuelano a voltar a viver em liberdade e a superar a catástrofe humanitária que hoje atravessa."

Representantes da Organização dos Estados Americanos (OEA), dos Estados Unidos e do Grupo de Lima – que congrega 12 países das Américas e desconhece a legitimidade de Maduro – também estiveram à mesa com Araújo e os venezuelanos. Alguns dos participantes do encontro, porém, são vistos com desconfiança pela Assembleia Nacional da Venezuela, dominada pela oposição desde 2016 e que teve os poderes esvaziados por Maduro desde então.

Eduardo Bittar e Roderick Navarro, membros do movimento Rumbo Libertad, estiveram ontem em Brasília e são classificados por boa parte da oposição venezuelana como de "extrema direita".

Eles defendem a formação de um governo no exílio, algo visto com entusiasmo pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL–SP). Filho do presidente Jair Bolsonaro, Eduardo é próximo de Bittar e Navarro e também participou do encontro no Itamaraty.

Mas essa ideia é vista com reserva por setores do governo brasileiro. Tampouco tem o apoio de outros participantes mais moderados do encontro de ontem – Antonio Ledezma, ex–prefeito de Caracas, Julio Borges, ex–presidente da Assembleia Nacional, e Carlos Vecchio, membro do partido Voluntad Popular, que vivem atualmente no exílio, em Madri, em Bogotá e Miami, respectivamente. "Não vejo razão para formar um governo no exílio se já podemos ter um governo legítimo dentro da Venezuela", disse Ledezma ao fim do encontro.

Araújo reuniu–se também em separado com Miguel Ángel Martín, presidente do Tribunal Supremo de Justiça no Exílio – uma criação da Assembleia Nacional. À tarde, o chanceler e o magistrado estiveram no Palácio do Planalto reunidos com o presidente.

"Sabemos como esse desgoverno [de Nicolás Maduro] chegou ao poder, inclusive com a ajuda de presidentes que o Brasil já teve, como Lula e como Dilma. E isso nos torna responsáveis pela situação que vocês se encontram, em parte", disse Bolsonaro em um vídeo divulgado após o encontro. "Continuaremos fazendo todo o possível para restabelecer a ordem, a democracia e a liberdade. Acredito que a solução virá brevemente", completou. No vídeo, Bolsonaro aparece ao lado do ministro de Araújo, Miguel Ángel Martín, e Gustavo Cinosi, representante da OEA.

Também dentro da Assembleia Nacional venezuelana há ressalvas quanto a Navarro, Bittar e o governo no exílio.

Falando sob a condição de anonimato, um deputado venezuelano disse desde Caracas sobre os membros do Rumbo Libertad que "eles se aproximaram de Bolsonaro e seus filhos, mas são uns loucos da resistência e essas coisas, são contra os partidos, contra a Assembleia Nacional, contra tudo". "Além disso, um governo no exílio não é um pleito da Assembleia Nacional."

A existência de um tribunal no exílio, além disso, tampouco é uma unanimidade.

"Angel Martin é presidente de um Tribunal Supremo no exílio que não é supremo. Isso é uma fantasia. Por isso que na Assembleia Nacional não há nenhum acordo que designe um tribunal supremo no exílio ou coisa parecida", afirmou a fonte parlamentar desde Caracas.

Ledezma, por sua vez, discorda. "Que se reconheça não somente a Assembleia Nacional e o TSJ no exílio como instituições legítimas. Mas aceitem também que Juan Guaidó é o presidente constitucional da Venezuela", disse.

Navarro e Martín estiveram em dezembro na Cúpula Conservadora das Américas. O evento, patrocinado por Eduardo Bolsonaro, pretende ser um contraponto histórico ao Foro de São Paulo, reunindo políticos e entidades da direita no continente.

Em comunicado divulgado à véspera da reunião no Itamaraty, a assessoria da Cúpula Conservadora trata os representantes dos partidos políticos como "falsa oposição venezuelana".

