quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Meritocracia e os 5 principais mitos utilizados para sua objeção

 Meritocracia e os 5 principais mitos utilizados para sua objeção


 Meritocracia e os 5 principais mitos utilizados para sua objeção

Os principais mitos que desconstroem a ideia real de meritocracia, os interesses envolvidos na sua defesa e seus principais beneficiários.

Os principais mitos que procuram desconstruir a ideia real de meritocracia, os interesses envolvidos na sua defesa e seus principais beneficiários.


Recebi hoje de um grande amigo uma notícia publicada na Folha ontem: "Após escala ficar pública, 12 médicos pedem demissão em Araraquara".  A ideia do prefeito da cidade em expor a lista de presença dos médicos nos centros de saúde é inibir as faltas constantes desses profissionais que prejudicam o atendimento da população. Chega a ser revoltante que funcionários pagos com o dinheiro público em um atendimento essencial para as pessoas assumam um comportamento reativo perante tal ato, preferindo a demissão à prestação de contas de algo tão básico, como o cumprimento de seu contrato de trabalho. A reportagem cita a privilegiada situação que esses profissionais desfrutavam.

Se você concorda que a lista de presença de médicos pertencentes a centros de saúde públicos deveria estar disponível publicamente, você defende a meritocracia. Meritocracia também é vincular o seu ganho a um mínimo de cumprimento de sua função, como a presença no local de trabalho. O médico, assim como qualquer profissional, deve "merecer" seu salário e seu título se ele cumprir o acordo realizado em seu contrato de trabalho. Demonizada pelas esquerdas mais radicais, a meritocracia tornou-se uma palavra ofensiva e como escrevi anteriormente em Idiocracia: a apoteose de uma sociedade medíocre, um dos conceitos mais incompreendidos.

Porém, os discursos que se posicionam contra a meritocracia constantemente usam de espantalhos e enganos de causa e consequência para atacar a ideia. O termo em si consiste apenas em considerar atributos como educação, moral, talento, competência, treino ou simplesmente, capacidade de criação de valores para os demais, para a aquisição de determinado sucesso. Vamos ver quais são os discursos mais comuns (lidos em alguns sites de esquerda) que podem contaminar essa ideia e entender o que a meritocracia NÃO é.


1) Ser a favor da meritocracia é ser a favor das graves desigualdades sociais


Uma das principais falácias. O Estado, o maior gerador das desigualdades sociais, é uma instituição plenamente não meritocrática. É justamente pelos privilégios que seus funcionários possuem, como a estabilidade de emprego e reajuste de salários nivelados, que vemos uma transferência de riqueza tão acentuada para os amigos do poder, como no caso recente da corrupção na Petrobrás e em muitas centenas de outros. Desprezar a meritocracia é enaltecer o privilégio e o oportunismo de certos grupos. Na verdade, a implantação da meritocracia no setor público (e defendida corajosamente por alguns bons funcionários) selecionaria as melhores pessoas para prestar melhores serviços à população. Porém, colocaria na rua os incompetentes ou tornaria restritos, de forma universal, pomposos aumentos salariais. O próprio sistema de transferência de renda que sustenta a prerrogativa de diminuir a desigualdade social funcionaria muito melhor se a meritocracia fosse implantada em toda a máquina pública, incluindo as áreas de saúde e educação.

2) A meritocracia é injusta pois os ricos são ricos em virtude da transferência de heranças


Esse argumento não tem nem pé nem cabeça. A herança é um direito legal e não é o ponto da discussão. O mérito aqui foi de quem a construiu, e não de quem a recebeu. Culpar a meritocracia dizendo que a herança é uma propagadora das desigualdades sociais é ignorar que o mérito é uma consequência de ações próprias. Se o filho possui um razoável sucesso financeiro simplesmente porque recebeu uma polpuda herança do pai que faleceu, ele não tem nenhum mérito nisso. Claro que existem graus diferentes de mérito. O filho que multiplicou a riqueza (como estamos no Brasil, devemos deixar claro que esse tipo de consideração no artigo significa "de forma legal") tem claro o seu mérito, diferentemente daquele que dilapidou o patrimônio da família. Mas as consequências do recebimento da herança na sociedade nada têm a ver com meritocracia.

3) Não existe meritocracia pois as condições de nascimento das pessoas são diferentes.


Claro que são. E isso determina de forma muito clara as chances de sucesso das pessoas. Mas... onde está a relação de causa e efeito com a meritocracia? Meritocracia supõe condições similares. Só podemos equalizar méritos quando temos essa condição satisfeita. É claro que ser um famoso cirurgião é muito mais fácil para quem nasceu em uma família com recursos e seus pais já são cirurgiões. O mérito é um componente nessa conquista, mas condições iniciais também influenciam o progresso pessoal. Os resultados também são uma consequência das oportunidades. O problema não está na meritocracia, mas sim em garantir da melhor forma possível o acesso aos serviços básicos à população para que elas partam de uma condição justa - algo que não é prioridade para os governos em geral e principalmente para o que temos no momento. Aí sim podemos falar em comparações meritocráticas. Mas esse tipo de argumento não pode ser utilizado para não defender a meritocracia entre pessoas de um mesmo grupo, algo corriqueiro no nível de debate atual.

