Saímos de uma era pautada pela ideologia política para vivermos em uma época caracterizada pelos conflitos identitários. Marcadores identitários como a raça e o gênero vêm adquirindo cada vez mais um significado político, a um ponto em que já se sobrepõem às ideologias políticas em existência. Uma evidência clara disto é que, mesmo dentro de um protesto estritamente ideológico como uma marcha feminista, há uma competição vitimista entre mulheres imigrantes, mulheres negras, mulheres trans, etc., que pode ir dos insultos verbais à violência física.



Mas os movimentos identitários estão sendo devorados desde dentro pelo próprio anti-identitarismo da esquerda pós-moderna, que equipara à mulher tudo o que não for um homem. Uma marcha feminista hoje já não é sobre este ou aquele direito da mulher, pois as feministas de hoje sequer são capazes de chegar a um consenso sobre o que é uma mulher. Afirmam que uma mulher trans é uma mulher de pleno direito e que não é necessário ter uma vagina para ser mulher, mas não sabem explicar o porquê. Que não se nasce mulher, torna-se, mas não sabem explicar como.
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Diante deste cenário devemos reconhecer que o gênero agora é uma questão política sobre a qual devemos nos posicionar, seja para desacelerar e reverter a degradação social no longo prazo, seja para oferecer ao indivíduo a proteção da sua identidade no curto prazo.



Diferença entre Sexo e Gênero
Comecemos por esclarecer a diferença entre sexo e gênero. O primeiro é uma distinção biológica que diz respeito à função de um organismo na reprodução sexual da espécie, que se subordina a estruturas anatômicas como o seu aparelho reprodutor. Todos os seres humanos só podem produzir ou gametas masculinos ou femininos, jamais os dois ou algum terceiro tipo. Portanto, quando um bebê nasce, a equipe médica não lhe atribui um gênero: atribui-lhe um sexo. É um critério objetivo, cientificamente estabelecido e padronizado.



O gênero, por outro lado, é um conjunto de atributos, valores e papéis que cada sociedade atribui aos sexos. Há uma relação entre gênero e sexo, mas esta não é rígida como as funções reprodutivas determinadas biologicamente. A maioria esmagadora das sociedades só concebe dois gêneros, e as demais sociedades “não-binárias” só concebem variações destes dois gêneros: o alyha da tribo mohave, o fa’afafine polinésio, o bakla filipino e o hijra hindu correspondem a alguém de sexo masculino que adota o gênero feminino, ou “corpo masculino, espírito feminino”. O sadhin hindu é alguém do sexo feminino que adota o gênero masculino, ou “corpo feminino, espírito masculino”. Todos estes seriam considerados transsexuais na sociedade ocidental.



Mas os gêneros, sendo modelos ideais de atributos e valores, não são atribuídos somente a indivíduos de carne e osso, mas também a gestos ou mesmo objetos. Podemos ver um móvel, um edifício, um veículo, e dizer se suas características são mais masculinas ou mais femininas. Rejeitar o gênero não significa desprezar o sexo com o qual é associado, mas os valores que ele representa. Até o mais ardente defensor da ideologia de gênero admite isto, ainda que se refira a estes valores com outros nomes, pejorativos (machismo, patriarcalismo, opressão, submissão, etc.).



Ideologia de Gênero ou Relativismo?
A ideologia de gênero, portanto, não é sobre o respeito e a tolerância àquelas pessoas que se desviam dos padrões de comportamento sexual da sociedade, mas sobre a destruição de uma parte dos valores ocidentais contidos nos arquétipos de gênero. Em suma, é sobre a destruição da masculinidade e da feminilidade como ideais norteadores do comportamento humano. Entendendo isto, podemos enquadrar a ideologia de gênero como mais um tentáculo do relativismo pós-moderno, como um movimento anti-identitário. O fato desta ideologia agrupar e reduzir tudo à “não-heteronormatividade” é um sinal claro disso.



Homossexualidade
É importante notar que a orientação sexual por si só não leva as pessoas a relegarem os seus papéis de gênero. Um homem homossexual continua assumindo a maioria dos papéis de gênero que atribuímos aos homens heterossexuais, e o mesmo passa com as mulheres. A homossexualidade não implica necessariamente a rejeição dos padrões de comportamento de um gênero em benefício do oposto. Esta rejeição é própria de subculturas perniciosas (queer, drag, etc.) que não convém fomentar. O homossexual em si não é um inimigo da masculinidade ou da feminilidade.



