Educação
02 MAR 2016 - 19:59h
A
sociedade contemporânea passa por uma crise de paradigmas que atinge os
valores éticos e morais. Não se pode negar que de uma forma ou de outra
todos nós somos afetados.
O fato de ser uma educadora e participar
do processo educativo por várias décadas, não me causa espanto, pois é
no ambiente escolar onde se manifestam as tensões e os impactos das
transformações da vida em sociedade.
Atualmente, o sistema educacional brasileiro tem intensificado reflexões e discussões entre os educadores sobre questões como falta de “limites”, desrespeito em sala de aula, desmotivação dos alunos, entre outros. Por outro lado, observa-se professores cansados, e, muitas vezes, doentes física e mentalmente.
Outros convivem com o sentimento de
decepção e fracasso, por planejarem projetos educacionais carregados de
intencionalidade, mas não vivenciarem seus bons resultados.
Não há como desconsiderar que os
acontecimentos atuais estão relacionados com a acelerada mudança nas
demandas sociais. O sistema educacional brasileiro, mergulhado numa
avalanche de exigências, ainda caminha de forma incipiente para atender
às novas exigências sociais, que não são poucas, e que não dependem
apenas da instituição escola, mas também de outras instituições
responsáveis pela formação integral das novas gerações.
Por esse motivo, nas discussões e
reflexões na escola, sempre há espaço para essa temática, na tentativa
de compreender esse panorama tão complexo que afeta a educação, por ser
no ambiente educacional onde as crianças e os jovens passam um grande
tempo de sua vida. A escola não pode assumir sozinha toda
responsabilidade de situações de conflitos existentes nas relações
sociais, mas deve envolver a família nas ações que contribuam para
fortalecer os padrões de conduta necessários à convivência humana.
Além disso, a função socializadora da
escola exige a revisão de metodologias de trabalho para tornar o espaço
educativo um ambiente de excelência em ensino e aprendizagem. Importante
ressaltar que uma das competências da escola é proporcionar ao aluno a
aprendizagem e o acesso ao conhecimento, sem cair na armadilha do
entretenimento, pois esse espaço privilegiado para aprender não pode se
transformar num local de divertimento e de lazer, essa experiência
compete à família.
O cenário da educação no mundo tem
ocupado páginas de jornais, revistas e dos noticiários televisivos, seja
no tocante ao desempenho insatisfatório dos alunos, seja pelo aspecto
comportamental que vem comprometendo o ensino e a aprendizagem. As
manchetes tratam da indisciplina, da falta de respeito, do desinteresse
escolar, do uso exacerbado de atitudes autoritárias e disciplinadoras,
sem contar da ineficiência das políticas públicas que não respondem às
reais necessidades da educação brasileira.
Essas e outras questões merecem um lugar
de destaque por parte da sociedade, uma análise e reflexão mais
criteriosa e crítica. Nessa perspectiva, é necessário refletir sobre o
papel que a escola deve desempenhar nesse processo, sem desprezar a
importância fundamental da família na formação e educação dos filhos.
É notório que nos últimos tempos uma das
mudanças mais significativas se constata na maneira como a família
atualmente se encontra organizada. Não existe apenas aquele modelo de
família constituída de pai, mãe e filhos. Hoje, existem famílias dentro
de famílias, com separações, novos casamentos, mas independente do
arranjo familiar, nenhuma instituição muda abandonando por completo o
velho.
A mudança é gestada num processo de conscientização, sendo a reflexão a ferramenta de luta para novas opções e escolhas.
A mudança é gestada num processo de conscientização, sendo a reflexão a ferramenta de luta para novas opções e escolhas.
Os novos contextos familiares produzem,
às vezes, insegurança, por romper com um paradigma de família no qual o
pai exercia o papel do chefe, responsável pela sobrevivência dos filhos;
a mãe, de cuidadora dos filhos e do ambiente da casa. Essas questões,
inevitavelmente, exigem a revisão e reconstrução de papéis e da
conjuntura familiar.
Importante destacar que esse mesmo
núcleo de sociedade tem exigido, por diferentes razões, que pais e mães
assumam posições cada vez mais competitivas no mercado de trabalho.
