É óbvio que entre um liberal e um esquerdista, eu votaria num liberal (assim como entre um socialdemocrata e um comunista, eu votaria num socialdemocrata). Mas um liberal não é o meu ideal. Explico. É claro que uma economia liberal e um Estado enxuto são situações muito desejáveis e, como conservador, defendo isso. Mas vamos analisar alguns fatores.
Em primeiro lugar, o Brasil é um país extrema e progressivamente estatista desde pelo menos Getúlio Vargas. A cultura administrativa, política, partidária e social é toda estatista. Tudo tem dedo do Estado. Tudo tem (e tem que ter) mil burocracias, regulamentações e impostos.
O povo aqui espera que tudo seja resolvido por políticas públicas, os pequenos e médios empresários são esmagados, a iniciativa privada é desestimulada, a oferta dos melhores empregos são os públicos, o sonho maior de todos é passar em concurso público, os sindicatos emperram qualquer movimentação em prol de uma economia mais aberta, o federalismo não existe na prática e gente de bem é impedida de abrir comércios nas ruas.
Aqui nessas terras, falar de privatização ainda é tabu (muito por conta da gigantesca propaganda estatista de décadas) e o brasileiro médio flerta com o pensamento infantil de que para melhorar a situação de todos, basta aumentar o salário mínimo numa canetada.
Nesse pedaço de terra, o povo odeia políticos, mas ama o Estado. Os políticos odeiam o povo e também amam o Estado. Alguns por servirem à ideologias vermelhas e terem fome de poder. Outros por servirem ao deus dinheiro, necessitando manter vivo o corporativismo, proteger grandes empresários e blindar a classe política. Outros por pura ignorância, achando que o Estado é uma enorme babá que deve cuidar de tudo.
Quando você pensa bem nisso, percebe que não, nenhum candidato liberal, chegando à presidência, vai conseguir magicamente mudar esse panorama do dia para a noite. Ele não vai, numa canetada, privatizar nossas mais de 300 empresas estatais, reduzir todos os impostos, cortar todos os custos absurdos da máquina do Estado e acabar com o excesso de burocracia para abrir e manter empresas. Não só é muita coisa para fazer, como depende de muita negociação com o Congresso, muita pressão sobre os indecisos, muito apoio popular, muito peito contra sindicatos, sindicalistas, partidos socialistas, mídia, jornalistas, faculdades, intelectuais, STF, etc.
Mesmo que tivéssemos um liberal com uma capacidade tão gigantesca de negociação, enfrentamento, administração e aquisição de apoio (popular e parlamentar), quatro anos não são suficientes para implementar nem metade do que sonhamos (e estou sendo bastante otimista aqui).
Este é um grande problema. Não porque esperamos que um presidente liberal resolva tudo em quatro anos e se torne um Messias redentor. Mas porque a única coisa que um presidente liberal tem a oferecer de positivo é uma reforma na economia. Já do ponto de vista moral/cultural/social, um presidente liberal é uma desgraça. E é aqui que entra o meu segundo ponto.
Um liberal não se importa com o problema da imigração ilimitada e indiscriminada, com a legalização do aborto, com a inclusão de ideologia de gênero nas escolas, com a destruição jurídica do conceito de casamento, com a perniciosidade do movimento LGBT, legalização das drogas, incentivo à promiscuidade, sexualização de crianças e adolescentes, imposição de pautas pela ONU, decadência do MEC, guerra cultural, guerra semântica. Pouco se importa também com a segurança pública. Não tem pulso firme. Não tem coragem de dizer algo que fira profundamente defensores de criminosos. Muito menos de fazer algo sobre. Ele se preocupa apenas com duas coisas: a economia e uma imagem equilibrada (fala polida, posição indefinida em temas não-econômicos, críticas ao radicalismo, etc.).
