quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Fake news guiam eleição presidencial

Fake news guiam eleição presidencial


                                                           
Não é de hoje que a mentira é usada na política. Afinal, mesmo o político bem intencionado —que quer promover o bem da sociedade—sabe que, para ter impacto real, precisará vencer. Para vencer, é preciso dar esperança ao eleitorado e mostrar-se como superior aos outros. Daí vêm as promessas vazias e acusações sem base de toda campanha. Nunca teremos uma política completamente calcada na veracidade. Mas, do ponto de vista dos cidadãos, seria desejável reduzir o grau de mentiras.


Por muito tempo, o PT foi o mestre na arte de enganar a população no período eleitoral. Uma de suas estratégias favoritas é inventar uma acusação contra alguém (e para isso basta um fiapo de verossimilhança) e repeti-la ininterruptamente, mesmo que o acusado negue e faça de tudo para mostrar-se inocente. Foi assim com Marina Silva na corrida presidencial de 2014, acusada de querer cortar auxílio social aos pobres para favorecer banqueiros; e assim com Bolsonaro agora em 2018, acusado de querer acabar com o décimo terceiro salário. A questão é que, desta vez, parece não estar colando.


Há novas formas mais eficazes de mentira, e as táticas do PT ficaram para trás. Elas parecem até inocentes perto da verdadeira máquina de desinformação que é a campanha de Jair Bolsonaro no WhatsApp (e aqui incluo não só a campanha formal como todos aqueles que contribuem para gerar e compartilhar conteúdos a seu favor).


Notícias falsas e teorias da conspiração –a revista que aceitou atacar Bolsonaro em troca de R$ 600 milhões, as urnas fraudadas, etc.– circulam em tamanha profusão que criam um verdadeiro universo paralelo contra o qual o jornalismo sério pouco pode fazer. As agências de checagem de fatos têm se mostrado incapazes de conter a maré das fake news. No tempo em que se apura uma notícia falsa, três novas já foram criadas e circulam pelo WhatsApp.


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Desmascarar notícias falsas é um esforço necessário mas paliativo, que não vai às causas: elas só circulam porque as pessoas estão mais dispostas a acreditar num boato de WhatsApp repassado por um estranho do que na matéria apurada por jornalistas profissionais num veículo de respeito. O problema é, antes de tudo, de confiança nas instituições fundamentais do nosso sistema: política, Justiça, academia, mídia. E se está ruim agora, com as bolhas de redes sociais (criadas e desejadas pelos próprios usuários, não por um algoritmo), espere só até o próximo governo permitir a substituição da escola presencial pelo ensino à distância, via computador, e pelo ensino domiciliar. O isolamento cognitivo virá de berço.


Como sair desse jogo polarizador no qual as identidades políticas falam cada vez mais alto e que é intensificado por lideranças inescrupulosas que querem o poder acima de tudo? Ainda não temos respostas à altura. No plano individual, o melhor que cada um de nós pode fazer é conviver com pessoas que pensam diferente em contextos nos quais a divergência política não seja relevante; é essa convivência que promove a confiança entre os diferentes. A mídia tem que dar o exemplo e promover redações com mais pluralidade ideológica. Como cidadãos, deveríamos exigir das lideranças que tenham tolerância zero com a mentira. Pela própria natureza do jogo político, contudo, talvez seja pedir demais.

Fonte: “Folha de S. Paulo”, 16/10/2018


Assista ao debate de Helio Gurovitz, Alberto Bombig e Cristina Tardáguila sobre fake news em ano eleitoral 

Semana perdida

Semana perdida


                                                           
Foi uma semana perdida para o candidato petista Fernando Haddad. Agora só restam duas até o segundo turno, e nada indica que tenha encontrado o caminho certo para tentar tirar votos de Bolsonaro, que continua com 18 pontos à frente desde que encerrou o primeiro turno na liderança da corrida presidencial, como mostra a mais recente pesquisa de intenção de votos divulgada ontem pelo Ibope

Combater Bolsonaro com um discurso genérico sobre valores e democracia, vindo de quem vem, e emitido aos eleitores antipetistas que votaram nele, é pura perda de tempo. O PT não entendeu que a votação de Bolsonaro se deve ao antipetismo disseminado pelo país, mas sobretudo à insegurança da população, ao conservadorismo do brasileiro médio, considerado um defeito pela esquerda.


