quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Combate a Cartéis: um desafio para Moro

terça-feira, 6 de novembro de 2018


Combate a Cartéis: um desafio para Moro


Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

Não tem moleza no horizonte do “Superministério” da Justiça sob comando de Sérgio Fernando Moro. Além do combate à corrupção – marca previsível do juiz que virou herói nacional na Lava Jato – e do milagre a ser feito na área da segurança pública, existe um outro importante desafio para Moro: o combate à formação de cartéis – um danoso crime contra a economia popular – dificilíssimo de atacar.
A extrema dificuldade de se comprovar a existência de um cartel – mesmo nas oportunidades em que sua prática salta à vista – é o maior dos problemas para o seu combate. A atribuição de resolver tamanho “B.O.” é do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão vinculado ao Ministério da Justiça. Grandes grupos econômicos brincam de gato e rato com o Cade – que nestas horas opera entra no jogo do “Cadê”.
A dificuldade para se comprovar a atuação de tais “associações de empresas para lesar consumidores” se verifica nos mais diversos casos, quer sejam cartéis formados por pequenos fornecedores de prefeituras do interior do país, cartéis formados por donos de postos que combinam o preço da gasolina, cartéis de fornecedores de produtos hospitalares, cartéis de empreiteiras de obras públicas, e por aí vai...
E por causa da grande dificuldade de comprovação da existência do cartel, as empresas que praticam tal tipo de crime não se intimidam diante das diversas penalidades a que estão sujeitas, que incluem uma multa pecuniária de valor exemplar, calculado como um substancial percentual do faturamento da empresa.
Para ilustrar o fracasso no combate a cartéis no País, nada mais apropriado que relembrar o caso do cartel de gases medicinais e industriais, conhecido como o “Cartel do Oxigênio” – organização criminosa que, inclusive, fraudava o caráter competitivo das licitações para superfaturar contra nossos combalidos hospitais públicos.
O caso do “Cartel do Oxigênio”
Apesar de ser velho conhecido dos consumidores e das autoridades, a comprovação da existência do “Cartel do Oxigênio” só foi possível por causa de uma sucessão de fatos que muito raramente ocorrem.
Em primeiro lugar, no final de 2003, as autoridades que têm a atribuição de combater tal tipo de crime receberam uma denúncia com os nomes dos funcionários que combinavam os acordos, representando as empresas integrantes do cartel.
Em segundo lugar, diante da consistência da denúncia, a Justiça autorizou a quebra do sigilo telefônico de tais funcionários acusados.
Em terceiro lugar, as gravações telefônicas possibilitaram a obtenção de indícios suficientes para determinar uma Operação de Busca e Apreensão nas dependências das transnacionais Aga, White Martins, Air Products e Air Liquide.
Em quarto lugar, a Operação de Busca e Apreensão, realizada em fevereiro de 2004, foi repleta de êxito. Nela, foi apreendido até mesmo o conjunto de regras que ficou conhecido como o “estatuto do cartel”.
Dentre as regras contidas no inusitado “estatuto”, destacavam-se a forma de se dividir o mercado, a sistemática da cobertura em licitações públicas, os procedimentos para eliminar do mercado concorrentes “indesejáveis” e, até mesmo, a maneira de se punir os integrantes que transgredissem as normas de conduta do cartel.
Diante da robustez das provas obtidas na Operação de Busca e Apreensão, foram instaurados dois processos: um Processo Administrativo junto ao Cade contra as empresas por formação de cartel, e um Processo Criminal junto ao Ministério Público do Estado de São Paulo, por formação de quadrilha, contra os funcionários que representavam as empresas nas negociações.
