segunda-feira, 23 de maio de 2016

O impeachment e a "teoria da narrativa"


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Um dos expedientes mais abusados pelos revolucionários é o da "teoria da narrativa", que parte da ideia central de que, na história, o que vence não são os fatos, mas a narrativa dos mesmos.


Essa ideia é parcialmente verdadeira. Parcialmente porque a narrativa não é um princípio. Princípio são os fatos. Ou seja, construí-la a despeito destes é excogitar um artifício fantasioso, incapaz de convencer pessoas com sua faculdade cognitiva em ordem, e são justamente essas que dão solidez à história, mesmo que a não protagonizem.


Mas os revolucionários sabem disso. Mentem em coro para inibirem a apreensão dos fatos pela imposição coletiva de factóides. Nem eles o creem! Fingem e, do fingimento, passam para a repetição de refrões que, desconectados da realidade, passam a se tornar a única realidade que admitem. É a histeria em gestação. O verbal substitui o real, e a realidade torna-se um "em si" inacessível.


Agora, no Brasil, é exatamente este o processo da "narrativa do golpe". A realidade é simples:


- No Brasil, o impeachment é um julgamento simultaneamente político e jurídico.


- Do ponto de vista jurídico, a presidente cometeu um presumível crime de responsabilidade, por causa das pedaladas, que ela mesma confessou (os outros governos também o fizeram, mas em quantidade muitíssimo menor, o que não é juridicamente irrelevante -- pelo princípio da relevância, um roubo de milhares não se pode comparar a um roubo de milhões);


- Do ponto de vista político, porém, a presidente não tem mais credibilidade (o que os outros presidentes possuíam e, por isso, não foram impedidos).



Contudo, com as denúncias provenientes da própria esquerda, as investigações da Polícia Federal, os crimes constatados, as flagrantes obstruções da justiça, os favorecimentos ilícitos, os julgamentos, e tudo aliado a uma crise econômica sem precedentes, à queda livre do país, simplesmente não há clima de confiabilidade, nacional e internacional. Politicamente, a presidente não governava mais os fatos, era governada pelos mesmos. E, por causa disso, foi afastada.


Essa é a diferença básica. Apenas o eventual crime não basta; é necessário que haja ausência de respaldo político para que a presidente caia, e, numa democracia, esse respaldo emana também do povo.


Note-se, porém, a inversão da realidade. Nega-se que sejam crime as confessadas pedaladas, que são o mais patente de todos os fatos, e ignora-se a ausência absoluta de apoio político, como se esse houvesse. Dos 54 milhões que votaram, a quase totalidade se arrependeu, pois as promessas foram desmentidas pelos atos governamentais, e as mentiras de campanha foram desmascaradas pelos números.


A narrativa não pode vencer, nesse caso. Ela não é crível. Passará para a história como piada, e será afogada pelos julgamentos que virão, e as condenações, e as prisões.


De tudo isso, a ironia mais desconcertante está no fato de que nós, que não votamos em Temer (porque não votamos em Dilma), estamos torcendo para que faça um bom governo, pelo bem do país; e eles, que nele votaram, torcem por seu desgoverno, em favor do partido. 


De fato, essa é a prova cabal de que não tinham um projeto de nação, mas, sim, um projeto para devorá-la, projeto que começou a ser derrotado, mas que ainda dista de ser totalmente sepultado, pois para sê-lo necessita-se, antes, da cura da nação, que seja sarada da histeria e volte a gozar de bom senso, para que retorne definitivamente ao caminho da sabedoria.


Dilma Rousseff e o PT em pleno vendaval


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Os treze anos do PT no poder terminam assim, com essa espetacular queda de Rousseff (e, portanto, de seu mentor Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva) e em uma perda enorme de adeptos.

O que se joga hoje no Brasil é de importância capital para a democracia representativa não só do Brasil, senão do continente americano e do mundo.