Ao mesmo tempo, a entidade liderada por Eduardo Bolsonaro diz que o Rumbo Libertad "luta pela instauração de um governo transitório em exílio" e afirma que ele "será o único representante da real resistência neste encontro". (Colaboraram Marcelo Ribeiro, Carla Araújo e Andrea Jubé)

Os Quatro Elementos da Religião Segundo C.S. Lewis

Direitas Já!

Os Quatro Elementos da Religião Segundo C.S. Lewis



No primeiro capítulo da obra “O problema do sofrimento” [1] o escritor cristão C.S. Lewis discorre sobre os fios ou elementos que compõem a religião.  São eles o experimento ou sentimento do numinoso, a consciência moral, a associação entre estes e, somente no cristianismo, há um quarto elemento que ele chama de o evento histórico da encarnação de Deus.
  1. O sentimento do numinoso.
Mas o que seria isso? Bem, numinoso é a espécie de medo ou temor que todos os homens, desde a era primitiva, nutrem pelas forças superiores que governam a natureza e o universo. Lewis exemplifica esse temor comparando o medo que se tem de um tigre ao medo que se tem de um fantasma, para quem acredita neles, obviamente. 

O medo do tigre deriva de um medo físico relacionado a um perigo físico que o tigre oferece. Mas o medo de fantasmas, caso se acredite neles, ocorre não pelo perigo que eles possam oferecer, mas apenas pelo fato de serem fantasmas. Ou seja, o medo dos fantasmas deriva somente do fato deles serem o que são: fantasmas. 

Lewis indaga de onde essa espécie de medo veio. Pois o medo de perigos físicos pode ser logicamente deduzido de fatos físicos. Mas esses fatos físicos que dão origem ao medo do perigo físico não pode ser a causa do temor ou medo do fantasmagórico ou sobrenatural (numinoso) que domina o universo. A experiência que decorre dos acontecimentos no curso desse mundo tende muito mais (para Lewis) a guiar as inteligências para a visão de um universo oriundo do acaso e do sem sentido do que o oposto. 

Logo, de onde veio esse sentimento? Lewis conclui que há apenas dois pontos de vista possíveis a esse respeito. Ou essa espécie de medo provém de uma distorção mental humana que não tem nenhum grau de objetividade, embora possua a tendência de não desaparecer da mentalidade humana, ou ele provém de uma verdadeira experiência sobrenatural chamada revelação.
  • 2. Consciência moral.
Lewis argumenta que embora os padrões de comportamento moral se diferenciem uns dos outros, todos os homens concordam em reconhecer padrões de comportamento moral. 

Tais padrões não derivam da experiência, pois dela podem ser extraídos comportamentos que são mais desejados por alguns homens do que por outros, ou se pode reconhecer comportamentos que algumas pessoas somente praticariam se fossem obrigadas. 

Mas não é possível retirar da experiência o “devo” ou “não devo”. Isto é, o certo e o errado não provêm das experiências morais. Na obra “Cristianismo Puro e Simples” [2] Lewis pergunta se há o registro de alguma espécie de padrão moral na história humana que reconheceu o altruísmo como negativo ou o egoísmo como positivo. 

Algum humano se desculpa quando defende os filhos de algum perigo ou é glorificado quando age em benefício si mesmo em detrimento dos demais? 

Esses padrões fixos de moralidade vieram de onde? Da mesma forma que a noção do temor do numinoso não provém do medo do perigo físico (medo físico e temor do numinoso pertencem a dimensões diferentes para Lewis), a consciência de uma lei moral que guia o comportamento dos homens não brota da experiência moral

Assim, ambos são considerados saltos perceptivos que, para Lewis, são originários de alguma loucura inexplicável ou de revelação. Esses dois primeiros elementos compõem o desenvolvimento mais primitivo da religião. Mas eles parecem caminhar em direções opostas, já que enquanto o experimento do numinoso brota do medo do terrível, do desconhecido, do cruel, a consciência moral exige um comportamento oposto.
  • 3. A Harmonia Entre o Numinoso e a Moralidade
A união da noção do numinoso e a moralidade foi o maior salto na espiritualidade humana para Lewis. 