Após uma polêmica tramitação do processo, em setembro de 2010, o Cade aplicou nas empresas uma multa de cerca de três bilhões de reais, cabendo à White Martins R$ 2,2 bilhões. Acontece que as empresas recorreram à Justiça, e conseguiram anular as penalidades, alegando vício na obtenção das provas. A argumentação da defesa se baseou no fato que a denúncia na qual o processo se originou foi uma “denúncia anônima”.
De nada valeu as autoridades terem apreendido o chamado “estatuto do cartel”, documento que registrava as normas compactuadas. Afinal, a comprovação da existência do cartel foi feita a partir de uma denúncia consistente, porém anônima. Ou seja, uma brecja jurídica, em meio à insegurança do Direito no Brasil, salvou as empresas.
Resumo da ópera: valeu o entendimento segundo o qual todos os frutos de uma árvore envenenada se encontram contaminados. Assim, a multa aplicada pelo Cade foi anulada pela Justiça, juntamente com todos os documentos que comprovavam o “modus operandi” do cartel. O erro venceu.
Incontestavelmente, a lição tirada do caso do “Cartel do Oxigênio” nos remete a duas verdades: 1 – é indispensável a adoção de novas medidas para se comprovar a existência de cartéis; 2 – as novas medidas deverão considerar um fato inquestionável: a necessidade da colaboração de alguém que conheça, por dentro do esquema, os detalhes do funcionamento do cartel a ser investigado.
Ocorre que, normalmente, a pessoa que se dispõe a colaborar quer ter a sua identidade preservada. E isto contraria o Judiciário brasileiro, que não aceita denúncia anônima. Para contornar tal impasse, torna-se inevitável uma alteração na legislação, com a criação do que aqui é chamado de “informante confidencial”.
O “informante confidencial”
A criação de uma figura diferente do informante anônimo (mas que tenha a sua identidade mantida em sigilo) já havia sido proposta, com outro objetivo, nas “10 Medidas Anticorrupção”. Lá, foi proposta a regulamentação do que foi chamado de “reportante do bem”.
Obviamente, para alguém se sujeitar aos inconvenientes de ser um informante, não basta que a ele seja oferecida a manutenção do sigilo de sua identidade. A ele terá que ser oferecido algum tipo de benefício, como acontece nos casos das delações premiadas que viabilizaram a Operação Lava Jato.
Conforme se sabe, nos casos das delações premiadas, devido ao fato de o delator também ter participado dos crimes, a ele é oferecida a diminuição da pena como principal benefício. No caso dos cartéis, para atrair o interesse daqueles que não estejam envolvidos no crime, sua recompensa deverá ser feita da maneira mais direta possível, isto é, em dinheiro.
Como sugestão, os benefícios a serem oferecidas ao denunciante poderiam ser uma adaptação do que é oferecido pelo ProgramaWhistleblower da U.S. Securities and Exchange Commission – SEC, criado pelo Congresso dos Estados Unidos para fornecer incentivos monetários com o objetivo de atrair indivíduos que venham relatar à SEC possíveis violações de determinadas leis federais.
Importante notar que não interessa às autoridades norte-americanas saber o motivo que levou a pessoa a fazer sua denúncia (caça de recompensa, vingança de ex-mulher, razões ideológicas, etc.). Só importa às autoridades o fato de, ao repassar à SEC valiosas informações, a pessoa estar colaborando para defender o interesse da sociedade.
No caso da SEC, os denunciantes têm direito a uma recompensa que varia entre 10% e 30% das sanções monetárias efetivamente pagas pelo denunciado no âmbito de referido programa www.sec.gov/whistleblower .
Conclusão
A maior importância da criação da figura do “informante confidencial” candidato a receber recompensa” se deve ao fato de sua existência atingir em cheio o estado psicológico dos potenciais integrantes de cartéis. Afinal, como reagiria um potencial integrante de cartel, sabendo que, à caça de recompensa, um seu funcionário ou um funcionário de uma de suas cúmplices poderia delatar a organização criminosa?