Dilma Rousseff não suporta a realidade de seu processo de destituição. Não admite que tenha sido suspensa de funções legitimamente pelo poder legislativo de seu país. Não concebe que esse poder lhe reprove haver cometido graves delitos. Não aceita outra condição diferente à de vítima inocente. Não agüenta que lhe provem que foi posta fora do jogo por falsificar as contas do Estado, em uma tentativa para fazer os brasileiros acreditarem que sua gestão econômica era impecável. Não tolera que lhe cobrem ter encoberto os déficits orçamentários de seu país e ter dissimulado a crise criada por seu falso “Estado de bem-estar” levando às arcas públicas, sem permissão do Congresso, dinheiros emprestados pelos bancos estatais.
Dilma Rousseff, de 68 anos, não admite que foi defenestrada (embora seja provisoriamente e por até 180 dias, enquanto é julgada definitivamente pela Câmara Alta), e que perdeu a confiança dos brasileiros, por ter também jogado provavelmente um papel central no tremendo caso da Petrobras, que a imprensa internacional descreve como “o maior escândalo de corrupção político-econômico da história da América Latina”. Trata-se, com efeito, de um affaire descoberto há dois anos. Seu montante poderia ser de mais de 2.000 milhões de dólares. Este processo dará muito o que falar pois, além disso, o Supremo Tribunal Federal acusa a presidente suspensa de obstrução da justiça por sua atitude ante o assunto. O índice atual de favorabilidade de Rousseff, segundo as pesquisas, é de apenas 10%.
Para esquivar a humilhação de se ver destituída por essas razões, por ter faltado com seu dever de chefe de Estado, Dilma Rousseff monta um show patético. Ameaça o país com seis meses de tumultos e violências de rua: “A população saberá dizer não ao golpe”. Ela acusa os outros, seus ex-aliados, e cospe sobre seu juiz natural, o poder legislativo. Diz que eles, o Senado e a Câmara dos Deputados, orquestraram “um golpe” [de Estado] contra ela, um “golpe moderno” e “inconstitucional” destinado, diz, a satisfazer os mais baixos instintos “da direita” e do “fascismo”, pois querem tirar ela e o Partido dos Trabalhadores do poder para matar o povo de fome: “O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos, os ganhos das pessoas mais pobres e da classe média”.
A responsável pela atual recessão econômica diz que os delinqüentes são os outros. Ela é inocente e as maiorias que a destituíram são vis “inimigos do povo”. E reitera: “O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição”.
Dilma não quer aceitar que a esquerda que ela representa no continente pode cair na lama da grande desonestidade, que pode ser corrompida e corruptora e que pode ser ladra. Essa esquerda é, segundo ela, sempre límpida, honesta, pacífica e desinteressada. É o que quer que acreditemos. Na realidade, o que os congressistas brasileiros estão provando é que, pelo contrário, essa esquerda é lamentável, e pior, é depravada, sem coragem e sem valores. A credibilidade da esquerda latino-americana cai de novo pelo caso de Rousseff.
O processo de impeachment em curso prova que ter levado a presidência de um grande país uma ex-guerrilheira que nunca se arrependeu de seus crimes, não é jamais um ato banal, que pode acabar de forma satisfatória para as maiorias, para a economia e para as instituições democráticas. Essa é uma lição importante que deve ser aprendida sobretudo pelos colombianos, no momento em que desde a cúpula do governo se quer impor ao país, arbitrariamente, a impunidade e a liderança política de criminosos endurecidos, os chefes das FARC.
Certos analistas pró-PT sugerem que o processo de impeachment foi uma conspiração de uns poucos. Na verdade, foi o resultado de mobilizações populares de grande amplitude contra o governo. As maiorias respaldam de fato esse processo. 61% dos brasileiros é a favor do impeachment de Rousseff. Sem esse apoio massivo tal evolução não teria sido possível.
Os treze anos do PT no poder terminam assim, com essa espetacular queda de Rousseff (e, portanto, de seu mentor Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva) e em uma perda enorme de adeptos. Salvo um espetacular retorno à situação anterior, esse experimento termina com o fracasso do capítulo melhor obtido até agora na longa aventura da esquerda continental. O do PT foi muito mais importante do que a catástrofe violenta e depredadora do castrismo em Cuba, mais que o convulsivo governo de Salvador Allende, mais do que a dramática destruição da Venezuela, vítima de um Chávez que acabou com as liberdades e saqueou os recursos de seu próprio país para sustentar, por razões ideológicas, a ditadura agônica de Cuba. 
Os governos de Lula e de Rousseff foram o máximo êxito da esquerda do hemisfério. Nunca antes essa corrente havia chegado tão longe. O de Cuba é apenas um avatar, sangrento e expansionista, mas de pouco valor estratégico por aparecer como um regime detestável e não viável. A chegada ao poder do lulo-petismo no Brasil, e sua permanência no Palácio do Planalto durante 13 anos, foi o autêntico triunfo, se tem-se em conta o grande peso demográfico, econômico e geo-político do Brasil. 
A plataforma assim montada nesse país reforçou todos os grupos e projetos anti-liberais das diferentes frações de esquerdas do hemisfério, desde as mais moderadas até as mais violentas, como a das FARC na Colômbia. Não é por casualidade que a seita internacional subversiva mais perigosa do continente, o Foro de São Paulo, tenha sido fundada no Brasil por Lula e Fidel Castro.
Esses bandos, grupos e partidos foram nutridos pelas estruturas de corrupção do PT, onde se cruzam dinheiros opacos dos governos chavistas, junto com dinheiros mal havidos do PT. Tudo isso, no episódio da Lava Jato está sendo investigado. Para tratar de frear tal dinâmica, o PT acode aos organismos “amigos”, inventados pelo chavismo como UNASUL, MERCOSUL, PARLASUL e TELESUL. Todos estão iracundos e no plano de luta para salvar o que resta.
O que se joga hoje no Brasil é de importância capital para a democracia representativa não só do Brasil, senão do continente americano e do mundo. Em seis meses saberemos se o horrível pesadelo criado pelo castro-comunismo no continente perde realmente terreno em benefício da economia de mercado e das idéias democráticas tão atacadas hoje.


