quarta-feira, 1 de junho de 2016

Mãos à obra---Michel Temer





Eu quero dizer que é com extraordinária satisfação que damos posse hoje aos novos presidentes da Petrobras, do BNDES, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e do Ipea.


E devo registrar até que estamos nomeando também o Dr. Paulo Rabello de Castro para o IBGE. Apenas não está - merecidos aplausos -, não está tomando posse hoje em face de viagem que fez dias atrás, mas será o presidente do IBGE.


Todos naturalmente são profissionais com relevantes serviços já prestados ao Brasil. Pessoas públicas que tem o perfil que queremos imprimir ao Estado brasileiro, ou seja, um perfil de competência e eficiência.


       Isto agora é mais do que fundamental porque o País, não vamos ignorar, se encontra mergulhado em uma das grandes crises da sua história. Uma conjugação de graves problemas ocasionados por erros dos mais variados ao longo do tempo, comprometeram a governabilidade  e a qualidade de vida da nossa gente.


Vou dizer obviedades, e os senhores leem, e as senhoras, diariamente pelos jornais. Já são mais de 11 milhões de desempregados. A inflação ainda inspira vigilância. O déficit  de R$ 96 bilhões na conta pública, apontado pelo governo anterior, atinge, na realidade, como sabemos, a casa de mais de R$ 170 bilhões. Esse é o cenário em que assumimos o governo.


Mais tenho a mais absoluta convicção de que é possível reverter esse quadro, retomar a confiança e o crescimento. É neste esforço que nós todos, e tenho absoluta convicção, não só os membros do governo mas as figuras expressivas da área empresarial, da área dos trabalhadores, que estão aqui no auditório, levarão adiante.


Devo até dizer que em menos de 20 dias, de vez em quando eu vejo o noticiário e a impressão que eu tenho é que já estou com três ou quatro anos de governo. Mas o que eu quero dizer é que em menos de 20 dias, hoje é o 19° mesmo porque conto o dia a dia, já pudemos apresentar ao País uma agenda positiva de reconstrução nacional.


Reduzimos a estrutura da administração pública de modo a torná-la mais ágil e eficiente. Obtivemos, no Congresso, depois de longa discussão, a aprovação da nova meta fiscal e estamos também encaminhando também ao Congresso projeto de limita despesa, estabelecendo um teto para os gastos públicos.


Aqui devo dizer aquilo que em momentos de dificuldades se diz: nós teremos sacrifícios. Agora, quero registrar para não haver exploração no sentido contrário, e sem embargo da redução, da limitação das despesas, os percentuais referentes a saúde e a educação não serão modificados. Porque muitas e muitas vezes ouço, vejo, ouço, leio afirmações de que esse governo vai destruir tudo que diz respeito àquilo que mais toca aos setores socais. Então faço questão de enfatizar e até peço que, ao ouvirem o que estou dizendo, grifem essa parte.


Nós sabemos que todas essas medidas não resolverão da noite para o dia os nossos imensos problemas, mas é preciso imediatamente recuperar a confiança do povo brasileiro no seu futuro. É urgente, urgentíssimo, reencontrar o caminho do crescimento econômico e da geração de empregos de qualidade.

Por isso, eu quero reiterar meu compromisso com a união do País. Temos que nos dar as mãos na tarefa de juntar os contrários em um extraordinário esforço de colocar os interesses do Brasil acima dos interesses dos grupos.


Eu até peço desculpas de ser tão repetitivo porque há meses e meses eu venho falando isso. Mas tenho absoluta convicção também que se não houver esse pensamento unitário nacional que gera a partir do pensamento, a ação e a execução, fica difícil sair da crise.


Nesse particular até, eu tenho agradecido enormemente ao Congresso Nacional porque hoje temos uma base parlamentar consciente, consequente, que é capaz de ficar até às cinco horas da manhã para aprovar as medidas urgentes do Estado brasileiro.


       Vocês, que hoje tomam posse, e daí as razões dessas palavras inaugurais, assumirão a direção de importantes instituições do Estado brasileiro. Terão, portanto, papel fundamental no enfrentamento dos desafios que temos pela frente.