Transsexualidade
Transsexuais são pessoas que se identificam com o sexo oposto ao seu sexo biológico. São “espírito masculino em corpo feminino” e “espírito feminino em corpo masculino” segundo as definições tradicionais de sociedades que comportam mais de dois gêneros, como a hindu. Se esta dissonância entre corpo e mente deve ser tratada como uma patologia, não é o tema deste artigo. Quero apenas ressaltar que os transsexuais não rejeitam os gêneros, simplesmente se identificam com o gênero oposto. Portanto os transexuais tampouco são inimigos da masculinidade ou da feminilidade.



Intersexualidade
Já as pessoas intersexuais padecem de um problema congênito que leva à indefinição do seu sexo biológico, e que podem apresentar características sexuais primárias e secundárias de ambos os sexos, ou intermediárias, sendo inférteis na maioria dos casos. Devido à esta indefinição, sua filiação a um gênero é alheia às inclinações naturais e depende exclusivamente do reforço social ou de uma decisão individual consciente. O intersexual tampouco é inimigo da masculinidade ou da feminilidade.



Transgenerismo
Por outro lado, o termo “transgênero” é muito abrangente e, apesar de ser usado muitas vezes como sinônimo de transsexual, inclui uma vasta gama de “gêneros” inventados a esmo pelos ideólogos. É aqui onde se incluem aqueles que, sendo portadores de perfeita saúde sexual e psicológica, submetem a própria sexualidade à ideologia. Entre eles estão os que não se identificam com qualquer um dos gêneros (agêneros, terceiro gênero), os que se identificam com dois ou mais gêneros ao mesmo tempo (bigênero, pangênero, genderfluid) ou em algum ponto intermediário entre ambos (intergênero).



É aqui que encontramos os inimigos da masculinidade e da feminilidade: não uma orientação sexual, não uma dissonância entre o sexo biológico e o psicológico, não uma indefinição sexual congênita, mas uma ideologia cujo objetivo é destruir o gênero enquanto conjunto de valores. Como o comunista almeja a sociedade sem classes, o ideólogo de(s)generado almeja a sociedade sem gêneros.



Enculturação e Identidade
Como vimos anteriormente, os gêneros são modeloos culturais: são conjuntos de valores, atributos e papéis que cada sociedade atribui aos gêneros. Portanto são objeto de enculturação: precisam ser ensinados e reforçados. Nossa sociedade deixou de se preocupar com a formação de homens e mulheres para formar “cidadãos” e “trabalhadores”. Ou seja, negligenciamos o papel da formação moral em proveito do imediatismo político e econômico. É por isso que nossa geração entende tudo de democracia participativa e programação de computadores, mas é incapaz de manter um matrimônio e educar seus filhos. Educar alguém para ser homem ou mulher é uma parte da enculturação como é ensinar a língua materna e as normas de bom comportamento. É impossível formar um ser humano negligenciando este aspecto, pois além do gênero ser parte da identidade das pessoas, ele é um aspecto importante da socialização.



Se nossa sociedade está mal, é porque as pessoas não estão cumprindo bem os seus papéis. Uma sociedade onde abundam os pais ausentes, por exemplo, falhou na formação de homens porque a paternidade é um papel deste gênero. Onde o vitimismo e a criminalidade predominam, faltou a virtude masculina da coragem. Onde reina a brutalidade e o desdém pelos mais fracos, está em falta a virtude feminina da piedade. Enfim, a maior parte dos nossos problemas não se resolverão com uma melhor distribuição de renda, mais acesso à universidade ou uma justiça mais ágil, porque não são problemas econômicos, acadêmicos ou legais, e sim morais.



Não cabe aqui neste artigo descrever detalhadamente quais são os valores, atributos e papéis de cada gênero. Há literatura abundante sobre o tema, desde a Antiga Grécia até blogs contemporâneos exclusivos sobre o tema. Leia-os. Mas a transmissão destes valores às futuras gerações não pode ser negligenciada. Sejamos primeiramente um modelo no qual nossos filhos possam se espelhar, aprendendo nós mesmos a identificar e seguir os melhores exemplos de homens e mulheres. Depois, eduquemos nossos filhos para que aprendam a identificar os bons exemplos e segui-los. Por último, emendemos os seus defeitos até que eles mesmos sejam bons exemplos de homens e mulheres maduros.