Tradução: Graça Salgueiro

O surto de ocupações fascistas nas escolas


traBem feito para a Rede Globo que se presta para dar cobertura a uma traquinice daquelas e, depois, se sujeita a ser acusada, também ela, de fascista e de golpista quando cobre algum evento onde haja petistas.

A cena apresentada pela Globo News era inacreditável. Uma dessas que a gente costuma ver no YouTube, filmada por celular, em posição vertical e tela estreita, estava sendo exibida ao país por uma emissora de grande audiência, em tela grande e HD. O ato, transcorrido no palco do auditório de uma escola estadual do Rio, tinha certa imponência. 



Casa cheia. À mesa diretora dos trabalhos, um grupo de adolescentes comunicava ao mundo sua soberana decisão de encerrar a ocupação que já levava 56 dias. Sentado entre eles, o chefe de gabinete do secretário de Educação do Rio de Janeiro. Imagino que até a Unesco festejou a notícia. Ufa!



Aquela escola era uma das centenas que, em articulada sequência, vêm sendo ocupadas no paísO ato mostrado pela TV fazia lembrar esses comunicados formais de autoridades sobre temas palpitantes. O chefe de gabinete, ao se manifestar, teve a audácia de expressar sua desaprovação à atitude dos ocupantes. Prá quê! Os ágeis neurônios da audiência entraram em rebelde polvorosa: "Como é? Esse sujeito está nos criticando? Afirma que não deveríamos ter ocupado o colégio? Fascista!". E a gritos de "Fascista!" o infeliz chefe de gabinete foi varrido para fora do auditório.