Os senhores percebem que nós estamos criando uma equipe econômica da melhor suposição, uma equipe econômica que é aplaudida em todos os setores da sociedade. E com este conjunto que hoje toma posse reforça-se mais uma vez a ideia de uma equipe econômica que tem os olhos voltados para o Brasil. Até porque, digo eu, já não existe no Brasil espaço para um Estado inchado e ineficiente.


O Estado que a sociedade brasileira quer, pensamos nós, é o que oferece oportunidades para o progresso e para o empreendedorismo. E, evidentemente, pautado pela ideia de ordem. A ideia de ordem é uma ideia que gera progresso e incentiva o empreendedor.


Um Estado que cria condições para o crescimento econômico sustentado, único meio de preservar e ampliar conquistas sociais efetivamente duradouras, que, reitero, nós vamos manter. O Estado que queremos não é grande, nem pequeno. Não é o Estado máximo nem mínimo. É um Estado suficiente. E porque suficiente, eficiente.


Vocês, que hoje tomam posse, ajudarão a conduzir o processo de consolidação em nosso País desse Estado que deve ser de todos. Vocês sabem o que encontrarão. Não falarei em herança de espécie nenhuma. Até precisamos modificar esses hábitos que se instalaram no Brasil como se o passado fosse responsável pelo presente.

Por isso, reitero, não falarei em herança de espécie nenhuma, apenas revelo a verdade dos fatos para que eventuais oportunistas não venham a debitar os erros dessa herança ao nosso governo. Como diz o outro, até ouço dizer, que o governo Temer, que tem 19 dias, tem 11 milhões e meio de desempregados. Percebem?
A Petrobras, aliás, Pedro Parente, é o melhor exemplo da difícil situação que enfrentamos. Uma empresa que encheu de orgulho os brasileiros durante décadas, mas que foi vitimada por práticas que a desmerecem. Empresas dessa importância devem ser cuidadas, valorizadas e recuperadas.


Para liderar essa empreitada, acho que ninguém melhor que você, Pedro Parente, que dedicou grande parte da sua vida ao serviço público com imensas dedicação e competência.


E todos esperam é que você, com o apoio de todos, daqui a algum tempo, faça com que tenhamos orgulho da nossa Petrobras. Que voltemos os olhos aos tempos em que eu era estudante de direito da faculdade lá de São Francisco e trabalhava pelo Petróleo Nosso, mas com certeza que isso vai retornar com a sua gestão.


Outra instituição crucial na construção da moderna economia brasileira é o BNDES. A escolha de Maria Silvia Bastos Marques para presidir o BNDES me dá e ao governo uma enorme tranquilidade. Maria Silvia é uma pioneira e um exemplo em tudo o que fez no passado e certamente em tudo o que fará no futuro.


Ao lado do BNDES, o Banco do Brasil é um dos pilares do Estado em sua missão de concorrer para o financiamento do nosso desenvolvimento. Paulo Rogério Caffarelli conhece o Banco do Brasil por dentro. Começou, se me perti relembrar, começou como menor aprendiz, e, nele, tornou-se funcionário de carreira até chegar à presidência. Portanto, tem essa intimidade com o Banco do Brasil.
Outro órgão de especial relevância para a promoção do desenvolvimento é a Caixa Econômica Federal. Gilberto Magalhães Occhi tem perfeita consciência disso. É outro presidente que conhece por dentro a instituição que conduzirá.


O Ipea, Ernesto Lozardo, é um celeiro de ideias e você, que eu conheço há muito tempo, sei que é um grande produtor de ideias. E como produtor de ideias não é alguém que produz ideias abstratas, porque ideias abstratas geram sempre diagnósticos. Nós não precisamos de diagnósticos, nós precisamos de soluções. Mas você não é de ideias abstratas, você é de projetos que alimentam a formulação de politicas públicas consistentes. Portando, você está plenamente habilitado a valorizar e a fortalecer a instituição.


Quero mais uma vez revelar a alegria que tenho de, muito brevemente, nós darmos posse ao Paulo Rabello de Castro, que vai conduzir o IBGE, e todos o conhecem e sabem das suas qualificações profissionais, ou seja,  nós estamos escolhendo pessoas capacitadas tecnicamente e sobre serem capacitadas tecnicamente, tem consciência dos problemas nacionais e conhecerem profundamente o País.


Portanto, se me permitem dizer, eu confio em cada um de vocês nesta etapa decisiva da vida nacional. A mensagem que transmiti a cada um acho que ficou claro.


