quarta-feira, 10 de outubro de 2018

O Globo – No Peru, eleitor pune partidos acusados de corrupção

 
JANAÍNA FIGUEIREDO Correspondente janaina.figueiredo@oglobo.com.br BUENOS AIRES
 
Partidos tradicionais que têm políticos investigados pela “Lava-Jato” peruana foram os grandes perdedores nas eleições regionais no país.
 
Os peruanos foram às urnas no último domingo para eleger governadores e prefeitos dos 25 departamentos (estados) do país, e o resultado do pleito foi um claríssimo voto de castigo aos partidos nacionais e até pouco tempo mais fortes no cenário local, todos envolvidos na chamada “Lava-Jato peruana”, entre eles o fujimorista Força Popular. Ao mesmo tempo, consolidou-se a tendência que começou a surgir em 2010 de crescimento e triunfo de partidos e movimentos locais e regionais que, segundo analistas ouvidos pelo GLOBO, passarão a comandar entre 75% e 80% dos governos estaduais e municipais do país.
 
As investigações da “LavaJato peruana” tiveram um efeito devastador para os partidos que, nos últimos anos, lideraram a política local. Dois deles, o Partido Nacionalista, do ex-presidente Ollanta Humala (2006-2011), e Peru Possível, do também ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006), sequer apresentaram candidatos nas eleições regionais e correm sério risco de perder seus registros.
 
Já o Apra, do ex-presidente Alan García (1985-1990 e 2006-2011), não elegeu governadores e até ontem tinha poucas esperanças de ficar com alguma prefeitura relevante. O Peruanos pela Mudança, do ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski (destituído em março por denúncias de corrupção no caso Odebrecht), disputou a prefeitura de Lima e seu candidato obteve 0,4% dos votos.
 
SEM DIREITO À REELEIÇÃO
 
Tanto Humala como Toledo, García e Kuczynski estão sendo investigados pelos tribunais locais por denúncias de suposta corrupção. Toledo está fora do país, portanto, em categoria de foragido. Humala e sua mulher, Nadine Here dia, passaram oito meses sob regime de prisão preventiva e atualmente estão em liberdade, mas com restrições, por exemplo, para sair do país. Já García está em liberdade, mas como todos os demais ex-presidentes enfrenta acusações de corrupção, na maioria dos casos, relacionada a financiamento ilegal de campanhas eleitorais com dinheiro da Odebrecht.
 
A mesma suspeita existe em relação à ex-candidata presidencial Keiko Fujimori, que quase derrotou Kuczynski em 2016 e foi a artífice dos dois processos de impeachment contra o então presidente. Nos últimos meses, Keiko despencou nas pesquisas, viu seu pai, o ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), ter seu indulto humanitário anulado pela Corte Suprema e retornar à prisão. Apesar de ainda ter a maior bancada no Congresso, o fujimorismo, apontaram analistas, está dividido enas releições regionais sofreu um ade suas maiores derrotas. O partido perdeu seus três governos estaduais e está vendo seu capital político, até há pouco tempo suficiente para derrubar um chefe de Estado, esvair-se.
 
—O fujimorismo vive tempos complicado secada vez são menores suas chances para as presidenciais de 2012 — apontou Eduardo Dargent, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Católica do Peru.
 
Para ele, “esta eleição mostrou o grau de desprestígio da classe política tradicional peruana, decorrente, essencialmente, dos escândalos de corrupção”.
 
Pela primeira vez, foram proibidas reeleições, com od itau malei aprovada pelo Congresso.Dargentdes tacou que a novidade ampliou espaços para novos nomes na política, mas ele esclareceu que, em geral, os partidos e movimentos regionais “ainda são frágeis e, muitas vezes, efêmeros”.
 
O voto-castigo poupou partidos como o tradicional Ação Popular (AP), com mais de 30 anos de História, mas no qual não respingou a Lava-Jato local. O novo prefeito de Lima, Jorge Muñoz, uniu-se recentemente ao AC e fez uma campanha meteórica que o consagrou como novo prefeito, depois de uma gestão muito elogiada no município de Mira flores, na capital.
 
— A credibilidade dos partidos que até pouco tempo dominavam apolítica peruana foi dinamitada pela Lava Jato. Os eleitores expressaram seu repúdio à corrupção — analisou Luis Benavente, diretor da Vox Populi.
 
CRUZADA POR REFORMAS
 
Segundo ele, “o fujimorismo foi um dos grandes perdedores das regionais”.
 
— O candidato do Força Popular em Lima fez a pior eleição da História do partido —enfatizou o analista.
 
Em cruzada por aprovar reformas constitucionais com grandes mudanças no mundo legislativo e judicial, o presidente Martín Vizcarra (formalmente, do partido de Kuczynski, mas de saída), celebrou os resultados:
 
— O Peru vive uma etapa de reafirmação de seus valores democráticos. O povo está decidindo o futuro, com entusiasmo e convicção.
 
Entusiasmo, de fato, houve. De acordo com o Escritório Nacional de Processos eleitorais, cerca de 80,63% dos peruanos participaram da eleição.
 

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