A Globo News a tudo filmava como coisa relevante para exibir ao país. A tais alturas, seria conveniente ouvir algum professor. Não sei se havia outros disponíveis no local, mas uma professora de Sociologia apresentou-se para defender seus pupilos destacando o caráter altamente educativo dos acontecimentos ali transcorridos. Cidadania pura.



Os xingamentos lançados sobre o audacioso chefe de gabinete foram mais do que suficientes para evidenciar o mal inoculado nos jovens. Ele volta a se revelar sempre que alguém quiser entrar para estudar ou lecionar nas escolas ocupadas: "Fora, fascistas!".



Por um lado, bem feito. Bem feito para a Rede Globo que se presta para dar cobertura a uma traquinice daquelas e, depois, se sujeita a ser acusada, também ela, de fascista e de golpista quando cobre algum evento onde haja petistas. Por outro lado, muito válido o episódio para revelar a origem política e ideológica de tais ocupações e sua coincidência com o processo de impeachment. Só fechando os olhos para não perceber. Assim como o idioma de quem fala, na maior parte das vezes serve para identificar sua origem, o vocabulário empregado na política vale como carteirinha de filiação, indicando devoção e militância. Você já sabe: "Chame-os do que você é, acuse-os do que você faz.".



Causa tristeza saber o quanto a educação brasileira está desfocada. Multidão de professores entra diariamente nas salas de aula com o intuito de capturar corações e mentes para a ideologia do atraso. Reproduzindo conduta histórica da KGB, dos partidos comunistas e da União Soviética, ensina seu auditório cativo, entre outras maledicências, a qualificar como fascista quem não segue sua cartilha. 



Que contribuição se pode esperar dessa miserável atividade pedagógica para o desenvolvimento social, econômico e cultural do país? Mal sabem tais professores que, quanto mais o país for levado na direção que pretendem, menos recursos haverá numa economia despida dos "odiosos" critérios de conhecimento, estudo, trabalho, mérito, competitividade e produtividade para lhes pagar o que gostariam de receber como remuneração de sua insidiosa tarefa.


http://puggina.org

O mundo contra as crianças

Escrito por Camila Hochmüller Abadie | 20 Maio 2016 

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Vocês percebem como o direito pode ser converter num instrumento de legitimação da mais pura malignidade quando descolado de qualquer referência a uma cosmovisão judaico-cristã?




O que publico abaixo são dois posts que escrevi essa semana no Facebook -- com alguns pequenos acréscimos. Não gosto de ficar replicando aqui o que posto lá, mas como há pessoas que nos acompanham somente pelo blog, achei por bem não deixá-las alheias a estes conteúdos, uma vez que eles (assim como uma infinidade de outros mais que poderiam ser listados também) apontam para uma terrível e cada vez mais acentuada e explícita tendência.


No primeiro post comento uma campanha de péssimo gosto:

A empresa americana de aviação JetBlue Airways promoveu uma campanha de sensibilização dos seus passageiros ao choro dos bebês. A estratégia (válida para um único vôo que serviu como matéria-prima para a produção de um vídeo) consistiu em dar um desconto de 25% no valor da passagem de todos os passageiros a cada vez que um bebê chorasse, de modo que se 4 bebês chorassem, todas as passagens sairiam de graça.
Vejam vocês a que ponto chegamos: as pessoas precisam ser subornadas em troca de um pouco de falsa compaixão e pseudo-paciência com bebês de colo.


Sinceramente, não consigo entender como algo assim possa gerar uma pretensa "sensibilização". Imagino que, na verdade, quem não está nem aí para as crianças (ou seja, a maioria das pessoas hoje em dia), deva ter ficado na torcida para que mais uma delas chorasse, para que mais uma delas se sentisse mal, para que mais uma delas sofresse algum incômodo. O que a JetBlue Airways patrocinou foi a monetização do choro das crianças, e isso passa longe, muito longe de gerar compaixão e compreensividade em alguém -- isso gera apenas sadismo e ganância. A que ponto chegamos.