A Petrobras, o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Ipea, o IBGE, são patrimônio não deste ou daquele governo, não deste ou daquele político, são patrimônio do conjunto da sociedade brasileira. Esta é a grande realidade.


Daí porque minha orientação é simples. Ela se resume a alguns poucos, mas espero adequados conselhos: trabalhar duro; ter um interesse público como horizonte; preservar a ética e a transparência na gestão e em todas as decisões; estimular a eficiência e os eficientes; estar em sintonia com os anseios da sociedade e ser absolutamente intransigente com tudo que se afaste da estrita legalidade.


E nesse particular eu quero revelar, pela enésima vez, que ninguém vai interferir na chamada Lava-Jato. A toda hora eu leio uma ou outra notícia de que o objetivo é derrubar a Lava-Jato, por isso que eu tomo a liberdade, sem nenhum deboche, de dizer pela enésima vez: não haverá a menor possibilidade de qualquer interferência do executivo nessa matéria.


Por isso, eu desejo a cada um, êxito em suas missões, em suas gestões que deverão atender aos imperativos da transparência e da eficiência que a sociedade brasileira, com toda razão, exige de todos nós. Portanto, mãos à obra e muito obrigado a vocês.

Discurso proferido na cerimônia de Posse dos novos presidentes do BNDES, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, da Petrobras e do Ipea.

Temer deveria interferir na Lava Jato

1 de Junho de 2016



Por Diogo Mainardi

Depois de 19 dias, Michel Temer iniciou seu governo.

E iniciou nomeando os presidentes da Petrobras e do BNDES, os dois maiores desfalques do PT.

Em seu discurso, Michel Temer repetiu:

"Pela enésima vez: ninguém vai interferir na Lava Jato".

Está errado. Ele deveria interferir na Lava Jato. De que maneira? Fazendo uma devassa na Petrobras e no BNDES e entregando todas as provas aos procuradores federais.

Michel Temer deve seu governo à Lava Jato. Ele deveria retribuir chamando a Lava Jato para governar junto com ele.

Em particular, nos acordos com as empreiteiras.

Dilma Rousseff tentou aprovar uma lei pilantra que atropelava o Ministério Público e anistiava todos os criminosos.

Michel Temer pode fazer o oposto, convocando o juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato para discutir abertamente uma nova lei. Ninguém entende mais do assunto do que eles.

Assim como a Petrobras e o BNDES, a Lava Jato é um patrimônio nacional. Se Michel Temer souber valorizá-la, poderá construir uma saída para o capítulo mais vergonhoso de nossa história.

Estupro, ampliação da pena e imoralidade das esquerdas. Ou: Esquerdistas usam vítimas como meras bandeiras




Projeto aprovado no Senado majora de um terço a dois terços pena para estupro coletivo. Sou favorável. Mas há muito mais a ser dito

Por: Reinaldo Azevedo
Sempre que se tenta agravar a pena de alguns crimes que chocam a sociedade, as esquerdas saem por aí a vociferar contra o que consideram “populismo jurídico”. Estamos diante de um caso que rende um bom debate.

Em maio de 2015, um grupo de quatro menores e um adulto torturou e estuprou quatro adolescentes na cidade de Castelo do Piauí, a 190 km de Teresina. As garotas, em seguida, foram jogadas de um penhasco de cinco metros. Os estupradores ainda alvejaram suas cabeças com pedradas. Uma delas morreu.

A senadora Vanessa Graziottin (PCdoB-AM) apresentou, então, um projeto agravando a pena para estupro quando na modalidade “coletivo”. No seu texto, a pena passava a ser majorada em um terço no caso de haver dois ou mais estupradores.

Para saber: hoje em dia, o Código Penal prevê pena de 6 a 10 anos para estupro de homem ou mulher; de 8 a 12 anos caso a vítima tenha entre 14 e 18 anos, e de 8 a 15 anos para o estupro de vulneráveis (menores de 14 anos) ou deficientes.

A relatora da proposta, Simone Tebet (PMDB-MS), promoveu duas alterações: a depender das circunstâncias, a majoração para estupro coletivo pode ser de até dois terços, a critério do juiz. O texto  passa a punir também a divulgação de tais atrocidades, por qualquer meio, com pena específica: de dois a cinco anos de reclusão. Para ler os documentos pertinentes, clique aqui.