Para finalizar, o seguinte exercício de imaginação: se o denunciante do “Cartel do Oxigênio” fosse um “denunciante confidencial” e não um “denunciante anônimo”, em vez de ter sido jogado no lixo cerca de seis anos processo, o denunciante teria sido recompensado com cerca de R$ 300 milhões e os cofres públicos teriam recebido mais de R$ 2 bilhões.

Por isso, o combate aos cartéis é um assunto de extrema importância para Sergio Moro pensar com todo carinho...

Mais conselhos para Moro

O Desembargador Carlos Henrique Abrão, articulista habitual neste Alerta Total, faz uma lembrança importante ao futuro Superministro da Justiça:

“Não se esqueça que combate a corrupção e crime organizado dependem fundamentalmente de bons projetos não apenas na esfera criminal, mas na empresarial, concorrência e mercados”.

Por isso, Abrão faz uma lista de temas que precisam ser tratados por Moro e suas comissões de trabalho:

1) Reforma da lei bancária

2) Reforma da lei de mercado capitais

3) Revisão da lei de recuperação e quebra

4) Reformulação do código comercial com um ordenamento empresarial

5) Reforma da lei de portos e concessões, gargalo da corrupção

6) Reforma do setor de transporte (há uma legislação em tramitação que não atende ao setor)

7) Legislação aberta e unificada sobre o Seguro

8) Analise no direito empresarial dos prazos de decadência e precrição

9) Uniformizar a Lei geral de títulos de crédito

10) Marcas e patentes com um modelo especial e de proteção ao setor industrial nacional


Lista transitória

O Presidente Eleito Jair Bolsonaro viajou cedinho para Brasília, a fim iniciar as articulações pré-governo, com os titulares dos três poderes.

O ministro Extraordinário da Transição e futuro titular da Casa Civil, Ônyx Lorenzoni, divulgou ontem a lista do time de transição do governo Michel Temer para o de Jair Bolsonaro.

A equipe já começa a trabalhar no Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, com a seguinte escalação:

MARCOS AURÉLIO CARVALHO,
PAULO ROBERTO,
MARCOS CÉSAR PONTES,
LUCIANO IRINEU DE CASTRO FILHO,
PAULO ANTÔNIO SPENCER UEBEL,
AUGUSTO HELENO RIBEIRO PEREIRA,
GUSTAVO BEBIANNO ROCHA,
ARTHUR BRAGANÇA DE VASCONCELLOS WEINTRAUB,
GULLIEM CHARLES BEZERRA LEMOS,
EDUARDO CHAVES VIEIRA,
ROBERTO DA CUNHA CASTELLO BRANCO,
LUIZ TADEU VILELA BLUMM,
CARLOS VON DOELLINGER,
BRUNO EUSTÁQUIO FERREIRA CASTRO DE CARVALHO,
SÉRGIO AUGUSTO DE QUEIROZ,
ANTÔNIO FLÁVIO TESTA,
CARLOS ALEXANDRE JORGE DA COSTA,
PAULO ROBERTO NUNES GUEDES,
WALDEMAR GONÇALVES ORTUNHO JUNIOR,
ABRAHAM BRAGANÇA DE VASCONCELLOS WEINTRAUB,
JONATHAS ASSUNÇÃO SALVADOR NERY DE CASTRO,
ISMAEL NOBRE,
ALEXANDRE XAVIER YWATA DE CARVALHO,
PABLO ANTÔNIO FERNANDO TATIM DOS SANTOS,
WALDERY RODRIGUES JUNIOR,
ADOLFO SACHSIDA, e
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE.





Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus. Nekan Adonai!

O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva. Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos. 
A transcrição ou copia dos textos publicados neste blog é livre. Em nome da ética democrática, solicitamos que a origem e a data original da publicação sejam identificadas. Nada custa um aviso sobre a livre publicação, para nosso simples conhecimento.

© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 6 de Novembro de 2018.

Brasil merece um Superministério da Educação

Brasil merece um Superministério da Educação


Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

Educação é a formação moral-ética dada pela família + o Ensino de qualidade focado na inteligência emocional e na preparação técnica-científica. Vale a pena pegar emprestado de Antônio José Ribas Paiva dois outros conceitos valiosos. Moral é a regra, pessoal e coletiva, que estabelece o ideal das relações humanas, de acordo com as circunstâncias. Ética é a conduta que atende aos parâmetros morais.

O Brasil tem urgência em compreender e adotar tais conceitos, na prática. Do contrário, não adianta reformar a política, mexer na economia ou torrar dinheiro na Segurança, se não houver um investimento estratégico na Educação Moral e Ética com ênfase na Inteligência Comportamental (equilibrando razão e emoção para uma ação baseada na Verdade – que é a Realidade Universal Permanente).