Não que veja na provável vitória de Bolsonaro uma resposta adequada a esses conflitos da modernidade, e, sobretudo, considero perigosa a postura de que a maioria tem que se impor às minorias, impedindo que tenham espaço na sociedade.


Bolsonaro aos poucos vem recuando de posições radicais que defendeu, assim como o PT tenta ir para o centro, ambos sem muita convicção. Sobretudo, o que Haddad diz não se escreve, porque o escrito que vale é o de Lula, não dele.


Não estou convencido de que os dois estejam sendo sinceros, pode ser apenas recuo de estratégia eleitoral. Mas as instituições nacionais saberão cobrar-lhes um comportamento dentro dos marcos da democracia. A grande maioria dos que votaram em Bolsonaro não mudará seu voto, assim como os adeptos do petista também não o farão. A margem de mudança é muito pequena, como mostra a pesquisa Ibope:Bolsonaro é o que tem mais simpatizantes convictos: 41% votariam nele com certeza, e 35% não votariam de jeito nenhum. Haddad é o que tem a maior rejeição: 47% não o escolheriam em nenhuma hipótese, e 28% manifestam certeza na escolha.

A idéia de formar uma aliança pluripartidária “a favor da democracia” não sensibilizou seus supostos componentes, não porque sejam favoráveis a Bolsonaro. Ao contrário, não são. Mas a alternativa de apoiar o PT, que representaria a “civilidade” contra a “barbárie”, não está conectada com a realidade da atuação política dos petistas, nem com a relação que mantém com seus adversários, que sempre foram tratados como inimigos a serem destruídos.


Ciro Gomes, do PDT, foi o mais atingido por essa postura egocêntrica do PT, pois estava claro desde o inicio da campanha que era quem tinha mais condições de se contrapor a Bolsonaro, pelo estilo agressivo que essa disputa exigia, sem entrar no mérito e nas razões que levaram a essa situação.


O ex-presidente Lula, por cálculo personalista, para não perder a liderança da esquerda, barrou de todas as maneiras a aliança com o PDT. Inclusive ameaçando o PSB de lançar candidato em Pernambuco se apoiasse Ciro. Agora, que Inês aparentemente é morta, surgem dentro do PT sugestões de anunciar que em 2022 o candidato será Ciro Gomes.


O PSDB, embora tenha perdido muito de sua importância na representação parlamentar, tem a chance de se reinventar se souber se colocar na oposição de maneira clara, fazendo o mea culpa proposto pelo senador Tasso Jereissati e se desgarrando de suas lideranças apanhadas na Operação Lava Jato. Além do fato de que o partido e seu principal líder, Fernando Henrique Cardoso foram achincalhados pelo PT durante os 13 anos em que estiveram no poder.


Marina Silva não tem razão para acreditar que o PT aceitaria seu programa sobre meio-ambiente, já que saiu do governo justamente por discordâncias fundamentais. Além do mais, esse tipo de acordo pode ser rompido a qualquer momento, e Ciro já disse que a natureza do PT é a do escorpião, que ferroa quem o ajudou a atravessar o rio, mesmo que morra junto.



Em política, nunca diga nunca. Mas a dificuldade de fazer um amplo acordo está demonstrada, por exemplo, no simulacro de autocrítica que Haddad fez. Na impossibilidade de admitir que seu partido se utilizou da máquina do Estado brasileiro amealhando dinheiro para financiar as campanhas eleitorais com o objetivo de se perpetuar no poder, saiu-se com uma explicação ridícula de que as estatais ficaram sem controle.


Ora, quem controlava as estatais era o Palácio do Planalto, que distribuiu para o PT e seus aliados nacos da riqueza do país. Não houve falta de controle, mas controle excessivo do governo, liderado pelo ex-presidente Lula, como se a Petrobras e outras estatais existissem para financiar a máquina petista. E encher o bolso de seus líderes e aliados.