Por outro lado, é claro que não é divertido. Se mesmo para nós, que somos mulheres e mães, é cansativo e, para algumas, até irritante, que dirá para homens desconhecidos. Porém, o normal é que isso faça parte da vida de indivíduos adultos em algum momento. Ou seja, não se trata (e nem deveria se tratar) de algo totalmente incomum e intolerável para pessoas normais, maduras e equilibradas. Além disso, é um incômodo provisório, de curta duração, não uma tortura que perdura dias sem fim. Resumindo, mesmo sendo desagradável, é algo com que as pessoas deveriam saber lidar fazendo valer a idade que possuem, e não reproduzindo o comportamento infantil de quem precisa de um conforto a mais para suportar um pequeno sofrimento.



Eu jamais aceitaria um desconto desse tipo. Muito provavelmente me sentiria até ofendida se me oferecessem algo assim. Sim, pois eu não mereço recompensa alguma por me portar como uma adulta e ser compreensiva com bebês que choram e com suas mães que se esforçam para acalmá-los. Isso não é uma opção, algo pelo qual eu mereça algum incentivo, estímulo ou pagamento. Isso é o meu dever enquanto ser humano adulto, que já foi bebê um dia, que já deu trabalho, que já chorou onde não devia e, sobretudo, que é mãe de quatro filhos. A que ponto chegamos.


No segundo, falo sobre a aprovação da pior lei que poderia surgir:


Não poderia haver notícia pior do que esta: no próximo dia 06, o parlamento canadense irá votar a favor da eutanásia sob quaisquer condições, isto é, basta que a pessoa queira morrer, mesmo que não esteja padecendo de um grande e irremediável sofrimento físico. Mas não é somente isso (como se não fosse horrível o bastante): em um prazo de 3 anos, a contar da aprovação da lei, o "benefício" poderá ser estendido a crianças, e com todo o incentivo e apoio da UNICEF (sim, aquela mesma organização que você achava que lutava pelos direitos das crianças). Eles entendem que escolher morrer é um direito que inclui as crianças e que elas não devem ser 'discriminadas' simplesmente por serem mais novas.


Vocês percebem como uma monstruosidade pode se tornar algo perfeitamente legal quando se tem uma moral relativista? Vocês percebem como o direito pode ser converter num instrumento de legitimação da mais pura malignidade quando descolado de qualquer referência a uma cosmovisão judaico-cristã? Não pensem vocês que coisas assim acontecem da noite para o dia. Não. 


A cada momento em que os indivíduos paulatinamente se afastam de Deus, que escolhem a moda, a opinião da maioria, a pura e simples mentira e autoengano, mais um pouco a sociedade cede, mais um pouco ela se enfraquece, mais um pouco ela se torna refém de agendas que só têm como objetivo a destruição do ser humano, a única criatura feita à imagem e semelhança de Deus. Não há saída para o Canadá fora do Cristianismo. Não há saída para o Ocidente fora do Cristianismo. Não há saída para o ser humano fora do Cristianismo.


"(...) no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo". São João, 16, 33.

http://www.encontrandoalegria.com


Carta aberta a Fernanda Montenegro


dfNão tomei conhecimento de qualquer mobilização da constelação de celebridades para contestar a fusão dos dois ministérios em virtude do prejuízo que a medida eventualmente possa causar aos que dependem do ensino público.

Prezada Senhora,



Sirvo-me da presente para fazer algumas considerações sobre a sua adesão à manifestação contra a decisão de fundir – sim, o governo interino procedeu à fusão das pastas, e não à extinção de nenhuma delas – o Ministério da Cultura e o Ministério da Educação, que passam a integrar o Ministério da Educação e Cultura (MEC), como o foi no passado. 


Para minha surpresa, a senhora fez a seguinte declaração: “Isso é uma tragédia. E o presidente interino vai pagar um preço alto por essa visão de um ministério que é sempre dotado de um orçamento miserável, mas é a base de um país”. 


