Meritocracia e os 5 principais mitos utilizados para sua objeção
Os principais mitos que procuram desconstruir a ideia real de meritocracia, os interesses envolvidos na sua defesa e seus principais beneficiários.
Recebi hoje de um grande amigo uma notícia publicada na Folha ontem: "Após escala ficar pública, 12 médicos pedem demissão em Araraquara". A ideia do prefeito da cidade em expor a lista de presença dos médicos nos centros de saúde é inibir as faltas constantes desses profissionais que prejudicam o atendimento da população. Chega a ser revoltante que funcionários pagos com o dinheiro público em um atendimento essencial para as pessoas assumam um comportamento reativo perante tal ato, preferindo a demissão à prestação de contas de algo tão básico, como o cumprimento de seu contrato de trabalho. A reportagem cita a privilegiada situação que esses profissionais desfrutavam.
Se você concorda que a lista de presença de médicos pertencentes a
centros de saúde públicos deveria estar disponível publicamente, você
defende a meritocracia. Meritocracia também é vincular o seu ganho a um
mínimo de cumprimento de sua função, como a presença no local de
trabalho. O médico, assim como qualquer profissional, deve "merecer" seu
salário e seu título se ele cumprir o acordo realizado em seu contrato
de trabalho. Demonizada pelas esquerdas mais radicais, a meritocracia
tornou-se uma palavra ofensiva e como escrevi anteriormente em Idiocracia: a apoteose de uma sociedade medíocre, um dos conceitos mais incompreendidos.
Porém, os discursos que se posicionam contra a meritocracia constantemente usam de espantalhos e enganos de causa e consequência para atacar a ideia. O termo em si consiste apenas em considerar atributos como educação, moral, talento, competência, treino ou simplesmente, capacidade de criação de valores para os demais, para a aquisição de determinado sucesso. Vamos ver quais são os discursos mais comuns (lidos em alguns sites de esquerda) que podem contaminar essa ideia e entender o que a meritocracia NÃO é.
Uma das principais falácias. O Estado, o maior gerador das desigualdades sociais,
é uma instituição plenamente não meritocrática. É justamente pelos
privilégios que seus funcionários possuem, como a estabilidade de
emprego e reajuste de salários nivelados, que vemos uma transferência de
riqueza tão acentuada para os amigos do poder, como no caso recente da
corrupção na Petrobrás e em muitas centenas de outros. Desprezar a
meritocracia é enaltecer o privilégio e o oportunismo de certos grupos.
Na verdade, a implantação da meritocracia no setor público (e defendida
corajosamente por alguns bons funcionários)
selecionaria as melhores pessoas para prestar melhores serviços à
população. Porém, colocaria na rua os incompetentes ou tornaria
restritos, de forma universal, pomposos aumentos salariais. O próprio
sistema de transferência de renda que sustenta a prerrogativa de
diminuir a desigualdade social funcionaria muito melhor se a
meritocracia fosse implantada em toda a máquina pública, incluindo as
áreas de saúde e educação.
Esse argumento não tem nem pé nem cabeça. A herança é um direito legal e
não é o ponto da discussão. O mérito aqui foi de quem a construiu, e
não de quem a recebeu. Culpar a meritocracia dizendo que a herança é uma
propagadora das desigualdades sociais é ignorar que o mérito é uma
consequência de ações próprias. Se o filho possui um razoável sucesso
financeiro simplesmente porque recebeu uma polpuda herança do pai que
faleceu, ele não tem nenhum mérito nisso. Claro que existem graus
diferentes de mérito. O filho que multiplicou a riqueza (como estamos no
Brasil, devemos deixar claro que esse tipo de consideração no artigo
significa "de forma legal") tem claro o seu mérito, diferentemente
daquele que dilapidou o patrimônio da família. Mas as consequências do
recebimento da herança na sociedade nada têm a ver com meritocracia.
Claro que são. E isso determina de forma muito clara as chances de
sucesso das pessoas. Mas... onde está a relação de causa e efeito com a
meritocracia? Meritocracia supõe condições similares. Só podemos
equalizar méritos quando temos essa condição satisfeita. É claro que ser
um famoso cirurgião é muito mais fácil para quem nasceu em uma família
com recursos e seus pais já são cirurgiões. O mérito é um componente
nessa conquista, mas condições iniciais também influenciam o progresso
pessoal. Os resultados também são uma consequência das oportunidades. O
problema não está na meritocracia, mas sim em garantir da melhor forma
possível o acesso aos serviços básicos à população para que elas partam
de uma condição justa - algo que não é prioridade para os governos em
geral e principalmente para o que temos no momento. Aí sim podemos falar
em comparações meritocráticas. Mas esse tipo de argumento não pode ser
utilizado para não defender a meritocracia entre pessoas de um mesmo
grupo, algo corriqueiro no nível de debate atual.