Por isso, o Presidente eleito Jair Messias Bolsonaro e seu vice Antônio Mourão têm obrigação de implantar um Superministério da Educação. Do contrário, a fábrica de bandidos jamais será fechada. A violência e a roubalheira vão continuar sob comando de um Governo do Crime Institucionalizado cujo Mecanismo se reinventa no ambiente de barbárie e insistente desrespeito à Lei. Só uma base educacional sólida é capaz de combater e neutralizar a suposta moral e ética da canalhice criminosa.

Quando se fala em melhorar a Educação – e a regra também vale para outras áreas críticas, como a Saúde -, a desgraça da teoria parece ser a prática no Brasil. Não dá para melhorar a Educação sem promover uma mudança estrutural no tal Ministério da Educação. O futuro “superministro” de Bolsonaro tem o desafio de mudar a máquina dominada por burocratas ideologizados de esquerda. Também tem de reinventar o inepto INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

Ainda rastejamos na Educação Aberta. O Brasil tem de investir nos Curso Online Aberto e Massivo (do inglês Massive Open Online Course – MOOC). São experiências gratuitas, mundiais, que oferecem certificados de participação. Plataformas como a www.edx.org oferecem cerca de 2250 cursos mundiais. Os estudantes brasileiros e professores precisam descobri-los. O futuro MEC terá de implantar algo parecido, ou fazer parcerias com o que já existe de melhor, para aprimorar nossas escolas e universidades (algumas ainda operam conforme modelos medievais).   

Para que a coisa mude para melhor, primeiro Bolsonaro tem de escolher um ministro com capacidade intelectual e currículo profissional comprometido com a visão correta de uma Educação voltada para a formação humanística na Era da 4ª Revolução Industrial. Vale lembrar que o Brasil é tão atrasado que mal dá conta da 3ª Revolução. Não temos cidadãos educacionalmente preparados para evoluir na Política, na Economia e na Segurança. Não estamos prontos para o choque de Inteligência Artificial – que resolve questões técnicas, mas sempre será carente do componente emocional do ser humano.

Bolsonaro deve compreender que não basta que o novo ministro escolhido por ele seja um competente amante da Educação. O dirigente precisa ter capacidade comprovada para liderar um profundo processo de inovação. O sujeito tem de estar preparado para gerenciar, politicamente, tantas mudanças de paradigma. Não adianta se o indicado tiver competência apenas para dar uma “reformulada” no sistema de ensino público e privado.

A “Educação” brasileira é soviética, no sentido ideológico e estrutural. Opera sob a ditadura das tais “bases nacionais curriculares” – regras rígidas que amarram as escolas públicas e as particulares. Em plena Era da Internet, tal modelo rejeita avanços como o Ensino à Distância – que aqui no Brasil mais parece “a Distância do Ensino”. O modelo é rígido, comunizante e massificante. Peca pela falta de liberdade responsável para formar um indivíduo com visão mais estratégica que meramente técnica-profissional.

Tem muita gente e entidades ganhando muito dinheiro para defender uma Educação ainda focada nos conceitos da escola e da universidade do século passado. Também tem muito intelectual orgânico, incluindo até autoridade judiciária, com a mesma visão de vanguarda do atraso educacional. Tomara que Bolsonaro, na hora de escolher seu “superministro” não caia na habitual armadilha armada por tais grupos. Se cair neste conto do vigário, seu governo será uma mera repetição medíocre dos antecessores na área educacional.

Que Deus ilumine Bolsonaro para acertar na escolha do novo “superministro” – cujo nome pode ser anunciado esta semana. O Superministro da Economia Paulo Guedes deve exercer grande influência na seleção final. Os militares, que operam em regime de excelência de ensino, também devem ter força no processo. O perigoso é que a turma da vanguarda do atraso, disfarçada de famosos bem intencionados, também articula, fortemente, nos bastidores, usando o poder de influência do DEM, partido que controla, atualmente, o MEC/INEP.

Nomes mais cotados: Stravos Xanthopoylos, Ricardo Vélez Rodrigues, Aléssio Ribeiro Souto e Miguel Nagib.

Novidades



Hoje, o foco do futuro governo é na reunião com o Presidente Michel Temer, às 16 horas.