Fonte: “O Globo”, 16/10/2018

A educação e os presidenciáveis

A educação e os presidenciáveis



                                                           
O Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular preparou um documento, em forma de decálogo, que será entregue aos candidatos à Presidência da República. São propostas do segmento privado que podem colaborar para a construção de programas de governo visando à melhoria o ensino em todos os níveis. São ações inadiáveis, levando-se em conta o estágio em que se encontra o setor no país.
 
 
Não é exagero afirmar que, no Brasil de hoje, a educação superior é, marcadamente, particular, quanto à sua oferta. Enquanto isso, o Poder Público não consegue suprir a necessidade da demanda educacional do país em nenhum nível de ensino. Apesar de defender os legítimos interesses do ensino superior particular, o Fórum tem se posicionado como um órgão formulador de propostas que visam ao desenvolvimento do setor educacional como um todo. É o que podemos inferir, analisando os dez itens que fazem parte do decálogo, que enumeramos abaixo:
 
 
1) Combater o analfabetismo e suas consequências ao longo do processo educacional: Segundo o IBGE, o analfabetismo das pessoas com idade acima de 15 anos alcançou 7,0% (11,5 milhões), em 2017, contra 7,2% em 2016 (11,8 milhões).


2) Avançar na reformulação da educação básica de forma a atender as metas do Plano Nacional de Educação: O Fórum afirma seu compromisso pela reforma do ensino médio, a partir das novas necessidades que serão criadas pela Base Nacional Comum Curricular. Sem educação básica de qualidade, não se consegue dar uma formação acadêmica e profissional qualificada.
 
3) Investir na formação de professores e estimular a carreira docente: O atendimento da educação fundamental está praticamente universalizado, mas há falhas no capítulo da qualidade. É preciso aumentar de 3 para 4 anos a duração da formação de professores e modernizar os currículos, para que todos fiquem sintonizados com as novas tecnologias.
 
4) Estimular a inovação na educação superior, modernizando o processo de ensino-aprendizagem: O Fórum entende ser necessário estimular a inovação através de uma legislação mais apropriada e de linhas de financiamento compatíveis com as necessidades requeridas nesta área, inclusive com benefícios fiscais que se somem ao esforço privado também necessário.
 
5) Fomentar a formação tecnológica para atender as novas profissões e potencializar a empregabilidade: Uma nova educação para o mundo do trabalho requer, hoje, a compreensão global do processo produtivo, com a apreensão do saber tecnológico e a valorização da cultura do trabalho. A educação profissional deve ser colocada entre as prioridades da política educacional.
 
6) Defender o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, adequando a legislação vigente para que seja efetivamente cumprida: O padrão de avaliação do ensino superior continua subordinado a um modelo acadêmico incompatível com os requisitos de modernidade. O Fórum sugere que o novo governo promova ampla reforma na política de avaliação da educação superior.
 
7) Ampliar e diversificar o acesso ao ensino superior com ênfase em programas de inclusão social, como Fies e ProUni: O Fórum propõe a duplicação do número da oferta em programas de inclusão social, como Fies e ProUni, e o uso de critérios mais adequados na ampliação dos limites de renda: para até cinco salários mínimos no ProUni e para até 10 salários mínimos no Fies.
 
8) Fortalecer a educação à distância (EAD) como fator estratégico para o desenvolvimento regional, econômico e social do país: Ao se considerar as enormes distâncias continentais do país, associadas ao deficit da oferta de atendimento educacional no nível superior em regiões remotas do território nacional, a política para o incremento da educação à distância necessita estar na pauta prioritária da política pública educacional.
 
9) Ampliar a participação do setor privado na elaboração das políticas públicas para a educação superior: É sempre útil relembrar que o setor privado representa 88% das instituições de educação superior e é responsável por 75% das respectivas matrículas.
 
10) Estabelecer uma política de Estado e não de governo para a educação superior, conferindo segurança jurídica aos agentes envolvidos: O Brasil precisa estabelecer uma política de longo prazo na educação superior, sem que a eventual mudança dos ocupantes dos cargos governamentais incida necessariamente numa alteração nas diretrizes traçadas para o setor.
 
