Por Luiz Eduardo Rocha Paiva
Uma
causa longínqua, mas decisiva do desmanche do Brasil é a falência do
sistema de ensino, precário na transmissão de conhecimentos, no
desenvolvimento da cultura, na formação cívica do cidadão, na
valorização da história e tradições, o que enfraquece o patriotismo, e
na conscientização de princípios morais e éticos, fatores de
fortalecimento da sociedade. Essas deficiências facilitaram a
implantação e expansão no país da crise de valores, dos anos 1960-1970,
que contaminou a instituição da família, globalmente, e abalou
sociedades imaturas como a brasileira.
Esse
cenário foi explorado pela esquerda socialista, a partir dos anos 1960,
permitindo-lhe o progressivo domínio do sistema de ensino. Os partidos e
movimentos dessa ideologia acabaram por dominar, também, o meio
artístico e grande parte da mídia. Com os formadores de opinião nas
mãos, promoveram a satanização da maioria conservadora, falsamente
acusada de radical, regressista e avessa a anseios da população carente.
Na
verdade, o conservador não é contra a evolução política e social, desde
que se considere a experiência, a tradição, as virtudes e os valores
construídos e consagrados ao longo da história. Condena revoluções
sociais e políticas propostas por ideologias radicais e utópicas de viés
socialista internacionalista ou nacionalista, esta última chamada de
extrema direita e maliciosamente confundida com o conservadorismo.
Democracias
não se sustentam em nações sem consciência cívica, justiça legítima e
eficaz e onde o Estado não provê as necessidades básicas à população e é
gerido por lideranças desacreditadas. A esquerda socialista estava no
poder desde 1994, primeiro a fabianista e depois a marxista, ambas
parceiras de lideranças patrimonialistas. Essa aliança desacreditou a
democracia e afundou o país no mar de lama que sufoca a nação.
Com
sua ultrapassada visão de Estado, governo e sociedade, os socialistas
ditaram rumos desastrosos na busca do Estado do bem-estar social em um
país sem o nível de riqueza capaz de sustentá-lo e manter o
desenvolvimento. Imagine se tivessem tomado o poder nos anos 1960,
quando o Brasil ainda era a 48ª economia mundial.
A
crise brasileira está no limite do suportável. A continuar o ritmo de
deterioração política, econômica, moral e social a tendência será a
eclosão de rebeliões generalizadas, comprometendo a unidade política do
país. Eis o resultado de mais de uma década de danosas políticas
populistas eleitoreiras, de gestão econômica irresponsável e
insustentável e da estratégia de corrupção para perpetuar o PT no poder.
O
atual presidente da República e o PMDB foram parceiros da liderança
petista e, por isso, também são responsáveis pela crise. Assim, embora
o impeachment de Dilma Rousseff fosse o melhor para o país, e o processo
tenha sido legal, era possível antever as dificuldades para o sucessor
superar os óbices e recolocar o Brasil nos eixos.
Hoje,
o Estado não cumpre o papel que lhe delega a nação de garantir sua
segurança, desenvolvimento e bem-estar. Na segurança pública, a situação
é de pré-anomia, pois o Estado não demonstra autoridade e capacidade de
controlar todo o território nacional, nem de exercer o comando e a
disciplina sobre órgãos de segurança da população. A demora em controlar
as revoltas em presídios do Norte e do Nordeste e o motim da PM do
Espírito Santo revela leniência, indecisão e falta de vontade ou
autoridade dos governos Federal e estaduais. A mistura dessas fraquezas
com o não atendimento das necessidades básicas da população é um estopim
para a disseminação de revoltas capazes de provocar o caos
político-social e comprometer a segurança nacional.
A
efetiva reabilitação do Brasil, em todos os setores afetados, demandará
mais de uma década, mas o ponto de partida e os alicerces da
recuperação estão na economia. Será fundamental haver evidências seguras
de reabilitação, nos próximos meses, para as tensões se amenizarem. Com
isso, o governo terá folego para encaminhar as soluções aos problemas
dos setores político e social.
É
justo reconhecer que o governo busca implantar medidas necessárias à
recuperação econômica, mas precisa convencer a sociedade a aceitar
sacrifícios. Ela concordaria em arcar com um pesado ônus para ajudar o
Brasil a sair do abismo, desde que o andar de cima apertasse, e muito, o
próprio cinto. Porém, a liderança nacional, nos três Poderes da União,
não entende que o exemplo vem de cima e é a base moral da autoridade.
Nos altos escalões do serviço público, da União e dos estados, existem
mega-salários turbinados por benesses complementares, cuja legalidade
sem legitimidade afronta a justiça. A socializaçãoequilibrada desse
custo é a única forma de legitimar sacrifícios impostos a uma sociedade
sem reservas para cortar.
A
deterioração da economia nos próximos meses geraria cenários de
conflitos, pois as tensões sociais se agravariam, escalando para
revoltas em diversas regiões e ameaçando os poderes constitucionais e a
unidade nacional. O Executivo sem a confiança da nação, leniente, tímido
e sem força política, ao lado do Legislativo desacreditado e
descompromissado e do Judiciário dividido, terá muita dificuldade para
pacificar o país com base no arcabouço legal vigente. Para aquilatar o
provável nível de violência desses conflitos, basta lembrar que a
unidade nacional é cláusula pétrea para as Forças Armadas.
A
nação precisa entender que o poder da esquerda socialista, ideologia
liberticida e fracassada, e da nossa liderança política fisiológica é
fator de atraso e falência moral. Elas afundaram o Brasil, promoveram a
quebra de valores morais e do princípio da autoridade, bases da paz
social, incentivaram a indisciplina no serviço público e fraturaram a
coesão nacional.
Como
deter o desmanche do país, dentro das normas legais, com a nação
sujeita à forte influência socialista e sob o poder de lideranças
fisiológicas tão difíceis de expelir?
Luiz Eduardo Rocha Paiva é General de Divisão na reserva.

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