Bolsonaro e Guedes só pensam agora na “Reforma da Previdência”, aprovada do jeito que for possível, ainda no finalzinho de mandato do atual governo.

Bolsonaro já admite manter Ilan Goldfajn na Presidência do Banco Central, se esta for a vontade de Paulo Guedes...

Também pensa em escalar o General Augusto Heleno pertinho dele, no Gabinete de Segurança Institucional – e não mais no Superministério da Defesa...

Boa notícia



É improvável que o Supremo Tribunal Federal acate a suspeição de Sérgio Moro para decretar a libertação de Luiz Inácio Lula da Silva...

No entanto, nada custa fica esperto, relendo o artigo: É justo um 3º turno eleitoral no tapetão do STF e do CNJ?





Cervejinha da Posse




Aprecie com moderação...

Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus. Nekan Adonai!

O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva. Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos. 
A transcrição ou copia dos textos publicados neste blog é livre. Em nome da ética democrática, solicitamos que a origem e a data original da publicação sejam identificadas. Nada custa um aviso sobre a livre publicação, para nosso simples conhecimento.

© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 7 de Novembro de 2018.

Folha de S. Paulo – Um bom 2019 / Coluna / Antonio Delfim Netto

Folha de S. Paulo – Um bom 2019 / Coluna / Antonio Delfim Netto


Bolsonaro já demonstrou que pretende cumprir o que prometeu

Com moderação, é possível. O processo eleitoral de 2018 revelou muitas novidades.

Talvez a mais interessante delas foi a constatação que o ricos e enganadores programas mediáticos que vendiam o candidato como um novo sabonete, o cerco aos "pop stars" porque se supunha que quem os admirava aceitaria a sua recomendação de voto e a disputa desenfreada pelo "tempo de televisão" dissolveram-se no ar.

Uma nova tecnologia, barata e facilmente dominada, o WhatsApp, colocou nas mãos do eleitor potencial a possibilidade de solidarizar-se com um conjunto de outros cidadãos com "sentimentos" e "necessidades" semelhantes.

Isso lhes conferiu um poder que nenhum outro poder é capaz de controlar.

Ele não se esgotará na eleição e poderá ser usado pelo vencedor para "pressionar" os outros poderes, enquanto mostrar firmeza nas propostas que o elegeram, um elemento perturbador da independência dos três poderes.

O resultado é uma forma de democracia direta, com suas virtudes e riscos (agora aumentados) conhecidos desde Platão, na Grécia do século 4º antes de Cristo. O vencedor priorizou as necessidades prementes do eleitor: a falta de segurança pessoal, o desejo de "ordem", a repugnância à corrupção estatal e o abuso da intervenção incompetente do Estado na atividade econômica.

Durante a campanha não se discutiu os programas de governo. O que estava em jogo eram questões preliminares de entendimento mais simples:

1) devolver ao Estado o monopólio da força para, dentro da lei, enfrentar as organizações criminosas cada vez mais ousadas que controlam, da cadeia, parte do território nacional;

2) ao mesmo tempo, retirá-lo do cangote do cidadão, com o liberalismo, e

3) tudo temperado com a "recuperação de valores familiares e religiosos" que podem, eventualmente, restringir a liberdade de minorias, se não for controlada pelo Supremo Tribunal Federal.

Ganhou Bolsonaro porque ele captou, muito antes de seus concorrentes, a "malaise" do brasileiro mediano e propôs uma solução que este aceitou.

Ele será, agora, o presidente de todos. Cabe à oposição não sabotar a missão de fiscalizá-lo, não de impedir que ele governe. É hora de jogar o jogo democrático. 2022 é amanhã e lá ele será julgado nas urnas pelo que fizer. Já demonstrou, entretanto, que pretende cumprir o que prometeu.

Deu todo o poder ao Ministério da Justiça e Segurança (com Sergio Moro) e ao Ministério da Economia (com Paulo Guedes) para, respectivamente, consolidar o combate à corrupção, enfrentar o crime organizado e mitigar a intervenção do Estado no setor privado. Se houver inteligência e prudência, pode dar certo.

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.