segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O Estado de S. Paulo – Caindo aos pedaços / Editorial


A cidade de São Paulo ainda não está caindo aos pedaços, mas o estado periclitante das estruturas de algumas de suas principais pontes e viadutos dá razão a quem teme pelo pior. Há obras que esfarelam a olhos vistos. Chuvas simples, que em outras cidades não fazem mais do que molhar transeuntes, aqui podem provocar sérios danos a construções, sem falar na incompatibilidade que há entre os semáforos e a água.

A Prefeitura deve explicar à população, com clareza e rapidez, por que a cidade mais rica do País expõe os paulistanos a tamanhos riscos. Mais do que isso, deve tomar todas as medidas necessárias para evitar danos físicos e patrimoniais aos munícipes.

Há pouco, no feriado de 15 de Novembro, um viaduto cedeu 2 metros na Marginal do Pinheiros, sentido da Rodovia Castelo Branco, na região do Parque Villa-Lobos. Por mero acaso não houve mortes, já que carros trafegavam no local quando ocorreu o colapso da estrutura. A administração do prefeito Bruno Covas (PSDB) foi avisada pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de que a construção tinha danos em seus pilares três meses antes do desmoronamento. Pelo que se viu, nada foi feito.

No fim do mês passado, a Prefeitura interditou a alça de acesso à Rodovia Presidente Dutra, na Marginal do Tietê, por risco de queda iminente. A via deverá passar por obras para reparar várias rachaduras e não há prazo para reabertura do local ao tráfego.

Após a queda do viaduto em novembro, a Prefeitura baixou o Decreto n.º 58.516/2018, que instituiu o “Comitê de Crise de Pontes e Viadutos”. O órgão tem como um de seus objetivos “coordenar, acompanhar e monitorar medidas preventivas ou reparadoras” das pontes e dos viadutos da cidade. Na quarta-feira passada, a Prefeitura concluiu a primeira fase de vistorias em pontes e viadutos de São Paulo.

O parecer dos avaliadores recomenda “estudos de engenharia urgentes” em 16 das 33 obras avaliadas. Mais da metade das pontes e viadutos periciados apresenta severos riscos estruturais. Isto é inconcebível em uma cidade como São Paulo, com os recursos financeiros e humanos que tem para lidar com questões como essa. Duas empresas serão contratadas pela Prefeitura em caráter emergencial – portanto, sem licitação – para realizar os estudos e reparos nas obras.

Os 33 pontos periciados compõem um lote tido como prioritário por reunir as obras que apresentam maior grau de riscos em suas estruturas. Na verdade, são 73 as pontes e viadutos da cidade cuja manutenção vem sendo cobrada pelo Ministério Público Estadual (MPE) desde a administração de Gilberto Kassab (PSD), de 2007 a 2012. Para chegar às 33 obras, a Prefeitura fez uma “inspeção visual” em todas as pontes e viadutos a fim de identificar aqueles que precisariam de ações urgentes.

É importante dizer que, de acordo com os laudos técnicos das inspeções desta primeira fase, aos quais o Estado teve acesso, não há risco de colapso iminente em nenhum dos 16 viadutos mais avariados. Mas essa não é uma informação capaz de dar alívio aos cidadãos, já que na maioria deles é possível ver juntas de dilatação deterioradas, armações expostas e vigas com danos por colisões, entre outros problemas. O fato de não haver risco imediato de queda, segundo os laudos, apenas torna a situação menos apavorante. “Nós temos vários problemas visuais, mas não temos conhecimento se esses problemas apresentam ou não riscos às estruturas”, disse o prefeito Bruno Covas. Pois é fundamental que se saiba, o mais rápido possível.

Na terça-feira, dia 5, a Prefeitura interditou também um trecho da marquise do Parque do Ibirapuera. Uma vistoria preventiva identificou “danos na impermeabilização, infiltrações, pontos de segregação do concreto e corrosão da armadura” da marquise, construída em 1954. É bom que haja vistorias em toda a cidade. Como o que está em jogo, em última análise, é a vida de paulistanos e visitantes, zelar pela robustez das estruturas da cidade deve ser prioridade da Prefeitura.