Para desgraça nossa, essa postura liberal é muito parecida com a dos socialdemocratas brasileiros (sobretudo os filiados ao PSDB) e corporativistas (sobretudo do DEM e do PMDB). Não é à toa que, na hipótese de um candidato liberal não conseguir se eleger à presidência (e não vai conseguir, pois as intenções de voto não passam de 1% e estamos a três meses das eleições), liberais se sentirão mais à vontade votando em Geraldo Alckimin ou em alguém do naipe de Michel Temer e Rodrigo Maia, do que em alguém como Jair Bolsonaro, por exemplo.
Alguém como Bolsonaro é muito radical com as palavras, pouco polido, descompensado. Que me roubem, eu aceito, mas com uma voz mansa, com palavras politicamente corretas e usando mesóclises. Em suma, entre um candidato mais à direita, porém conservador e nada polido, e um candidato da esquerda socialdemocrata, com verniz no rosto e voz aveludada, o liberal provavelmente opta pelo segundo.
Agora, junte as peças. Você vota num liberal unicamente por suas pautas econômicas, as quais ele não vai conseguir implementar nem metade (se for muito bom). Ganha de “presente” alianças com socialdemocratas e corporativistas do DEM e do PMDB, e ainda leva de “brinde” a aceitação de todas as pautas culturais defendidas por partidos como PSOL, PT, PCdoB, Rede, PTB e PCB.
Por falta de opção, já fomos obrigados a fazer escolha semelhante nos anos 90, tendo que aturar FHC no poder. Estabilizou a moeda, fez algumas mudanças importantes, mas pavimentou o caminho para toda a catástrofe moral/cultural que vemos hoje, bem como para 13 anos de PT no poder. Um candidato liberal, com muita probabilidade, não conseguirá fazer muito diferente. Ainda é uma opção melhor que um socialista. Mas, infelizmente, é alguém que dá munição ao inimigo na guerra cultural.
Votar em liberal, assim como votar em socialdemocrata, é meramente ganhar tempo até a próxima eleição, a fim de evitar mal maior. Está longe de ser a melhor opção. Votar em conservador também não é solução de nada, que fique claro. Mas em política, saímos no lucro se a situação não piorar. Não existe redenção. Então, que ao menos votemos naqueles que não tornem pior o inferno em que vivemos.
Em primeiro lugar, o Brasil é um país extrema e progressivamente estatista desde pelo menos Getúlio Vargas. A cultura administrativa, política, partidária e social é toda estatista. Tudo tem dedo do Estado. Tudo tem (e tem que ter) mil burocracias, regulamentações e impostos.
O povo aqui espera que tudo seja resolvido por políticas públicas, os pequenos e médios empresários são esmagados, a iniciativa privada é desestimulada, a oferta dos melhores empregos são os públicos, o sonho maior de todos é passar em concurso público, os sindicatos emperram qualquer movimentação em prol de uma economia mais aberta, o federalismo não existe na prática e gente de bem é impedida de abrir comércios nas ruas.
Aqui nessas terras, falar de privatização ainda é tabu (muito por conta da gigantesca propaganda estatista de décadas) e o brasileiro médio flerta com o pensamento infantil de que para melhorar a situação de todos, basta aumentar o salário mínimo numa canetada.
Nesse pedaço de terra, o povo odeia políticos, mas ama o Estado. Os políticos odeiam o povo e também amam o Estado. Alguns por servirem à ideologias vermelhas e terem fome de poder. Outros por servirem ao deus dinheiro, necessitando manter vivo o corporativismo, proteger grandes empresários e blindar a classe política. Outros por pura ignorância, achando que o Estado é uma enorme babá que deve cuidar de tudo.
Quando você pensa bem nisso, percebe que não, nenhum candidato liberal, chegando à presidência, vai conseguir magicamente mudar esse panorama do dia para a noite. Ele não vai, numa canetada, privatizar nossas mais de 300 empresas estatais, reduzir todos os impostos, cortar todos os custos absurdos da máquina do Estado e acabar com o excesso de burocracia para abrir e manter empresas. Não só é muita coisa para fazer, como depende de muita negociação com o Congresso, muita pressão sobre os indecisos, muito apoio popular, muito peito contra sindicatos, sindicalistas, partidos socialistas, mídia, jornalistas, faculdades, intelectuais, STF, etc.