O projeto foi aprovado em votação simbólica, sem nem passar pela CCJ — para tanto, é preciso a concordância dos líderes, o que se deu — e segue para a Câmara. Disse Simone: “Os crimes de violência contra a mulher, infelizmente, na maioria das vezes, tomam o rumo da impunidade. Mais ainda, da invisibilidade. A não ser em casos como do Rio de Janeiro, quando aparecem nas manchetes (…), mas a maioria dos casos passa ao largo das lentes de nossas retinas”.

Contra ou a favor?
É claro que não vou me opor à medida, ainda que reconheça a sua inocuidade. É evidente que haver mais um estuprador na cena aumenta a covardia. Que se agrave a pena então, embora eu acredite que, nesse caso, a majoração não coíbe o ato.

O que me pergunto é por que não houve tal celeridade quando se tentou votar a redução da maioridade penal para punir devidamente monstros como aqueles do Piauí — sempre destacando que eles próprios já estariam protegidos pela impunidade, já que a lei, se alterada, não poderia retroagir. Aí, as mesmas lideranças de esquerda que agora aplaudiram a aprovação da proposta de Graziottin fizeram um escarcéu danado. Contra a redução da maioridade.

Assim, a gente aprende que, para as esquerdas, há ao menos uma circunstância em que o estupro não é assim tão grave: quando praticado por menores. Nesse caso, há o “desagravamento” da pena, e passa a valer a impunidade. Se o estuprador tiver 17 anos, tão logo cumpra medidas socioeducativas, vai para a rua. E com a ficha limpa.

Aliás, a própria Graziottin e seu partido saíram gritando por aí que a redução da maioridade penal era coisa da bancada da bala, não é mesmo? Digam-me uma coisa: o que é mais frequente no país: crimes graves cometidos por menores ou estupros coletivos? A resposta é óbvia. E, no entanto, o país vai agravar a pena em um caso — e não me oponho — e manter a impunidade no outro.

Afirmei num texto na manhã desta terça que as esquerdas não gostam de pessoas, mas de causas. Fátima Bezerra (PT-RN), senadora que tem uma das retóricas mais detestáveis da Casa, afirmou: “Desculpem-me a palavra forte. Deixamos o Congresso Nacional, pela ação, infelizmente, de uma bancada de perfil fundamentalista, conservador, acabar sendo conivente com essa situação à medida que deixa florescer e deixa prosperar iniciativas legislativas aqui dentro que fomentam essa cultura da violência. Que é isso? Que projeto de lei é esse que criminaliza as mulheres vítimas do estupro, quando está lá inclusive na própria legislação que elas têm direito”?

Esta senhora se referia, no fim das contas, a projetos que ela entende que dificultam o aborto. Sim, senhores! Fátima acha que se opor ao aborto corresponde a ser conivente com o estupro. É uma gente asquerosa! Aliás, deputadas e senadoras de esquerda usaram o caso do possível estupro coletivo no Rio para fazer militância em favor da interrupção da gravidez.

O lixo moral da esquerda brasileira talvez não tenha paralelo na história do pensamento.

Como eu havia previsto no texto da manhã desta terça, a garota que diz ter sido estuprada por 33 homens no Rio deixou de ser uma mulher para ser uma bandeira. E, como estava escrito na estrela — do partido —, o estupro virou apenas o pretexto da luta pró-aborto.

Essa gente, definitivamente, não tem vergonha.

A multiplicação de patetas - JOSÉ CASADO

terça-feira, maio 31, 2016



O GLOBO - 31/05

De Sarney a Lula, de Dilma a Renan, o que choca é a naturalidade da conivência, o ambiente de cumplicidade, a consciência de ilícitos, sem lembrança do interesse público



A conversa ganhou um tom confessional:

— O Michel, presidente... Eu contribuí pro Michel.

— Hum...

— Não quero nem que o senhor comente com o Renan. Eu contribuí pro Michel pra candidatura do menino... Falei com ele até num lugar inapropriado... na Base Aérea.

— Mas alguém sabe que você me ajudou?

— Não, sabe não. Ninguém sabe, presidente.

