STF E GLOBO, VILÕES NACIONAIS
por Percival Puggina. Artigo publicado em 02.12.2018
Não hesito em afirmar que STF e Globo disputam o
primeiro lugar, tanto num concurso de presunção e arrogância quanto num de
antipatia, sendo igualmente rejeitados pela direita e pela esquerda.
O Grupo Globo, aqui denominado simplesmente “a Globo”, é
rejeitado pela esquerda porque esse segmento político nutre inimizade por
qualquer poder que não esteja totalmente subordinado a seus interesses.
Vem daí
a insistência do discurso petista em favor da “regulação da mídia”. O conhecido
blog esquerdista Brasil 247 em matéria do dia 8 de janeiro deste ano publicou
extenso artigo deixando bem clara, desde o título, a importância do tema: “Sem
regulação da mídia, não tem saída para a esquerda”.
Blogs de igual orientação,
aliás, atacam comumente a Globo acusando-a de golpista em virtude da divulgação
que fez dos achados da Lava Jato, da miserável ditadura venezuelana, das
relações escusas do governo petista com ditaduras de esquerda na Ibero América
e na África Subsaariana.
Como para o PT tudo que pesa contra ele é falso, os
petistas desajariam que tais matérias não fossem divulgadas ou, sendo, que o
sejam apenas aos insones das altas madrugadas. Daí o ódio ... oops – ódio não
porque os petistas não odeiam – dedicado à Globo. Para eles, escandalosa não é
a corrupção, mas a notícia sobre a corrupção.
Por outro lado, do centro para a direita do leque de abano
ideológico, espaço onde estão os conservadores, a Globo é rejeitada tanto em
virtude do combate frontal e deletério que dela recebem os valores morais
sedimentados na nossa tradição, quanto pelo seu apoio às pautas e causas da
esquerda. A essas duas tarefas, inequivocamente, se dedica imensa maioria de
seus programas, novelas e atores, jornalistas e comentaristas sistematicamente
recrutados para manifestações de apoio político ao partido da estrela e seus
cognatos ideológicos. A posição esquerdista da Globo ficou evidenciada no
editorial em que o direção do grupo de empresas se desculpou pelo apoio dado à
contrarrevolução de 1964.
Com o STF ocorre algo muito parecido. Nosso Supremo é
rejeitado pela esquerda e pela direita. Aquela o detesta pela legitimação
constitucional que deu ao processo de impeachment de Dilma Rousseff (malgrado a
“mãozinha” final proporcionada por Lewandowski) e, principalmente, pelas
“traições” de alguns ministros indicados pelo partido no julgamento de ações
penais contra petistas, desde o caso mensalão.
Há algumas semanas li, alhures,
entrevista em que José Dirceu, referindo-se a isso, afirmou que as indicações
para o STF durante os governos petistas foram extremamente rigorosas sob o
ponto de vista da afinidade ideológica. No entanto, digo eu, em juízo criminal
colegiado é muito difícil para um magistrado votar contra abundantes provas
contidas nos autos que todos leram. Daí a diferença de conduta: o PT tem ampla
base de apoio dentro do STF, aprova as pautas petistas que lá chegam e isso lhe
causa o repúdio de quem não é de esquerda, mas na hora da ação penal, onde não
há alternativa de prescrição ou nulidade viável, não havendo alternativa,
condena. Como a defesa intransigente dos próprios criminosos é uma
particularidade esquerdista, as demais condenações pluripartidárias só causam
desconforto aos sentenciados.
Logo ali adiante, porém, o STF costuma resolver boa parte
desses débitos soltando presos provisórios e condenados com uma liberalidade
que restabelece a necessária impunidade sem a qual se corre o risco de acabar
com a cadeia produtiva do crime. E aí, claro, a direita estrila.
Como se vê, STF e Globo são dois grandes vilões nacionais
pelos motivos certos e, também, pelos errados, o que não deixa de ser um feito.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense
de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões;
A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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