Os principais mitos que desconstroem a ideia real de meritocracia, os interesses envolvidos na sua defesa e seus principais beneficiários.

4) Argumentar que a meritocracia não se aplica porque ninguém é igual a ninguém.


Os demonizadores da meritocracia usam a figura ao lado para condenar o conceito de meritocracia. Mas... onde está o sentido? Uma empresa exige o mesmo de seu diretor quanto exige do operário? Uma escola exige que o professor de geografia seja apto em matemática? Uma prefeitura que exige que tanto os médicos quanto os funcionários da limpeza cumpram seu horário de trabalho invade a individualidade de cada um? Esse é um dos outros enganos que as pessoas que são contra a meritocracia usam contra sua inteligência. Isso não é argumento. Isso é desonestidade intelectual. Prover um ambiente meritocrático envolve sim, respeitar cada pessoa, mas também exigir que ela tenha uma habilidade aceitável para a função que ela deveria ser capaz de realizar. Manter pessoas incapazes nas funções envolve riscos e danos maiores para toda a sociedade.

5) A meritocracia impede os protestos contra as diferenças.


A esquerda adora protestar contra as diferenças sociais. E vê na meritocracia um problema, uma vez que a acusa da tese de que todas as diferenças são fundamentadas pelo mérito, onde os resultados que determinada pessoa alcançou na vida são determinados pela sua responsabilidade própria. Em parte isso é verdade. Um condenado possui uma condição inferior de liberdade por responsabilidade própria. Uma pessoa que nunca gostou de estudar, não cursou uma universidade por responsabilidade própria. Um esportista que nunca levou a sério seus treinos, não alcançou os resultados que almejava por responsabilidade própria. Mas por outro lado, coloquei anteriormente um dos pressupostos da meritocracia, que é basear-se em condições minimamente similares. Logo, o argumento não é verdadeiro. As pessoas podem continuar protestando contra as diferenças. Existem vários tipos de protestos que podem auxiliar, e muito, a melhoria das diferenças econômicas e sociais entre as pessoas. Elas podem protestar contra a aposentadoria privilegiada dos funcionários públicos, por exemplo. Contra a privatização por grupos políticos das estatais que tem dilapidado seu patrimônio. Contra os a máfia dos sindicatos que rouba parte de seu salário constantemente sem sua autorização. Contra a política de expansionismo financeiro do governo que faz a inflação aumentar prejudicando principalmente as camadas mais pobres. Contra a elevada presença do Estado que cria uma casta de apadrinhados. A meritocracia não prejudica nenhum tipo de protesto.

Eu poderia colocar mais um sexto argumento aqui mas prefiro fazer de forma separada, como um adendo: "A meritocracia é racista". Absurdo? Pois é... Nesse blog está escrito justamente isso: "De fato, essa ideologia (a meritocracia), levada às suas consequências lógicas, levaria à crença na existência de raças naturalmente desiguais, uma destinada a comandar, outra à escravidão". São ideias doentes. Creio que não é preciso explicar que a divisão de raças é justamente feito pelas pessoas que insistem nessa vitimização. É mais uma prova da constante desvirtualização que temos no debate hoje no Brasil. Você é a favor da meritocracia? Racista!

É verdade que a meritocracia, de certa forma, legitima uma certa desigualdade econômica. Tentei deixar claro no artigo "Transferência de riqueza e igualdade salarial: conceitos imorais", quando afirmei que "(...) as pessoas são naturalmente desiguais, possuem metas desiguais, possuem motivações desiguais. Ora, é claro que nunca serão economicamente iguais!". Lutar contra essa argumentação torna o discurso sem sentido. E enfatizo novamente, o que precisa ser garantido é a similaridade de oportunidades. O debate sobre isso é tão falho que até hoje um dos maiores problemas em nosso país é a educação fundamental, que seria um dos pilares para promover condições iniciais melhores para todos. Maior reconhecimento para os melhores professores, pois auxiliam esse processo. Maior reconhecimento para os melhores profissionais de saúde, pois produzem melhores resultados para a população. Maior reconhecimento para os melhores policiais, pois isso aumenta a segurança das pessoas. Atos meritocráticos contribuem para a ascensão da qualidade do sistema como um todo, pois possuem incentivos para o restante da equipe. E qualidade é algo com que todos podemos nos beneficiar.

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