 
Fonte: “Site Arnaldo Niskier”, 20/08/2018

Brincando de apartheid

Brincando de apartheid


                                                           
Sérgio Cabral chegou para depor ao juiz Marcelo Bretas com uma biografia de Nelson Mandela nas mãos. Estratégia corretíssima. Está mais que provado que o Brasil ama delinquente fantasiado de coitado. Mandela morreu durante o julgamento do mensalão. Antes mesmo de ser enterrado já tinha virado alter ego de mensaleiro preso. Se ele aguentou a cadeia, nós também aguentaremos – bradava a bandidagem companheira. E assim surgiu uma dinastia de mandelas carnavalescos, que terá seu apogeu com a prisão de Lula.
 
 
Quando a Justiça deixar de fricote e puser o filho do Brasil na cadeia, se sucederá o espetáculo mais folclórico já visto na pátria do folclore. A Marquês de Sapucaí parecerá um corredor de escritório em dia de feriado perto do que se verá no país. Nada de revolta, insurreição ou multidões em polvorosa – porque o brasileiro é distraído, mas nem tanto. Vida normal. O que explodirá é o carnaval da lenda – um tsunami abstrato, simbólico, covarde, que já mobiliza um batalhão de defensores da ética de butique.
 
Leia mais de Guilherme Fiuza:
A liga da justiça a jato
Proibido proibir (mentir, pode)
Apesar de vocês
 
Nesse conto de fadas altamente lucrativo para um pedação do Brasil (cada vez maior), Lula será o Mandela brasileiro – e poderá até ser esquecido na prisão, porque na realidade ninguém está nem aí para ele. As obras completas da ladroagem do messias foram esfregadas na cara do país, e a relação da população com a "alma mais honesta"" virou uma espécie de síndrome do Papai Noel: há os que querem acreditar, os que fingem acreditar e os que querem que os outros acreditem. Lenda é lenda.

E assim como o bom velhinho natalino, a lenda do ex-­operário que enfrentou as elites movimenta um mercado gigantesco – no caso, de altruísmo contrabandeado e bondade de aluguel. É como um conto de Natal pornô: vai tudo muito bem, até que você é obrigado a tirar as crianças da sala quando o herói da pobreza fica milionário com o dinheiro do povo. Aumenta o som do “Jingle bell” (também serve algum hino canastrão da MPB) e segue o baile, que se fantasiar de progressista revolucionário está dando um vidão para muita gente. Viva o Lula. Dane-se o Lula.

A planilha da propina na Odebrecht revelou uma série de desembolsos para as reformas do sítio que não é do Lula, totalizando R$ 700 mil em menos de duas semanas – por uma coincidência atroz, exatamente as duas últimas do governo Lula. Sergio Moro já sabe das contas de propina abertas na Espanha pela Engevix para Lula e Dirceu. E por aí vai. Ou foi. São só duas novidades de uma epopeia caudalosa (o maior assalto governamental já perpetrado na história da democracia), mais do que suficiente para prender o grande líder por várias encarnações. Mas Luiz Inácio está soltinho da Silva – graças à lenda.

Ele, Dilma workalcoolic e grande elenco bandoleiro. Janot, que protegeu a gangue se fingindo de justiceiro, conspirou com o laranja bilionário do PT às sombras do STF e nem investigado é. Assim como o padre pedófilo, valeu-se da autoridade de guardião da virtude para montar a operação mais obscura envolvendo a Presidência da República desde a ruptura institucional dos militares. Um procurador blindado até hoje por essa mesma lenda progressista que lhe permitiu agir ao arrepio das instituições (leiam suas denúncias no original), exatamente como faziam as autoridades nos anos de chumbo.

E aí você dá de cara com a notícia de um aeroporto-fantasma em Moçambique, construído pela Odebrecht com dinheiro do BNDES – enfim, o mesmo DNA, a mesma tecnologia, o mesmo know-how de rapinagem que o governo do PT, apenas o governo do PT, como nunca antes do governo do PT alguém ousou fazer. Porque ninguém jamais teve a ditadura da lenda, a mágica de ser governo e coitado ao mesmo tempo. Um habeas corpus vitalício.