O caminho que parecia distinto entre ambos se funde. O sentimento do pavor fantasmagórico que se liga à ideia do universo vago, indiferente, injusto, se une à noção do Criador bondoso e sábio. 

A partir dessa consciência, o padrão moral que condena os homens se encontra nas mãos da autoridade sobrenatural que amedronta. 

Lewis argumenta que não foram todos os povos que aderiram a essa perspectiva, mas os que aderiram, a exemplo dos judeus, se salvaguardaram das obscenidades das religiões imorais e da frieza da moral não religiosa. 

Sim, esses conceitos sempre existiram e ainda existem. Há religiões que não possuem padrões morais estabelecidos e moralidades não ligadas à espiritualidade a exemplo de algumas religiões pagãs e do estoicismo, respectivamente. 

Lewis explica que quem bem uniu o lado terrível do Criador que amedronta ao lado justo e bom do mesmo Criador foram os judeus, ver Salmo11, 6-7

Através de Abraão as nações foram abençoadas. Essa noção produziu um frutuoso resultado que atingiu o seu auge de desenvolvimento no evento histórico que consagra o cristianismo como a religião que atinge o ápice do desenvolvimento espiritual. Ou seja, o auge da revelação de Deus aos humanos.


4. A Encarnação Histórica
Esse evento apresenta a encarnação do homem que afirma ser o Filho de Deus no sentido de ser “um com” Deus e materializa a união entre o numinoso que produz temor e o autor da lei moral que faz justiça e ama. 

Para Lewis há somente duas formas de se encarar a pessoa de Jesus Cristo, a partir da análise das reivindicações feitas por ele. Ou esse homem foi um lunático abominável ou foi quem disse ser. No caso dos registros históricos eliminarem a primeira hipótese, resta se dobrar à segunda. 


E sendo a segunda aceitável, as reivindicações dos cristãos se tornam críveis. Lewis conclui afirmando que o cristianismo não é um fato que dá uma resposta ao evento embaraçoso do sofrimento, mas é também um evento embaraçoso que se consagra no sofrimento daquele que muda (para melhor) a relação entre a divindade e os homens. O Cristo sofredor garante, pela sua morte e ressurreição, a realidade final da existência que será plena em justiça e amor.


Referências:
[1] LEWIS, C.S. O problema do sofrimento. 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2006.
[2] LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. 5. ed. São Paulo: ABU, 1997.  