Sua alegação é tão sintomática que requer uma análise acurada, o que passo a fazer adiante, embora eu não esteja convicta de estar à altura da incumbência. Preliminarmente, cumpre destacar a influência que a senhora exerce sobre o povo brasileiro, o que lhe atribui imensa responsabilidade sobre o teor das suas palavras. Uma pessoa com tamanho prestígio pode dar grande contribuição para um povo que atravessa tão difícil momento de transição política e econômica, como é o caso do Brasil.


Passando ao mérito, a senhora começa atribuindo à fusão das duas pastas a condição de “tragédia”, quando nossas verdadeiras tragédias são outras, entre as quais podemos citar: (1) a situação dos hospitais da rede pública; (2) a violência urbana – que, em 2015, levou à morte mais de 42 mil brasileiros –; (3) a epidemia do vício em drogas, cuja entrada no país foi extraordinariamente facilitada pelo criminoso relaxamento das fronteiras nacionais para execução das políticas estabelecidas pelo metagoverno que atende pelo nome de Foro de São Paulo; (4) o rombo dos fundos de pensão, que já prejudica milhões de aposentados e pensionistas que dependem disso para viver; (5) a corrupção sistêmica do governo que recebeu amplo apoio da classe artística, com raras e honrosas exceções; (6) o altíssimo índice de desemprego, que já ultrapassa 11 milhões de brasileiros e que tem levado ao desespero inúmeras famílias – se cada trabalhador tiver 3 pessoas economicamente dependentes, significa que 44 milhões de pessoas compartilham esta dramática situação, quase um quarto da população nacional –; (7) e a crise política e econômica, que obriga o governo interimo a cortar drasticamente os gastos públicos. Isso, senhora, são nossas verdadeiras tragédias.


Na frase seguinte, a senhora argumenta que “o presidente interino vai pagar um preço alto por essa visão (…)”. Vale perguntar – porque resisto a acreditar – se isso é uma ameaça. Bem, se a senhora pressiona com tom de intimidação o presidente interino – escolhido para ocupar o cargo de vice-presidente pela presidente que recebeu amplo apoio da sua classe –, que acaba de tomar posse e tem a desafiadora missão de ajustar as contas públicas, então, é bom lembrá-la que Michel Temer, assim como Itamar Franco, está na única situação em que o Brasil pode ser governado sem populismo, a maior praga da América Latina. Como ele não pretende se candidatar à Presidência da República, nas próximas eleições, não precisará submeter sua gestão aos caprichos de pessoas mimadas e egoístas, que usam discursos coletivistas para legitimar seus interesses pessoais e corporativistas.



Ainda na mesma frase, comentada no parágrafo anterior, a senhora explica a “visão” do presidente interino que reputa como “trágica”: a “visão de um ministério que é sempre dotado de um orçamento miserável”. Ora, nosso orçamento público é miserável sim! Aliás, assim como a ciência médica existe em razão da enfermidade, a ciência econômica existe para solucionar um problema – a escassez de recursos –, razão pela qual todo gestor, público ou privado, mesmo numa situação superavitária, tem a obrigação moral de fazer mais com menos.



No caso do orçamento público brasileiro, a situação é ainda mais grave, uma vez que esse tem um déficit de mais de 150 bilhões de reais, sem contar com o rombo das unidades federativas, das estatais e dos fundos de pensão. Ressalte-se, ainda, que a gravíssima situação dos cofres públicos é resultado da gastança criminosa do governo impedido pelo Congresso Nacional, e não do governo interino contra o qual a senhora se rebelou publicamente. A senhora, como formadora de opinião, deveria estar lembrando aos seus pares que só há duas maneiras de um governo alcançar o superávit: através do aumento da carga tributária ou por meio de corte nos gastos públicos. Considerando que o povo brasileiro já é espoliado com a dedução compulsória de 40% da sua renda, resta-nos a redução dos gastos. 



