
Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net
A terceira semana do governo interino de Michel Temer
promete ser tensa politicamente e repleta de negociações complicadíssimas. O
mercado já começa a encarar, com um ceticismo crescente, a capacidade da equipe
de Temer em reverter as expectativas negativas da economia no curto e médio
prazos. Todos já perceberam que o mundo da politicagem vem abaixo, afetando
aliados de Temer, a cada bombástica divulgação de alguma gravação ou delação
premiada da Lava Jato.
A situação do presidente do Senado, Renan Calheiros, é
insustentável. É muito complicado tolerar que a agenda do judiciário fique
dependente da nada consistente agenda de soluções políticas e econômicas.
Prevalece o consenso de que a Operação Lava-Jato não tem como ser parada por
instituições ou armações políticas. A previsão é de que a caça aos
corruptos - hoje uma demanda da maioria da sociedade brasileira - vá se
intensificar. Os estragos políticos, no curtíssimo prazo, vão afetar a economia
- combalida pelos problemas estruturais brasileiros, agravados pela desastrosa
gestão petiista que sonha em retornar, mas não vai...
A desconfiança do mercado é agravada por um fato bem
objetivo. Na prática, até agora, o governo provisório só obteve autorização do
Congresso para aumentar despesas, não para cortá-las. O tamanho e o volume da
tesourada é que complica um consenso no curto prazo. A polêmica reforma da
Previdência não sai do papel tão cedo. Dificilmente, o Congresso discutirá
qualquer coisa mais séria antes de novembro.
O cronograma previsível é de improdutividade parlamentar - e
para lamentar. Entre junho e julho, existem as festas juninas e o recesso.
Parlamentares fogem de Brasília como o diabo foge da cruz. Até agosto, vai
rolar a novela do impeachment da afastada Dilma. Em agosto, tem a Olimpíada no
Rio de Janeiro. Em setembro e outubro, todos só vão querer saber das eleições
municipais (complicadas sem a irrigação de grana fácil das empreiteiras). Ou
seja, o País seguirá paralisado na maior crise econômica de todos os tempos.
Tem outro complicador político. O líder do governo na
Câmara, André Moura (PSC-SE), evidente aliado de um Eduardo Cunha que não foge
nem sai de cima, encontra muitas dificuldades para combinar os conflitantes
interesses do PMDB, da chamada "nova situação" (PSDB, DEM e PPS) e o
famoso "Centrão" - formado pelos partidos com fúria fisiológica e
repletos e parlamentares suspeitos ou acusados de crimes contra a administração
pública. Aliados pressionam pela distribuição de cargos a indicações
políticas para o segundo escalão. As maiores pressões vêm do PP, PR, PRB e
PTN. Tudo fica mais complicado "nas bases" porque a equipe econômica
resiste a aceitar a suspensão por um ano do pagamento da dívida dos Estados,
como pedem os governadores.
Temer precisa de resultados no curtíssimo prazo. Por isso,
pretende se reunir nesta segunda-feira com o secretário de Governo, ministro
Geddel Vieira Lima, e os líderes governistas para discutir uma "agenda
positiva" que vai enviar ao Congresso. O Presidento gostaria de incluir na
pauta de bondades a reposição salarial de servidores da União prevista no
Orçamento de 2016, que está parada na Câmara. Mas enquanto isso não é
viável - e porque vai gerar mais gastos -, ele vai surfar na tragédia do
momento: o estupro coletivo no Rio de Janeiro. Por isso, Temer vai mandar ao
parlamento um pacote de combate à violência contra as mulheres. Sempre é mais
fácil "jogar para a galera"...
Quem tem proposta alternativa para educação é Henrique
Meirelles. O Ministro da Fazenda pretende sugerir um sistema de “vouchers” a
ser usado como complemento na educação básica e universitária no Brasil.
Meirelles acredita que o mecanismo, no qual o governo reembolsa parte dos
gastos dos cidadãos em redes privadas, pode melhorar o acesso à educação e
elevar a qualidade das escolas no País. Já o financiamento da reforma da
Previdência tem uma ideia polêmica defendida pelas principais centrais
sindicais. CUT, Força Sindical e UGT - contra a idade mínima e a favor da
fórmula 85/95 sem progressividade. Para as centrais, o governo deve elevar a
arrecadação para equilibrar o sistema aprovando a legalização dos jogos de azar
(um velho sonho que os petistas não conseguiram emplacar). A Igreja
Católica é contra... Algumas igrejas evangélicas, que podem perder arrecadação
para a jogatina, também...
Antes da agendinha positiva, a prioridade é destravar a
pauta econômica. Representantes do governo se reúnem com líderes da base aliada
para decidir qual proposta de Desvinculação de Receitas da União,
flexibilizando o orçamento com rombo bilionário já aprovado, é a mais adequada
e tentar chegar a um acordo. Ainda há resistências da equipe de Henrique
Meirelles em aceitar que estados e municípios fiquem desobrigados de efetuar
gastos em áreas essenciais do governo, como saúde e educação. Uma proposta
do senador Romero Jucá prevê prorroga por quatro anos a desvinculação de 25%
das receitas. O texto de Jucá foi aprovado em primeiro turno no plenário da
Casa ainda durante o governo Dilma Rousseff. Não há consenso sobre o tema
em vésperas de eleições municipais...
De concreto, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deve
enviar ao Congresso a proposta de teto para crescimento da despesa pública, ao
qual estarão vinculados os gastos com saúde e educação. Além disso, dentro
do interesse direto de negócios do PMDB, o governo quer correr com a análise de
alterações a serem propostas para o Código de Mineração. Em outra área
delicada, o Conselho de Administração da Petrobras realiza uma reunião virtual
para acolher a renúncia de Aldemir Bendine. A presidência da estatal ficará com
Pedro Parente, que acumulará a presidência do Conselho de Administração da
Bolsa de Valores (a BM&F Bovespa).
Enquanto nada se resolve, a Lava Jato segue no pé da
politicagem corrupta do Brasil... Michel Temer não precisa se ajoelhar para
Eduardo Cunha, como sugeriu a caída Dilma. Mas, com certeza, Temer tem de
ajoelhar e rezar muito... A única coisa bonita para o lado dele é a Marcela -
primeira-dama-provisória... O resto está mais feio a cada momento...
Certeza absoluta

Releia o artigo de domingo: Debates
na guerra do fim dos imundos
Dilma sem saída

Transparência transviada

Tantas ilusões

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