sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

A prometida recuperação econômica não virá em 2018

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02/01/2018 18:11 -02 | Atualizado 02/01/2018 18:17 -02

A prometida recuperação econômica não virá em 2018

Com eleições, o ano promete muitas incertezas e o "risco Brasil" tende a aumentar.


Adriano Machado / Reuters
O cenário de incertezas na política influencia, majoritariamente, a economia no País.
O ano de 2017 foi de mudanças e flexibilização nas leis trabalhistas, em vista a sonhada recuperação econômica. Porém, ela não deve vir em 2018, um ano que aguarda muitas incertezas, sobretudo no segundo semestre, às vésperas das eleições presidenciais.
Na opinião de especialistas ouvidos pelo HuffPost Brasil, a economia brasileira não vai decolar neste ano e pode decepcionar até mesmo as perspectivas de órgãos internacionais.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) melhorou em outubro de 2017 o prognóstico de crescimento de 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil para o fim de 2018. Já economistas do mercado de ações são mais otimistas: preveem um crescimento da produção nacional de até 3%.
O professor e coordenador do Fórum de Economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Nelson Marconi, entretanto, não acredita neste crescimento. "O próximo ano não terá um crescimento maior que de 2017. O PIB deve crescer cerca de 1% ou menos."
Ele explica que o crescimento da economia no ano passado foi puxado por dois fatores: o desempenho da agropecuária e pelos saques das contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Tais fatores, enfatiza o economista, foram temporários e não serão aplicados em 2018. "Mesmo no agronegócio, sabemos que não ser a mesma produção", acrescentou Marconi.
Já na avaliação da professora Margarida Gutierrez, do COPPEAD/UFRJ, a economia "tem tudo" para crescer até 3% neste ano, porém, vai depender do andar das eleições presidenciais. "[Dependerá] principalmente da radicalização dos candidatos mais populistas, pois aumenta o risco e todo esse crescimento que é possível para o ano pode ser desarticulado. É um ano de muitas incertezas", avaliou. "Dependemos do bom senso dos candidatos."
O cenário de incertezas na política influencia, majoritariamente, a economia no País. Ela deve aumentar o chamado "risco Brasil", pressionar o câmbio e, assim, estancar as sucessivas reduções da taxa de juros. Com isso, a inflação deve aumentar um pouco, mas não disparar como aconteceu entre 2015 e 2016.
Os economistas não acreditam que a reforma da Previdência será votada no ano, o que ajuda a agravar os indicadores e comprime ainda mais o orçamento do ano. "A previdência acaba 'comendo' a maior parte da receita, e sobra quase nada para investir em outras áreas. Com o teto dos gastos, o governo não vai conseguir estimular a demanda por outros meios", analisou Marconi, da FGV.

Desemprego diminui, mas emprego precariza

O ano de 2018 deve seguir a tendência e aumentar o número de pessoas ocupadas. Entre agosto e outubro de 2017, o desemprego foi de 12,2%, o que representa uma queda ante o trimestre anterior de 12,8%. A recuperação, porém, se deve à informalidade: foram ofertados no trimestre 33,3 milhões de vagas formais, 810 mil a menos que um ano atrás. O total de trabalhadores com carteira assinada no setor privado atingiu o menor nível da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012 pelo IBGE.
Na avaliação de Marconi, esse ritmo deve permanecer em 2018. "Boa parte das ocupações criadas hoje são precárias, não têm carteira assinada, e concentradas no setor de alimentação. Ou seja, o pessoa está se virando como pode."
Com a reforma trabalhista articulada pelo presidente Michel Temer, que prometeu aumentar o número de emprego, a previsão é que a informalidade aumente e o trabalhador consiga ocupação, porém, em piores condições e salários.
"Irá demorar para chegar aos patamares dos anos anteriores à crise, no qual o desemprego era baixíssimo e o Brasil gerava muito emprego formal", avalia Marconi. Ele acrescenta que a taxa de desemprego deve efetivamente diminuir apenas daqui três anos, "dependendo das estratégias de crescimento adotadas pelo próximo governo."

O ano não está para viagem internacional

As incertezas nas eleições, sobretudo em cenários com candidatos extremamente populistas, como Lula e Bolsonaro, devem impactar o câmbio neste ano e enfraquecer o real diante de moedas mais fortes, como dólar e euro. Tanto Margarida Gutierrez, da UFRJ, quanto Marconi, da FGV, apostam na valorização do dólar.
"O dólar deve aumentar, mas vai depender do ataque especulativo do mercado financeiro. Não vai ser como em 2002, com Lula, mas deve sofrer uma alta similar à alta de 2014", disse o professor da FGV. A moeda americana, continuou, deve ficar entre R$ 3,80 e R$ 4. Hoje, o dólar comercial está em torno de R$ 3,25, de acordo com a cotação do Banco Central.
O aumento do dólar não é de todo ruim. O economista explica que este patamar é comemorado pelo setor de exportação, uma vez que consegue competir com mercados como a China e exportar outros produtos além de commodities (produtos primários, como soja e algodão). "Com esse câmbio, o governo estimula a exportação de industrializados, que tem uma taxa de câmbio mais sensível e tem mais concorrentes", acrescentou.