Com oito décadas e meia de vida, seis delas dedicadas ao artesanato da imagem de raposa política, o ex-presidente José Sarney conversou com o aliado Sérgio Machado com a naturalidade de quem se imagina com poder de influir sobre ministros do Supremo ou qualquer magistrado. Efeito, talvez, de meio século de interferências em indicações, promoções e remoções de juízes.

Na intimidade caseira, assentado na longa convivência e conivência com Machado, sentiu-se confortável para confessar a “ajuda” secreta do ex-presidente da Transpetro, que sabia estar sob investigação por corrupção em negócios feitos durante uma década no grupo Petrobras.

Trombou no gravador ambulante e, pela própria voz, colocou-se sob suspeitas. A “contribuição” sigilosa e outras transações agora devem ser expostas pelo mais novo “colaborador do complexo investigatório denominado Caso Lava-Jato” — identificação de Machado no acordo recém-homologado pelo juiz Teori Zavascki.

Hipocondríaco, Sarney procurava um elixir político, como também faziam Lula, Dilma Rousseff, Renan Calheiros, Romero Jucá e outros do PT, PMDB, PP e PSDB. Lula, por exemplo, começara o ano mobilizando sua tropa aliada no Congresso para modificar a essência das leis sobre colaboração de pessoas físicas e empresas. A origem delas remonta a abril de 1989 na Câmara, na comissão criada por iniciativa de Miro Teixeira, com participação de Michel Temer, relator, do então deputado Sigmaringa Seixas, hoje advogado de Lula, e José Genoino, ex-presidente do PT.

Lula, com a mesma singeleza de Sarney, julga decisivo o seu seu poder de influência. Na manhã de segunda-feira, 7 de março, por exemplo, queixava-se ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, dos “meninos” do Ministério Público: “Eles se sentem enviados de Deus”. Paes concordou: “Os caras do Ministério Público são crentes, né?”. Lula reforçou: “É uma coisa absurda (...) Eu acho que eu sou a chance que esse país tem de brigar com eles pra tentar colocá-los no seu devido lugar. Ou seja, nós criamos instituições sérias, mas tem que ter limites, tem que ter regras...” Antes de dormir, falou ao advogado Sigmaringa Seixas de sua frustração com Rodrigo Janot. Lula entendia que ele tinha um dever a cumprir, a genuflexão em agradecimento por nomeá-lo procurador-geral da República: “Essa é a gratidão... Essa é a gratidão dele por ele ser procurador” — lamentou.

De Sarney a Lula, de Dilma a Jucá e Renan, os grampos escandalizam porque expõem o modo arcaico de se fazer política no Brasil. Há delitos previstos no Código Penal. Chocante, porém, é a naturalidade da conivência, o ambiente de cumplicidade, a consciência de ilícitos dos agentes públicos. É notável que os diálogos gravados não contenham sequer resquícios de lembrança do interesse público, ou mesmo referências à honestidade. Convergem na intenção de “acabar” com as investigações, em autodefesa. Talvez seja o milagre da multiplicação de patetas.


As mal-ajambradas explicações de Dilma - EDITORIAL O GLOBO

terça-feira, maio 31, 2016



O GLOBO - 31/05

Em entrevista, Dilma repete a visão delirante do ‘golpe’ e ainda defende a ideia risível de que em 2014 era muito difícil perceber que o Brasil estava em crise. Não lia jornais



Antes de ser afastada da Presidência, no início da manhã de 12 de abril, Dilma Rousseff, entrincheirada no Planalto, cumpriu uma intensa agenda de comícios indoor, em que, inflamada, repetiu a tese ilusória de que estava sendo vítima de um “golpe”.

Não adiantou. O Senado acolheu o pedido de impeachment por crimes de responsabilidade, devido a infrações graves contra o princípio da responsabilidade fiscal e a lei orçamentária, passando a correr o prazo de até 180 dias para seu efetivo julgamento pela Casa, sob a presidência do ministro responsável pelo STF, Ricardo Lewandowski.

A presidente afastada guardou algum silêncio até este domingo, com a publicação de uma entrevista à “Folha de S.Paulo”, em que aproveitou para desdobrar a tese esperta do “golpe” — comprada internamente por militantes, e, no exterior, por aliados, simpatizantes e desavisados —, colocando-se, mais uma vez, como vítima do deputado, também afastado, Eduardo Cunha. Convém apresentar-se como alvo de uma unanimidade nacional — negativa.