Mesmo que tivéssemos um liberal com uma capacidade tão gigantesca de negociação, enfrentamento, administração e aquisição de apoio (popular e parlamentar), quatro anos não são suficientes para implementar nem metade do que sonhamos (e estou sendo bastante otimista aqui).
Este é um grande problema. Não porque esperamos que um presidente liberal resolva tudo em quatro anos e se torne um Messias redentor. Mas porque a única coisa que um presidente liberal tem a oferecer de positivo é uma reforma na economia. Já do ponto de vista moral/cultural/social, um presidente liberal é uma desgraça. E é aqui que entra o meu segundo ponto.
Um liberal não se importa com o problema da imigração ilimitada e indiscriminada, com a legalização do aborto, com a inclusão de ideologia de gênero nas escolas, com a destruição jurídica do conceito de casamento, com a perniciosidade do movimento LGBT, legalização das drogas, incentivo à promiscuidade, sexualização de crianças e adolescentes, imposição de pautas pela ONU, decadência do MEC, guerra cultural, guerra semântica. Pouco se importa também com a segurança pública. Não tem pulso firme. Não tem coragem de dizer algo que fira profundamente defensores de criminosos. Muito menos de fazer algo sobre. Ele se preocupa apenas com duas coisas: a economia e uma imagem equilibrada (fala polida, posição indefinida em temas não-econômicos, críticas ao radicalismo, etc.).
Para desgraça nossa, essa postura liberal é muito parecida com a dos socialdemocratas brasileiros (sobretudo os filiados ao PSDB) e corporativistas (sobretudo do DEM e do PMDB). Não é à toa que, na hipótese de um candidato liberal não conseguir se eleger à presidência (e não vai conseguir, pois as intenções de voto não passam de 1% e estamos a três meses das eleições), liberais se sentirão mais à vontade votando em Geraldo Alckimin ou em alguém do naipe de Michel Temer e Rodrigo Maia, do que em alguém como Jair Bolsonaro, por exemplo.
Alguém como Bolsonaro é muito radical com as palavras, pouco polido, descompensado. Que me roubem, eu aceito, mas com uma voz mansa, com palavras politicamente corretas e usando mesóclises. Em suma, entre um candidato mais à direita, porém conservador e nada polido, e um candidato da esquerda socialdemocrata, com verniz no rosto e voz aveludada, o liberal provavelmente opta pelo segundo.
Agora, junte as peças. Você vota num liberal unicamente por suas pautas econômicas, as quais ele não vai conseguir implementar nem metade (se for muito bom). Ganha de “presente” alianças com socialdemocratas e corporativistas do DEM e do PMDB, e ainda leva de “brinde” a aceitação de todas as pautas culturais defendidas por partidos como PSOL, PT, PCdoB, Rede, PTB e PCB.
Por falta de opção, já fomos obrigados a fazer escolha semelhante nos anos 90, tendo que aturar FHC no poder. Estabilizou a moeda, fez algumas mudanças importantes, mas pavimentou o caminho para toda a catástrofe moral/cultural que vemos hoje, bem como para 13 anos de PT no poder. Um candidato liberal, com muita probabilidade, não conseguirá fazer muito diferente. Ainda é uma opção melhor que um socialista. Mas, infelizmente, é alguém que dá munição ao inimigo na guerra cultural.
Votar em liberal, assim como votar em socialdemocrata, é meramente ganhar tempo até a próxima eleição, a fim de evitar mal maior. Está longe de ser a melhor opção. Votar em conservador também não é solução de nada, que fique claro. Mas em política, saímos no lucro se a situação não piorar. Não existe redenção. Então, que ao menos votemos naqueles que não tornem pior o inferno em que vivemos.
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