O que falta para salvar a pátria

O  que falta para salvar a pátria

por Fernão
Artigo para O Estado de S. Paulo de 15/1/2019
Não ha quem no serviço público brasileiro não tenha sido tocado ao menos pela corrupção institucionalizada, aquela que oficialmente não é tida como o que é porque a lei é o seu instrumento de ação. Nem mesmo os militares passaram incólumes por essas três décadas de elevação da cultura do privilégio à força em torno da qual tudo o mais gravita no país oficial desde a Constituição de 88. Mas se havia qualquer duvida sobre o valor da reserva moral que lhes restou ela acabou com os fatos que se seguiram ao primeiro embate de 2019 entre Brasília e o Brasil.
Como acontece sempre na formação de qualquer governo a “área econômica” é a única que chega ao dia da posse com todas as suas referências fincadas exclusivamente no pais real. Brasília, de onde, com as regras eleitorais vigentes, obrigatóriamente sai o nucleo dos grupos que se substituem no poder, não sente o Brasil. Lá os salários sobem e as carreiras progridem por decurso de prazo tão certo quanto que o sol nascerá amanhã. Nunca aconteceu com seus familiares, nunca aconteceu com seus amigos, nunca aconteceu com seus colegas de trabalho, nunca aconteceu com eles próprios: a figura do "andar para traz" simplesmente não existe no modelo cognitivo do típico cortesão de Brasília nem como exercício abstrato de antecipação de uma possibilidade, simplesmente porque essa possibilidade não existe.
Não é de surpreender, portanto, que para todos quantos a cada nova conta a ser paga corresponde um novo "auxílio" arrancado ao favelão nacional o “modelo de capitalização” na Previdência – que em português plebeu quer dizer pagar por aquilo que se vai consumir – pareça uma inominável maldade. Essa relação, para eles, nunca foi obrigatória.
Mas agora a realidade está aí nua e crua. Financiar os 30-40 anos de ócio que o brasiliense aposentado típico vem colhendo sem nunca ter plantado custou ao Brasil passar da economia que mais crescia para a economia que mais decresce no mundo hoje, mas Brasília nem percebeu. Brasília “cresce” sempre, chova ou faça sol, por "pétrea" determinação constitucional. E, na dúvida, lá vem o cala-a-boca: "a constituição não se discute, a constituição cumpre-se".
Só que não.
Agora, à beira do precipício, até Brasília já sente a vertigem. O inchaço do funcionalismo nos 13 anos de PT transbordando em progressão geométrica para as aposentadorias na flor da idade que congelam os salários públicos no tope de cada carreira por quase meio século mergulhou essa previdência sem poupança num processo de metástese. Com quase 40% do PIB entrando, já não sobra sequer para pagar os aposentados mais os seus substitutos com o salário de entrada. E como quando falta dinheiro para pagar funcionário no Brasil é porque já faltou antes para tudo o mais – hospitais, escolas, segurança pública, infraestrutura – não ha mais como não agir.
Velhos hábitos demoram para morrer mas os embates da primeira semana de governo deram indicações animadoras da força da humildade de Jair Bolsonaro. Ele vacilou quando se calou diante do sindicalista Lewandowski infiltrado no STF. Ele vacilou quando recusou vetar o aumento dos incentivos para a Sudam e a Sudene. Ele tem vacilado diante dos “quiéquiéisso companheiro” dos amigos da vida inteira das corporações militar e política de que faz parte. Ele vacilou, até, diante do “fogo amigo” contra Paulo Guedes. Mas Paulo Guedes é um homem de contas. A transição e os primeiros dias de governo têm sido uma avalanche de números. E com números não se discute. Assim que Guedes se decidiu a dar o limite dos "bailes" que estava disposto a levar de Brasília parece ter caído a ficha e o presidente teve a nobreza de rever sua posição. Realinhou o governo inteiro à Prioridade Zero de deter a hemorragia previdenciária e o Brasil entrou em festa para deixar bem claro a fundamental importância que essa atitude teve.
Brasília pode reagir a Onix Lorenzoni mas o Brasil reage a Paulo Guedes. E se confundir essas prioridades o governo comete suicídio e nos leva junto. Não haverá segunda chance. Não há tempo. Privatizações e descomplicações liberalizantes da vida produtiva poderão acelerar o processo. Mas o que dirá se haverá ou não processo a ser acelerado é o desenho da reforma da previdência. E o lucro ou o prejuízo serão colhidos inteiros a partir do momento que esse desenho for conhecido.
Tudo isso parece se ter tornado subitamente claro para o governo. Tocados nos brios os militares, que estão longe de desfrutar os maiores entre os privilégios do Brasil com privilégios, embora vivam no que para o país real não entra nem em sonho, declaram-se dispostos a puxar a fila dos sacrifícios para dar o exemplo. É um gesto inédito na História do Brasil e absolutamente decisivo. Se confirmado, cala para todo o sempre a boca dos detratores da instituição. Já o campo do Legislativo reflete, para bem e para mal, a diversidade do país. Mas quando chamado ao sacrifício com o devido empenho, no governo Temer, prontificou-se a responder majoritariamente a favor do Brasil. Foi detido pelo golpe Janot-Joésley que abortou a votação decisiva na véspera de acontecer. Desde então, sentindo espaço, suas piores figuras voltaram a dominar a cena. Mas um novo Congresso vem aí e, no extremo, poder eleito que é, ele sempre faz o que o Brasil diz que quer que ele faça.
Falta, agora, o movimento da inefável Versailles da privilegiatura que tem sido o Poder Judiciário. Não haverá avanço na segurança publica se não houver avanço na economia. E não haverá avanço na economia se não houver avanço na Previdência. Sem ambos, não haverá pacote de leis nem articulação de forças de repressão capaz de deter a quase guerra civil contra o crime organizado que vivemos. Mas se o ministro Sérgio Moro e seus fiéis escudeiros do Ministério Publico, seguindo o exemplo dos militares, liderassem o movimento de devolução de privilégios que suas corporações ha muito devem ao Brasil, a pátria com toda a certeza estaria salva.