Dilma bate na tecla, também nada verossímil, de que o impeachment visa a desmontar a Lava-Jato, como se ela, Lula e o PT não houvessem tramado contra a Operação. O mais lógico, e menos custoso, seria eles reforçarem a aliança com certas parcelas do PMDB em torno deste objetivo comum.

Outro falseamento da realidade — já explorado por Dilma — é culpar a oposição por criar obstáculos a tentativas de o governo enviar reformas ao Congresso. Ora, os governos do PT se notabilizaram por evitar e sabotar reformas. Com a exceção de mudanças no sistema previdenciário do servidor público, iniciadas no primeiro mandato de Lula e completadas apenas em fins de 2015, já no segundo mandato de Dilma. Demorou muito.

Mais dessintonizada ainda da realidade foi a resposta da presidente afastada quando questionada sobre o fato de ter defendido um programa de governo na campanha à reeleição e aplicado outro, um caso irretocável de estelionato eleitoral.

Na visão edulcorada de Dilma, o governo e nem ninguém perceberam que o Brasil havia entrado em crise. Ora, ora. No ano da campanha, 2014, o PIB já desacelerava, o emprego rateava. Numa interpretação benévola com Dilma, ela deixou de ler a imprensa profissional a partir de 2012/13, desde quando veículos como O GLOBO começaram a alertar para os erros de política econômica e os consequentes sinais, cada vez mais fortes, de que viria uma explosão fiscal.

Se a presidente no aguardo do impeachment, assessores e seguidores esperavam melhorar de situação, com a entrevista, frustraram-se. Dilma continua a viver em um mundo próprio, em que a vida real se subordina à vontade política. Engano fatal, por certo.


Quem quer o “fora Temer” quer o “volta Dilma”, ou seja, um cataclismo total

31 de maio de 2016 By Rodrigo Constantino


Que boa parte da esquerda demonstre agir sempre de forma irresponsável já é um fato bastante evidente. Mas espanta ver que não há limites para essa irresponsabilidade. Alguns esquerdistas têm colocado suas emoções mais tribais acima de qualquer preocupação para com o país, e por revanchismo ou luta desesperada por manter privilégios insustentáveis, têm ameaçado o Brasil todo com seus gritos de “Fora, Temer”. Quem assim pensa deveria se perguntar qual a alternativa: a volta de Dilma? O editorial do Estadão comentou sobre isso hoje:


A presidente Dilma Rousseff parece acreditar que, ao se manifestar sobre seu governo e seu afastamento, angaria simpatia e, assim, afasta a hipótese altamente provável de seu impeachment. Sempre que a petista abre a boca, porém, fica claro para o País que, se seu governo já foi desastroso, seu eventual retorno à Presidência seria um cataclismo, pois a administração seria devolvida a quem se divorciou completamente da realidade. No mundo em que vive, Dilma se confunde com Poliana: não cometeu nenhum erro, não é responsável pela pior crise econômica da história brasileira e só foi afastada em razão de um complô neoliberal operado pelo deputado Eduardo Cunha, e não porque a maioria absoluta dos brasileiros exige seu impeachment.


“Temos que defender o nosso legado”, disse à Folha de S.Paulo a presidente responsável por recessão econômica, desemprego crescente, inflação acima da meta e contração da atividade, do consumo e do investimento, além de um rombo obsceno nas contas públicas. Foi essa herança, maldita em todos os sentidos, que criou o consenso político em torno do qual o Congresso faz avançar o impeachment. Assim, quando fala em seu “legado”, não é à dura realidade que Dilma está se referindo, mas sim à farsa segundo a qual seu governo beneficiou os mais pobres – justamente aqueles que mais sofrem com a crise que ela criou.
[…]
“A crise econômica é inevitável”, ensinou Dilma na entrevista. “O que não é inevitável é a combinação danosa entre crise econômica e crise política. O que aconteceu comigo? Houve uma combinação da crise econômica com uma ação política deletéria.” Segundo a petista, o Congresso, dominado por forças malignas que tinham a intenção de criar um “ambiente de impasse propício ao impeachment”, sabotou todas as “reformas” que ela queria aprovar. Ou seja, Dilma teima em não reconhecer que o clima hostil que ela enfrentou no Congresso foi resultado de sua incrível incompetência administrativa, potencializada por descomunal inabilidade política e avassaladora arrogância. Prefere denunciar a ação de “inimigos do povo” contra seu governo.