Enquanto antes as funções da família eram bem definidas, atualmente pai e
mãe assumem diferentes papéis, além do exercício diário de suas
atividades profissionais. Vale lembrar que com essa dinâmica, os filhos
ficam sob os cuidados de avós, tias, empregadas, escolas, encontrando-se
com os pais apenas à noite.
Essa situação gera uma série de
sentimentos que provoca conflitos, não só entre pais e filhos, mas entre
os próprios pais. É preciso destacar que as escolhas que os pais fazem
não devem gerar o sentimento de descuido e nem impedi-los de dizer não
às imposições de seus filhos.
Isso poderá conduzir a consequências
como não avaliar as atitudes de seu filho no momento necessário, por
exemplo. O temor de contrariar os filhos pode reforçar atitudes
inadequadas e prejudicar o seu desenvolvimento, intelectual, social,
afetivo e emocional.
Os pais não podem ceder às exigências
dos filhos, até porque a primeira instituição educadora é a família e
assim precisa ter clareza das reais responsabilidades do ato de educar,
considerando que o rigor da educação familiar carrega amor, afeto,
desejo e sonho de formar seres mais humanos.
Por muitas vezes, a escola precisa
intervir na educação dos seus alunos, por diferentes motivos. É nesse
momento também que a família deve ser a grande parceira e, com sensatez,
refletir sobre as diferentes questões que abarcam todo processo
educativo.
Nessa relação, não se pode confundir os
papéis e nem desautorizar uma ou outra instituição, mas fazer valer-se
das diferentes responsabilidades de cada uma, para que de forma efetiva a
atuação seja eficiente e eficaz. A grande questão é compartilhar
responsabilidades e não transferi-las.
Não cabe aqui emitir um juízo de valor,
mas apenas demonstrar que não é tarefa fácil educar; exige esforço,
responsabilidade, dedicação, compromisso e discernimento.
O ato de educar exige amor e esse
sentimento carrega o saber ouvir, mas também o fazer silenciar quando
necessário, além das intervenções indispensáveis que assegurem o
desenvolvimento das crianças e dos jovens que necessitam de referenciais
para que, através das experiências vividas, possam estruturar as
relações que estabelecerão com a sociedade nos diferentes ciclos da vida
adulta.
Vale ressaltar que, quando o assunto é
educação, não existem fórmulas, receitas ou conselhos extraordinários,
nem soluções definitivas, mas é preciso compreender que mudanças
significativas nos diferentes contextos sociais, econômicos e culturais
estão ocorrendo num pequeno intervalo de tempo, com grandes
transformações. Essas mudanças promovem algumas imposições, por muitas
vezes, difíceis de aceitá-las.
É nessa trama que se encontra a família e
a escola, e a lógica desse processo aponta para a necessidade de buscar
caminhos para acompanhar e interagir nessa nova dinâmica que,
inevitavelmente, exige uma revisão de concepções e conceitos sobre a
formação das crianças e dos jovens, sem perder de vista que ambas
compartilham dos mesmos objetivos – a formação de crianças e jovens,
tornando-os seres humanos com projeto de vida fundamentado em valores
como autonomia, respeito, flexibilidade, cooperação, tolerância,
conscientes dos seus direitos e deveres, com o compromisso de contribuir
para a transformação da realidade.
Assim, é preciso compreender que a
escola e a família devem estabelecer laços de afinidade para que
atitudes semelhantes sejam tomadas quanto à forma de educar e que a
presença dos pais na escola seja uma ação construtiva, a sua
participação fortaleça os vínculos afetivos, o seu envolvimento
contribua para que as crianças e os jovens se sintam amparados e
acolhidos.
A escola e família devem conviver em
completa sintonia em suas atitudes, já que seus propósitos caminham
juntos na formação e educação dos alunos. Não há como negar que a
família e a escola são instituições fundamentais da sociedade, com
papéis diferenciados, porém não contraditórios, e sim complementares.
Um assunto de tal complexidade não se
esgota em apenas algumas linhas, mas é um bom começo para que a tarefa
de educar não seja inviabilizada numa sociedade que vive momentos de
mudanças extremamente significativas, quando se constatam conflitos de
diferentes naturezas entre as crianças e os jovens.
Isso conclama visões mais criteriosas e
profundas sobre essa situação, sem contar que nenhuma revolução de ordem
econômica, social, política e cultural poderá alcançar excelentes
resultados se não tiver a contribuição da educação. Saúde e Paz!
Luiz Motivador
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