Essa praga de transformar qualquer disparate na internet em escândalo hediondo contra os direitos humanos e as minorias S.A. – uma histeria fashion que não ajuda em nada as causas verdadeiras – é a disputa por esse legado hipócrita. Lula irá em cana fingindo ler os ensinamentos do companheiro Mandela, e os mandelas de carnaval continuarão à solta cafetinando a boa-fé.


A não ser que a plateia passe a vaiar o teatrinho. E mostre ao Cabral que nem um Maracanã repleto de diamantes é tão fraudulento quanto brincar de apartheid.

Fonte: “Época”, 14/12/2017

 
    

Correio Braziliense – Olhar para o mundo real / Editorial

 
Acompanhar a propaganda eleitoral ensina lições ao brasileiro atento. Ele pode fazer comparações entre o mundo real e o mundo apresentado pelos candidatos que disputam assento no Palácio do Planalto. O cidadão vive no chão da fábrica: acorda cedo para pegar o ônibus que o levará ao trabalho, entrega o filho à escola na expectativa de que aprenda a lição, recorre ao hospital para tratar enfermidades urgentes, sai de casa na torcida para não ser surpreendido por assalto ou bala perdida no caminho, conta os dias para que o mês não seja maior que o salário.
 
Os postulantes, de olho no poder, se apresentam à moda antiga. Transformados em super–homens, acima da Constituição, das leis e dos poderes constituídos, conjugam o verbo prometer. Emprego, renda, segurança, educação, saúde, lazer estarão ao alcance de todos — tudo num toque de mágica como se os governantes, em 500 anos de história, tivessem feito a opção deliberada por investir em atraso, pobreza e subdesenvolvimento.
 
Um olhar crítico voltado para a realidade que espera o eleito — seja de que partido for — mostra cenário dramático. Nele, sobressai o problema dos recursos. A dívida pública abocanha nada menos que 80% do Produto Interno Bruto (PIB). Embora não sejam assertivos sobre a Previdência, os dois finalistas têm de admitir que aposentadorias e pensões são os vilões do deficit primário (excetuados os juros). O que farão? Que planos executarão? Abrir o jogo pode roubar votos. Mas permite decisão consciente do eleitor.
 
Outros desafios porão em xeque a capacidade de articulação do novo mandatário. Com um Congresso fragmentado e o orçamento no vermelho, ele terá de negociar com o parlamento a regulamentação da Lei Kandir. O prazo se esgota em 31 de dezembro de 2018. Aprovado o projeto, os cofres da União sofrerão pesada pancada: de R$ 3,8 bilhões anuais passarão a desembolsar R$ 39 bilhões.
 
Também em 31 de dezembro termina o prazo do subsídio de R$ 9,5 bilhões ao diesel, negociado durante a greve dos caminhoneiros. Será renovado? Caso positivo, agrava–se o risco fiscal. Não só. Outras espadas de Dâmocles ameaçam o novo ocupante do Planalto. Administrá–las por certo custarão capital político. Há que arcar com lucros e perdas. Respostas técnicas, sem apelos a populismos e soluções milagreiras, sinalizarão o rumo que o país tomará.
 
A 11 dias do segundo turno, passou da hora de os candidatos apresentarem propostas claras. A varrição promovida pelas urnas nos até hoje donos do poder demonstraram que o Brasil real está atento. Recusa a velha fórmula de esbanjar sorrisos, carregar criancinhas no colo, apresentar soluções simplistas, prometer serviços públicos que rivalizam com Suécia, Dinamarca e Noruega. Impõe–se olhar para a nação que convive com desemprego recorde, com educação defasada, com saúde enferma, com insegurança que mata. Quais os projetos para mudar esse cenário? Com a palavra, Bolsonaro e Haddad.

O Estado de S. Paulo – A prepotência petista / Editorial

 
Atítulo de arregimentar apoio fora do curral lulopetista, Haddad agora quer fazer o País acreditar que nada tem a ver nem com o PT nem com Lula.
 