Finalmente, convidada a dizer quais erros acha que cometeu, Dilma respondeu: “Ah, sei lá”.


O grau de desconexão com a realidade chegou a patamares assustadores em Dilma. Ela parece mesmo ter se convencido de suas narrativas fajutas, e vive no mundo da Lua, num universo paralelo que construiu para não enfrentar a dura realidade. Até Lula, segundo Sarney, considerou a escolha de Dilma como seu pior erro. Dilma é desequilibrada, incompetente, autoritária, e sem dúvida contribuiu bastante para o debacle do lulopetismo, pois acelerou todos os problemas que o modelo pariu.


Aqueles que gritam “Fora, Temer”, portanto, estão querendo ver o circo pegar fogo, acham que o Brasil aguentaria um retorno de Dilma. O psicanalista que pensa assim não entende que seu consultório ficaria às moscas; o artista que diz isso não compreende que não haveria público para seus shows e nem verbas polpudas pela Lei Rounaet; o professor “intelectual” finge não saber que o caos seria tanto que nem a estabilidade de emprego dele estaria garantida.

Vejam quem realmente se beneficia do estado na Venezuela: cada vez menos gente, pois a coisa implodiu. As mamatas duram até o dinheiro dos outros acabar. Na Venezuela de Maduro, ele acabou. Mesmo os “amigos do rei” estão em situação delicada, com falta de energia, de alimentos, do básico na saúde. Quando o socialismo extrapola de determinado ponto, é tarde demais: o cenário de terra arrasada não favorece nem os socialistas pendurados nas tetas estatais.

Eliane Cantanhêde, em sua coluna de hoje no Estadão, também fala do assunto, destacando o óbvio, que é sistematicamente ignorado em nosso país. Restam poucas alternativas concretas, e quem pede a cabeça de Temer parece preferir o caos anárquico ou um mergulho no escuro institucional com “novas eleições”. Diz ela:
Perguntar não ofende: qual o objetivo de quem é contra o impeachment de Dilma Rousseff e está queimando pneus em estradas, invadindo prédios da Cultura, gritando “Fora Temer” na parada LGBT, exibindo cartazes no exterior para dizer que “there is a coup in Brazil”? E qual o objetivo de quem é a favor do impeachment, mas torce contra o governo interino de Michel Temer, condena as propostas para combater o rombo das contas públicas e repudia a indispensável reforma da Previdência?

Tanto quem é a favor quanto quem é contra o afastamento de Dilma tem de ter em mente a responsabilidade coletiva com a história e que só há três saídas para um país mergulhado em tantas crises. Fora disso, não há alternativa, a não ser anarquia.

Uma saída é dar uma trégua para Temer governar e a equipe de Henrique Meirelles tentar por a economia em ordem nesses dois anos e meio, para entregar para os eleitores em 2018 um país razoavelmente saneado.
[…]
A saída número 2 é a volta de Dilma. Sério mesmo, alguém deseja de fato a volta de Dilma, com sua incapacidade de presidir o País, negociar com o Congresso, ouvir os conselhos do padrinho Lula ou, aliás, ouvir qualquer expert de qualquer área sobre qualquer coisa? No aconchego dos seus lares, na convivência com familiares, amigos e vizinhos e nas conversas com seus travesseiros – e com o próprio Lula –, será que os petistas de raiz querem mesmo a volta de Dilma?
[…]
A opção 3 (dos favoráveis e contrários ao impeachment) seria a antecipação de eleições diretas, empurrando Temer ou Dilma para a renúncia (dependendo de o Senado confirmar ou não o impeachment), ou dando um golpe branco e mudando a Constituição por questões conjunturais. E o que viria depois? Uma eleição às pressas, sem que os partidos tivessem se preparado e sem candidatos à altura da crise. Dá um frio na espinha pensar nos aventureiros que se lançariam como salvadores da pátria, da ética, da economia, dos “bons costumes”, da “ordem” deles, do “progresso” deles.

