Por Maria Lucia Victor Barbosa
Em
1959, ano em que Fidel Alejandro Castro Ruz e seus barbudos derrubaram a
ditadura corrupta de Fulgencio Batista, começou o grande amor da
esquerda latino-americana pelo líder revolucionário, paixão que continua
até hoje apesar de Castro ter se tornado, como bem definiu o presidente
norte-americano recém-eleito, Donald Trump, “um ditador brutal de uma
ilha totalitária”.
Inicialmente
a retórica de Castro parecia ser a de um democrata e no seu documento, A
História me Absolverá (1953), o jornalista Ruy Mesquita relatou não
haver encontrado “nenhum traço de marxismo, de comunismo ou de esquerdismo”.
Entretanto,
Fidel declarou mais tarde que sempre fora marxista-leninista e que a
falsa imagem de democrata foi usada apenas para não assustar.
Condizente
com sua verdadeira ideologia ao assumir o poder Castro cancelou as
eleições livres que prometera, suspendeu a Constituição de 1940 que
garantia direitos fundamentais aos cubanos e passou a governar por
decreto.
Em 1976, impôs sua Constituição baseada na da URSS e nela havia,
entre outros artigos, os que limitavam os direitos dos cidadãos de se
associarem livremente. Pela opressão, por suas próprias leis o tirano de
Cuba governou despoticamente durante 49 anos.
Assassinou, prendeu,
torturou, matou milhares de cubanos que não concordavam com sua
ditadura. E não é à toa que Cuba foi chamada de Ilha Cárcere.
Algo
a ser ainda esmiuçado através da História é a ligação de Castro com a
União Soviética.
Possivelmente isso foi planejado antes dele derrotar
Batista e selado através de um pacto muito favorável para ambas as
partes: Cuba seria sustentada pelo império vermelho e Castro teria
proteção com relação aos Estados Unidos.
Os soviéticos,
através do caudilho puseram uma pedra no calcanhar dos norte-americanos
e reforçaram a cultura antiamericana que se tornou fortíssima na
América Latina. A pequena e insignificante Ilha produtora de charuto e
rum podia ser, na perspectiva das URSS, um posto avançado para
disseminar o comunismo em toda América Latina.
A
morte aos 90 anos do último ícone da esquerda latino-americana provocou
muitos louvores dos adeptos do neosocialismo. Lula, por exemplo, disse
que Castro foi como seu irmão mais velho, o maior de todos os
latino-americanos. Dilma também não poupou elogios. Até o Papa Francisco
se disse triste com o passamento do ditador sanguinário.
Sua
Santidade certamente perdoou o que Castro - na juventude estudante em
colégio jesuíta - fez com a Igreja. Em 1961, expulsou 131 padres,
marginalizou instituições religiosas e, aos que expressavam sua fé punia
com a proibição de acesso à universidade e às carreiras
administrativas. Até a celebração do Natal foi proibida.
Não vi a opinião dos gays de esquerda, mas li no Livro Negro do Comunismo que
homossexuais eram tratados como “pessoas socialmente desviadas” e que
por isso eram presos, sofriam maus tratos, subalimentação, isolamento.
Na Universidade de Havana foram julgados em público e obrigados a
reconhecer seus “vícios” antes de serem demitidos e presos.
Não
vi tampouco a opinião das feministas de esquerda ou da deputada
petista, Maria do Rosário. Mas na mesma obra consta que centenas de
mulheres foram presas em Cuba por motivos políticos. Eram espancadas,
humilhadas, entregues ao sadismo dos guardas e seus maridos eram
obrigados a assistir suas revistas íntimas. Horrores se passaram nas
medonhas masmorras cubanas para homens e mulheres e ainda passam, pois
existem presos políticos em Cuba.
Foi-se
o mais importante símbolo esquerdista da América Latina deixando como
legados o fracasso econômico e o inferno social para seus compatriotas.
Seu irmão Raul, que governa desde que a doença abateu o tirano caribenho, está com 85 anos. Quem sucederá na
ditadura hereditária dos Castros depois que Raul também se for? Chávez,
o verdadeiro herdeiro de Castro na América Latina partiu antes. Como
Cuba, a Venezuela é a imagem do fracasso, da brutalidade governamental,
da ausência dos direitos humanos, que configuram o Socialismo do Século 21. As figuras que remanescem no poder classificadas como de esquerda são subprodutos de caudilhos. No Brasil afunda Lula e seu PT depois de terem arrebentado o país.
Enquanto
isso, transformações estão em curso no mundo: Trump foi eleito
presidente nos Estados Unidos e vários líderes europeus, também de
direita poderão se tornar presidentes de seus países em 2017.
Ao
final desse pequeno artigo faço minhas as palavras do editorial do
Estadão de 29/11/2016: “O espetacular fiasco da experiência socialista e
castrista em Cuba deveria servir como prova definitiva da inviabilidade
desse modelo e da natureza irresponsável, despótica e corrupta do
regime de Fidel”.
(*) Maria Lucia Victor Barbosa é professora, escritora, socióloga, autora entre outros livros de O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – a Ética da Malandragem, Editora Zahar e América Latina – Em busca do Paraíso Perdido, Editora Saraiva.
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