Então, eu lhe pergunto em que item a senhora propõe que os gastos públicos sejam cortados: (a) na saúde, (b) na segurança pública, (c) nos programas sociais (que, aliás, foram mantidos pelo governo interino), (d) na infraestrutura, ou (e) nenhuma das alternativas anteriores? Eu não duvido que a classe artística opte pela alternativa “e”, mas a senhora tem maturidade suficiente para saber que, assim, a conta não pode fechar.



Uma das lições de Margaret Thatcher era a seguinte: “Nunca esqueçamos uma verdade fundamental: o Estado não tem fonte de dinheiro senão o dinheiro que as pessoas ganham por si mesmas e para si mesmas. Se o Estado quer gastar mais dinheiro, somente poderá fazê-lo emprestando de sua poupança [que o Estado brasileiro definitivamente não tem] ou aumentando seus impostos [ou seja, tirando mais do povo]. 



Não há dinheiro público, há apenas dinheiro dos contribuintes”. Se para a gestão do orçamento doméstico não há mágicas, o mesmo serve para o orçamento público, pois ambos são regidos por leis matemáticas e contábeis, que não podem ser revogadas pelo decreto de um burocrata. Assim, a fatura da gastança do governo anterior, que recebe a apropriada alcunha de “herança maldita”, deve ser paga por toda a sociedade, e não pela população usuária de serviços públicos essenciais – como saúde, segurança e educação.



E por falar em educação, não tomei conhecimento de qualquer mobilização da constelação de celebridades para contestar a fusão dos dois ministérios em virtude do prejuízo que a medida eventualmente possa causar aos que dependem do ensino público. Não. A reclamação é somente com a “cultura”, nome mais palatável para o setor de entretenimento, que é o que realmente está em jogo aqui. A razão dessa atitude corporativista é simples: o que os senhores realmente estão exigindo é privilégio, já que, sem a proteção estatal, os preços dos shows, filmes e peças teatrais, evidentemente, subirão, e os senhores terão que, como todo brasileiro, experimentar o gosto amargo da crise econômica causada pelo governo que vocês mesmos apoiaram.



Ao arguir que entretenimento – como aconselharia Confúcio, vamos dar os nomes certos às coisas, até porque cultura é algo muito mais amplo – é “a base de um país”, a senhora está usando um discurso coletivista para defender a microesfera dos seus interesses pessoais, pois, embora seja realmente importante, não deve ser subsidiado pelo Estado, mas pago pelo usuário do serviço. Base de um país, minha senhora, e que só pode ser patrocinada pelo Estado, é saúde e educação (para os que não podem pagar), segurança, defesa e justiça. Essas são as obrigações estatais dos povos prósperos; o resto – francamente! – é serviço a ser pago pelo consumidor, e não pelos cofres públicos. 



No entanto, não é esse o entendimento do governo interino, pois, infelizmente, ele afirmou que dará mais verbas para a “cultura” e ampliará a Lei Rouanet, o que, diante de todo o exposto acima, eu lamento muitíssimo. Assim, a fusão dos dois ministérios terá como economia apenas a redução dos gastos com funcionalismo público (ordenados, gratificações e privilégios) e despesas de infraestrutura.



A senhora conclui: “Esse congresso aí pode achar que é uma bobagem, uma frescura ou coisa de veados ou de alienados ou… Esse governo, até quando ele existir na atual conjuntura do Temer (sic), vai sofrer um protesto violento, e eu estou neste protesto”. Torço para que o presidente interino não sucumba às ameaças e intimidações da sua classe e corte o que for lícito cortar para o bem do nosso povo, que é quem paga a conta da inconsequência dos senhores.




Mônica Lustosa é advogada, especialista em propriedade intelectual e diretora jurídica da HoodID – Registro de Direitos Autorais Online.

Publicado no site do Instituto Liberal.