O Globo – Líder de oposição venezuelana: Brasil terá papel central para saída de Maduro / Entrevista / Juan Guaidó

O Globo – Líder de oposição venezuelana: Brasil terá papel central para saída de Maduro / Entrevista / Juan Guaidó


Por Janaína Figueiredo

Em nota, Itamaraty acusa regime chavista de terrorismo, narcotráfico e corrupção.

O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, principal nome da oposição ao presidente Nicolás Maduro, disse, em entrevista a JANAÍNA FIGUEIREDO, que tem recebido “apoio muito sólido” do governo Bolsonaro. Para ele, o Brasil tem “papel central” na articulação da transição no país. O presidente Jair Bolsonaro recebeu ontem no Planalto o presidente do Tribunal Supremo de Justiça no exílio, Miguel Ángel Martín. O chanceler Ernesto Araújo se reuniu também com líderes da oposição e com representantes do Grupo de Lima e do governo dos EUA. O Itamaraty divulgou nota afirmando que o governo de Maduro “está baseado na corrupção, no narcotráfico e no terrorismo”.

Nas últimas semanas, o nome de Juan Guaidó, novo presidente da Assembleia Nacional (AN) da Venezuela não reconhecida pelo governo de Nicolás Maduro, tornou–se onipresente na política nacional e em discussões regionais sobre a crise que assola o país. Guaidó, de apenas 35 anos, é visto hoje como a grande esperança da oposição em momentos de relançamento de sua luta para tirar Maduro do poder. Em tempo recorde, o jovem dirigente conseguiu respaldos decisivos, dentro e fora da Venezuela, a favor de sua cruzada para instalar um governo de transição que convoque novas eleições presidenciais. No último fim de semana, confirmou o presidente da AN em entrevista exclusiva ao GLOBO, o deputado Eduardo Bolsonaro lhe telefonou para expressar “um apoio contundente” e, também, sua solidariedade pela tentativa de detenção por parte de agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin). Desde então, ampliou, “está sendo coordenado um contato direto com o Executivo brasileiro”. O governo Bolsonaro, assegurou Guaidó, “vem nos apoiando desde antes da posse do presidente e hoje ocupa um papel central na região em relação à Venezuela”. Ontem, o presidente da AN acompanhou de perto os encontros do chefe de Estado e do chanceler Ernesto Araújo com dirigentes opositores, como o presidente do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) no exílio, Miguel Ángel Martín, e o enviado especial da OEA, Gustavo Cinosi, em Brasília.

Ontem, o presidente Bolsonaro e o chanceler Araújo receberam lideranças opositoras em Brasília. Qual é a importância destas articulações para a oposição venezuelana?

O respaldo internacional é fundamental para nossa luta democrática e nos ajudou muito nos últimos anos. Em 2015, recuperamos a maioria parlamentar, e isso deu impulso a uma onda de protestos contra o governo. Hoje, a AN tem um reconhecimento mundial e ganhou esse reconhecimento por sua permanente defesa da Constituição. Consideramos muito importante o apoio dos presidentes Bolsonaro, Macri (Argentina), Duque (Colômbia), dos Estados Unidos, do Paraguai, Chile e Peru, entre outros. Isso ajuda a estimular nosso povo, nos dá ânimo e nos mostra que vale a pena a luta que estamos encarando. O mundo está nos ouvindo e, apesar de todas as tentativas, não estão conseguindo nos silenciar.

