Projeto aprovado no Senado majora de um terço a dois terços pena para estupro coletivo. Sou favorável. Mas há muito mais a ser dito
Sempre
que se tenta agravar a pena de alguns crimes que chocam a sociedade, as
esquerdas saem por aí a vociferar contra o que consideram “populismo
jurídico”. Estamos diante de um caso que rende um bom debate.
Em maio de
2015, um grupo de quatro menores e um adulto torturou e estuprou quatro
adolescentes na cidade de Castelo do Piauí, a 190 km de Teresina. As
garotas, em seguida, foram jogadas de um penhasco de cinco metros. Os
estupradores ainda alvejaram suas cabeças com pedradas. Uma delas
morreu.
A senadora
Vanessa Graziottin (PCdoB-AM) apresentou, então, um projeto agravando a
pena para estupro quando na modalidade “coletivo”. No seu texto, a pena
passava a ser majorada em um terço no caso de haver dois ou mais
estupradores.
Para saber:
hoje em dia, o Código Penal prevê pena de 6 a 10 anos para estupro de
homem ou mulher; de 8 a 12 anos caso a vítima tenha entre 14 e 18 anos, e
de 8 a 15 anos para o estupro de vulneráveis (menores de 14 anos) ou
deficientes.
A relatora
da proposta, Simone Tebet (PMDB-MS), promoveu duas alterações: a
depender das circunstâncias, a majoração para estupro coletivo pode ser
de até dois terços, a critério do juiz. O texto passa a punir também a
divulgação de tais atrocidades, por qualquer meio, com pena específica:
de dois a cinco anos de reclusão. Para ler os documentos pertinentes,
clique aqui.
O projeto
foi aprovado em votação simbólica, sem nem passar pela CCJ — para tanto,
é preciso a concordância dos líderes, o que se deu — e segue para a
Câmara. Disse Simone: “Os crimes de violência contra a mulher,
infelizmente, na maioria das vezes, tomam o rumo da impunidade. Mais
ainda, da invisibilidade. A não ser em casos como do Rio de Janeiro,
quando aparecem nas manchetes (…), mas a maioria dos casos passa ao
largo das lentes de nossas retinas”.
Contra ou a favor?
É claro que não vou me opor à medida, ainda que reconheça a sua inocuidade. É evidente que haver mais um estuprador na cena aumenta a covardia. Que se agrave a pena então, embora eu acredite que, nesse caso, a majoração não coíbe o ato.
É claro que não vou me opor à medida, ainda que reconheça a sua inocuidade. É evidente que haver mais um estuprador na cena aumenta a covardia. Que se agrave a pena então, embora eu acredite que, nesse caso, a majoração não coíbe o ato.
O que me
pergunto é por que não houve tal celeridade quando se tentou votar a
redução da maioridade penal para punir devidamente monstros como aqueles
do Piauí — sempre destacando que eles próprios já estariam protegidos
pela impunidade, já que a lei, se alterada, não poderia retroagir. Aí,
as mesmas lideranças de esquerda que agora aplaudiram a aprovação da
proposta de Graziottin fizeram um escarcéu danado. Contra a redução da
maioridade.
Assim, a
gente aprende que, para as esquerdas, há ao menos uma circunstância em
que o estupro não é assim tão grave: quando praticado por menores. Nesse
caso, há o “desagravamento” da pena, e passa a valer a impunidade. Se o
estuprador tiver 17 anos, tão logo cumpra medidas socioeducativas, vai
para a rua. E com a ficha limpa.
Aliás, a
própria Graziottin e seu partido saíram gritando por aí que a redução da
maioridade penal era coisa da bancada da bala, não é mesmo? Digam-me
uma coisa: o que é mais frequente no país: crimes graves cometidos por
menores ou estupros coletivos? A resposta é óbvia. E, no entanto, o país
vai agravar a pena em um caso — e não me oponho — e manter a impunidade
no outro.
Afirmei num
texto na manhã desta terça que as esquerdas não gostam de pessoas, mas
de causas. Fátima Bezerra (PT-RN), senadora que tem uma das retóricas
mais detestáveis da Casa, afirmou: “Desculpem-me a palavra forte.
Deixamos o Congresso Nacional, pela ação, infelizmente, de uma bancada
de perfil fundamentalista, conservador, acabar sendo conivente com essa
situação à medida que deixa florescer e deixa prosperar iniciativas
legislativas aqui dentro que fomentam essa cultura da violência. Que é
isso? Que projeto de lei é esse que criminaliza as mulheres vítimas do
estupro, quando está lá inclusive na própria legislação que elas têm
direito”?
Esta senhora
se referia, no fim das contas, a projetos que ela entende que
dificultam o aborto. Sim, senhores! Fátima acha que se opor ao aborto
corresponde a ser conivente com o estupro. É uma gente asquerosa! Aliás,
deputadas e senadoras de esquerda usaram o caso do possível estupro
coletivo no Rio para fazer militância em favor da interrupção da
gravidez.
O lixo moral da esquerda brasileira talvez não tenha paralelo na história do pensamento.
Como eu
havia previsto no texto da manhã desta terça, a garota que diz ter sido
estuprada por 33 homens no Rio deixou de ser uma mulher para ser uma
bandeira. E, como estava escrito na estrela — do partido —, o estupro
virou apenas o pretexto da luta pró-aborto.
Essa gente, definitivamente, não tem vergonha.
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