As análises estatísticas do primeiro turno da eleição presidencial mostram aquilo que todos já sabem: o PT continua a reinar soberano nos remotos grotões do País, onde eleitores sustentados pelo assistencialismo do Bolsa Família idolatram o chefão petista Lula da Silva. Foi basicamente esse clientelismo que impulsionou a transferência de votos de Lula para seu preposto na eleição, Fernando Haddad, levando o ex–prefeito paulistano para o segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL).
 
Superada a primeira etapa da campanha, e a título de arregimentar apoio fora do curral lulopetista, Haddad agora quer fazer o País acreditar que nada tem a ver nem com o PT nem com Lula. Mais do que isso: pretende identificar–se como um candidato sem partido, preocupado unicamente com a democracia brasileira, que, segundo seu discurso, estaria ameaçada pelo seu oponente – um ex–capitão que faz apologia da ditadura e da tortura.
 
Assim, a candidatura de Haddad seria nada menos que a salvação da democracia – condição que, se verdadeira fosse, tornaria praticamente obrigatório o voto no PT no segundo turno para aqueles que prezam as liberdades democráticas. Na narrativa elaborada pelos estrategistas do PT, aqueles que rejeitam esse axioma lulopetista, recusando–se a declarar voto em Haddad ainda que considerem Bolsonaro realmente uma ameaça à estabilidade do País, são desde logo qualificados como cúmplices do ex–capitão.
 
A isso se dá o nome de “coação moral”, como corretamente salientou o ex–presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista ao Estado. FHC relatou que vem sendo pressionado a “tomar posições”, isto é, a declarar voto em Haddad para, desse modo, reafirmar sua defesa da democracia contra o avanço do autoritarismo. Não fazê–lo, depreende–se, seria renunciar a essa defesa, permitindo que Bolsonaro e sua agenda retrógrada e fortemente iliberal prevaleçam. O ex–presidente rejeita categoricamente essa associação. “Não preciso provar que sou democrático”, declarou, como se isso fosse necessário.
 
A artimanha eleitoreira petista está obrigando democratas acima de qualquer suspeita a vir a público para dizer que não votar em Haddad no segundo turno está longe de ser uma declaração de apoio a Bolsonaro, muito menos uma demonstração de desapreço pela democracia.
 
O PT talvez tivesse melhor sorte na colheita de votos fora de seu reduto se fosse honesto e reconhecesse que, sob sua gestão, o Brasil mergulhou na maior crise econômica, política e moral de sua história. Ganharia simpatia se admitisse que não deveria ter elevado ao panteão dos “guerreiros do povo brasileiro” um magote de criminosos. Teria alguma chance de sucesso se seu discurso em defesa da democracia não fosse seletivo, poupando ditaduras companheiras como a da Venezuela. Poderia se redimir caso passasse a respeitar a opinião daqueles que não são petistas e caso confessasse que errou ao nunca considerar legítimo nenhum governo que não fosse o seu.
 
Como se vê, apenas retirar o vermelho e apagar Lula da propaganda eleitoral não é o bastante para convencer os verdadeiros democratas de que vale a pena apoiar Haddad nessa suposta luta em defesa da democracia. Em seu desabafo, Fernando Henrique Cardoso – cujo legado ao País sempre foi tratado como “herança maldita” pelo mesmo PT que agora demanda seu apoio – deu voz a muitos dos que estão cansados da retórica malandra e arrogante do lulopetismo. “Com que autoridade moral o PT diz: ou me apoia ou é de direita? Cresçam e apareçam. (...) Agora é o momento de coação moral... Ah, vá para o inferno. Não preciso ser coagido moralmente por ninguém. Não estou vendendo a alma ao diabo”, disse o ex–presidente.
 
Por ter sistematicamente desrespeitado aqueles que não aceitaram sua busca por hegemonia, por ter jogado brasileiros contra brasileiros e por ter empobrecido a política por meio da corrupção e do populismo rasteiro, o PT colhe agora os frutos amargos – na forma de um repúdio generalizado ao partido em quase todo o País e da desmoralização de sua tentativa de vestir o figurino democrático, que nunca lhe caiu bem.