No caso do Brasil, que contatos o senhor teve desde que assumiu como presidente do Parlamento?

No fim de semana passado recebi um telefonema do deputado Eduardo Bolsonaro, e estamos coordenando uma ligação com o Executivo do Brasil.

Qual foi a mensagem do deputado Bolsonaro?

Foi uma mensagem de respaldo contundente à nossa causa, um respaldo pleno ao que estamos fazendo para recuperar nossa democracia. Também a confirmação de que não será reconhecido o governo de Maduro, o que para nós é muito importante. Foi uma conversa amável, muito cálida.

Qual é o papel do Brasil na articulação regional que está surgindo em relação à Venezuela?

Um papel central. Historicamente, somos países aliados, sempre fomos. Claro que em nossa História recente essa aliança foi desastrosa. A parceria entre (o então presidente Hugo) Chávez e Lula levou a escândalos como o da Odebrecht, obras paralisadas, corrupção, enfim, todos já sabemos de tudo isso. Mas nossa relação precisa evoluir em matéria de cooperação e luta pela democracia. O governo Bolsonaro tem nos dado um apoio muito sólido, mesmo antes da posse. Sua chegada ao poder foi uma boa notícia, num marco de respeito pela democracia e direitos humanos fundamentais.

O senhor fala em governo de transição... como se chegaria a esse cenário?

Estamos discutindo uma lei para construir esse processo, que será inédito na Venezuela e deve envolver vários setores. Temos de caminhar para um governo de união nacional, que surgirá de eleições livres e democráticas.

Quem designará esse eventual governo de transição?

Tudo surgirá dessa lei que estamos discutindo. Repito, é uma construção. Precisamos envolver as Forças Armadas, o TSJ no exílio, a diáspora venezuelana, todos.

O senhor seria o presidente de transição?

Isso dependerá de consultas com todos os setores. Volto a dizer, é algo inédito. Algo que não se decreta, se constrói. Hoje sou presidente de uma AN que tem faculdades claras. Temos uma situação de usurpação do poder, existe um consenso mundial em relação a isso. E a NA é a única instituição legítima da Venezuela, que vive uma ditadura.

Como o senhor pretende conseguir respaldo dentro das Forças Armadas?

Estamos trabalhando nisso. Aprovamos uma anistia para militares e estamos falando com muita clareza. Sinto que ressurgiu um ambiente de otimismo entre todos os venezuelanos, inclusive os militares.

O senhor dialoga com militares?

(Silêncio) Sou neto de dois militares, minha família vem do mundo militar.

Isso é um “sim”?

(O presidente da AN apenas sorriu).

Um eventual governo de transição estaria em Caracas ou no exílio?

Nossa luta é aqui. Estamos exercendo nossas faculdades aqui. Mas claro que contamos com o apoio de todos os que estão no exílio forçado.

Quais são os prazos que o senhor vê hoje para este processo?

Dependerá de nossas capacidades, mas acho que tudo pode ser muito rápido.

O senhor vem dizendo que o dia 23 de janeiro (quando os venezuelanos lembram a derrubada da ditadura de Marcos Pérez Jiménez em 1958) será um dia D para a Venezuela…

E será. Vamos voltar a unir os venezuelanos e vamos pra rua.

Não teme uma nova onda de repressão, como ocorreu em 2017?

Veja bem, tenho cicatrizes de disparos de balas de borracha no pescoço e nas costas. Fui ferido em 2017, como muitos outros venezuelanos. Nosso temor não é voltar a sermos reprimidos. Nosso temor é continuar vivendo esta tragédia.