Isso não é brincadeira. O seguro, que morreu de velho, recomenda respeitar a Constituição, o Congresso que o eleitor elegeu e a posse do vice que 2014 jogou no Jaburu, na perspectiva de assumir com o afastamento constitucional da presidente. Vale, sim, gritar contra muitas coisas, inclusive a nomeação de um ministro da Transparência indicado, ora, ora, pelo senador Renan Calheiros. Mas o esforço para derrubar Temer, neste momento, é trabalhar contra o Brasil.

Como discordar? Ruim com Temer, pior sem ele. É o que as pessoas com bom senso sabem ser verdade, ainda que algumas não possam dizê-lo abertamente. André Leite, da TAG Investimentos, escreveu um comentário certeiro sobre o assunto:

Dilma já sabemos o que esperar, incompetência administrativa, falta de governabilidade e aparelhamento do estado. Até 2018 estaremos rivalizando com a Venezuela como pior pais do continente.

Temer começou com alguns erros e muitos acertos. O plano de limitação de gastos é simplesmente fantástico e pode ser o Plano Real II, caso aprovado.

No entanto o governo Temer sofre na mídia e entre os formadores de opinião uma verdadeira ‘caçada ao Bismark’, hoje escutei na Jovem Pan que o Temer tem que acertar logo. Jizuis! O cara não tem nem 2 semanas de governo, pegou os computadores com dados apagados e uma máquina aparelhada sabotando ele. E querem já um gol atrás do outro. A nossa amiga Dilma depois de ter destruído o pais ainda contava com boa vontade de boa parte do establishment.

Vamos dar (e apoiar) ao menos por 100 dias o Governo Temer?  As ideias postas sobre a mesa são muito boas.

O abismo econômico que nos espera caso ele não tenha sucesso fará 2015 e 2016 parecerem um passeio no parque.

Diogo Mainardi, em O Antagonista, concordou com Cantanhêde também. Há gente da direita, infelizmente, atacando a saída pelo impeachment e com Temer até 2018. É um erro. É fazer o jogo da esquerda, do próprio PT, de Marina Silva, que é o PT com embalagem de clorofila orgânica.

O Brasil tem uma chance de não afundar de vez. Essa chance é delicada, tênue, pois depende de políticos que, sabemos, não são flor que se cheire. Mas quem ignora a real alternativa não entendeu bem a situação em que nos encontramos, ou quer mesmo tocar o terror e ver o país derreter de vez. Eu prefiro não virar a Venezuela. E você?



Rodrigo Constantino

OEA aciona pela primeira vez na história Carta Democrática contra Venezuela



  • 31/05/2016 18h34
  • Brasília
Heloisa Cristaldo - Repórter da Agência Brasil

A Organização dos Estados Americanos (OEA) acionou a chamada Carta Democrática Interamericana contra a Venezuela. Essa é a primeira vez na história que o instrumento é solicitado, o que implica a abertura de um processo que pode levar à suspensão do país daquele organismo regional.
O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, anunciou hoje (31) o pedido de convocação de um conselho permanente dos Estados-membros, entre 10 e 20 de junho, para discutir a “alteração da ordem constitucional” naquele país e “como a mesma afeta gravemente a ordem democrática”.

“Na Venezuela, perdeu-se a finalidade da política. Esqueceu-se de defender o bem maior e coletivo a longo prazo sobre o bem individual a curto prazo”, aponta Almagro, em documento de 132 páginas publicado na página da OEA na internet. “O político imoral é aquele que perde essa visão porque o único que interessa é manter-se no poder, à custa da vontade da maioria”, completa.

Ao final da sessão extraordinária, embaixadores dos 34 países que integram a organização deliberam se o comportamento da Venezuela desrespeita os princípios democráticos de sua Constituição. Para embasar o caráter emergencial do seu pedido, Almagro recorreu ao Artigo 20 da Carta Democrática Interamericana que estabelece que “o secretário-geral poderá solicitar a convocação imediata do conselho para apreciar coletivamente uma situação e adotar as decisões convenientes”.

De acordo com a Agência de Notícias Venezuelana, o presidente Nicolás Maduro considerou a medida da OEA como “intervencionista” e chamou o povo venezuelano à rebelião nacional em defesa da pátria. “Eles acreditam que a pátria de Bolívar se intimida por suas ameaças”, disse Maduro. “Na Venezuela ninguém vai aplicar qualquer Carta, chamada como queiram chamá-la”.


Edição: Jorge Wamburg