Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Percival Puggina
Um personagem de Molière, Monsieur
Jourdain, descobriu certa feita, de estalo, que ao longo de toda sua vida
falara em prosa sem perceber. Da mesma forma, muitos brasileiros são marxistas
sem saber, hobbesianos sem saber, e muitos, sem saber, são responsáveis pelo
aumento dos impostos que pagam. De fato, toda vez que alguém atribui a ele, o
Estado, o dever de dar um jeito em algo, está pressionando no sentido de que se
forme um novo centro de custos, que vai exigir uma nova receita e ela se
tornará permanete. Se o custo for criado e a receita não, a conta que surgirá
não pode ficar pendurada na parede por um prego.
Estamos todos assistindo, nestes
dias, verdadeira aula prática sobre as consequências de se deixar o Estado
crescer. Todo mundo sabe que o Brasil precisa reduzir custos. Note-se: quando
digo todo mundo estou falando mesmo de uma percepção nacional e mundial. Um
déficit de R$ 170 bilhões não se resolve sem dor. O desemprego gerado pelas
baixas expectativas e elevados encargos é apenas um dos muitos artefatos
instalados nessa sala de tortura em que se transformou o Estado brasileiro. E
extinguir um simples centro de custo tem sido uma encrenca dos diabos.
Vou dar um exemplo. Nem o Itamaraty
escapou ao laboratório de fracassos que foi o governo da presidente Dilma. José
Serra se deparou com um rombo de R$ 3,2 bilhões nas contas da nossa
chancelaria. Uma vergonha. Aluguéis atrasados, contas de fornecedores vencidas,
compromissos regulares referentes à participação em órgãos internacionais não
pagos, e por aí vai. Mais de três bi. Solução? Fechar alguns centros de custo,
certo? Serra propôs fechar cinco embaixadas na África. Legal, mas não tem
jeito, ao que parece. Não dá para fechar nem Serra Leoa e Libéria.
E isso vale para tudo. No setor
público todos concordam com a necessidade de reduzir despesas, contanto que os
cortes ocorram noutro lugar, bem longe de onde cada um esteja atuando. Na
original história de Spencer Johnson – Quem mexeu no meu queijo? – falta um
terceiro ratinho que represente os que, no Brasil, passam a vida gritando “No
meu queijo ninguém mexe!”. Esses são os mais onerosos. A começar pelos poderes
de Estado, onde o Judiciário cuida do seu lado e de qualquer um que alegue
direitos sobre seu queijo federal, estadual ou municipal.
Se essa mentalidade não for superada,
se a gritaria que está se formando encontrar respaldo político, se nada for
feito para reduzir o custo do Brasil sobre os brasileiros, caminhamos para uma
situação hobbesiana, uma guerra de todos contra todos em que todos perdem. Quem
ganha o quê, quando o dinheiro acaba?
Percival Puggina (71), membro da
Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular
do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas
contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões,
integrante do grupo Pensar+
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