Os demonizadores da meritocracia usam a figura ao lado para condenar o
conceito de meritocracia. Mas... onde está o sentido? Uma empresa exige o
mesmo de seu diretor quanto exige do operário? Uma escola exige que o
professor de geografia seja apto em matemática? Uma prefeitura que exige
que tanto os médicos quanto os funcionários da limpeza cumpram seu
horário de trabalho invade a individualidade de cada um? Esse é um dos
outros enganos que as pessoas que são contra a meritocracia usam contra
sua inteligência. Isso não é argumento. Isso é desonestidade
intelectual. Prover um ambiente meritocrático envolve sim, respeitar
cada pessoa, mas também exigir que ela tenha uma habilidade aceitável
para a função que ela deveria ser capaz de realizar. Manter pessoas
incapazes nas funções envolve riscos e danos maiores para toda a
sociedade.
A esquerda adora protestar contra as diferenças sociais. E vê na
meritocracia um problema, uma vez que a acusa da tese de que todas as
diferenças são fundamentadas pelo mérito, onde os resultados que
determinada pessoa alcançou na vida são determinados pela sua
responsabilidade própria. Em parte isso é verdade. Um condenado possui
uma condição inferior de liberdade por responsabilidade própria. Uma
pessoa que nunca gostou de estudar, não cursou uma universidade por
responsabilidade própria. Um esportista que nunca levou a sério seus
treinos, não alcançou os resultados que almejava por responsabilidade
própria. Mas por outro lado, coloquei anteriormente um dos pressupostos
da meritocracia, que é basear-se em condições minimamente similares.
Logo, o argumento não é verdadeiro. As pessoas podem continuar
protestando contra as diferenças. Existem vários tipos de protestos que
podem auxiliar, e muito, a melhoria das diferenças econômicas e sociais
entre as pessoas. Elas podem protestar contra a aposentadoria
privilegiada dos funcionários públicos, por exemplo. Contra a
privatização por grupos políticos das estatais que tem dilapidado seu
patrimônio. Contra os a máfia dos sindicatos
que rouba parte de seu salário constantemente sem sua autorização.
Contra a política de expansionismo financeiro do governo que faz a
inflação aumentar prejudicando principalmente as camadas mais pobres.
Contra a elevada presença do Estado que cria uma casta de apadrinhados. A
meritocracia não prejudica nenhum tipo de protesto.
Eu poderia colocar mais um sexto argumento aqui mas prefiro fazer de forma separada, como um adendo: "A meritocracia é racista". Absurdo? Pois é... Nesse blog está escrito justamente isso: "De fato, essa ideologia (a meritocracia), levada às suas consequências lógicas, levaria à crença na existência de raças naturalmente desiguais, uma destinada a comandar, outra à escravidão". São ideias doentes. Creio que não é preciso explicar que a divisão de raças é justamente feito pelas pessoas que insistem nessa vitimização. É mais uma prova da constante desvirtualização que temos no debate hoje no Brasil. Você é a favor da meritocracia? Racista!
É verdade que a meritocracia, de certa forma, legitima uma certa desigualdade econômica. Tentei deixar claro no artigo "Transferência de riqueza e igualdade salarial: conceitos imorais", quando afirmei que "(...) as pessoas são naturalmente desiguais, possuem metas desiguais, possuem motivações desiguais. Ora, é claro que nunca serão economicamente iguais!". Lutar contra essa argumentação torna o discurso sem sentido. E enfatizo novamente, o que precisa ser garantido é a similaridade de oportunidades. O debate sobre isso é tão falho que até hoje um dos maiores problemas em nosso país é a educação fundamental, que seria um dos pilares para promover condições iniciais melhores para todos. Maior reconhecimento para os melhores professores, pois auxiliam esse processo. Maior reconhecimento para os melhores profissionais de saúde, pois produzem melhores resultados para a população. Maior reconhecimento para os melhores policiais, pois isso aumenta a segurança das pessoas. Atos meritocráticos contribuem para a ascensão da qualidade do sistema como um todo, pois possuem incentivos para o restante da equipe. E qualidade é algo com que todos podemos nos beneficiar.
Porém, os discursos que se posicionam contra a meritocracia constantemente usam de espantalhos e enganos de causa e consequência para atacar a ideia. O termo em si consiste apenas em considerar atributos como educação, moral, talento, competência, treino ou simplesmente, capacidade de criação de valores para os demais, para a aquisição de determinado sucesso. Vamos ver quais são os discursos mais comuns (lidos em alguns sites de esquerda) que podem contaminar essa ideia e entender o que a meritocracia NÃO é.
1) Ser a favor da meritocracia é ser a favor das graves desigualdades sociais
2) A meritocracia é injusta pois os ricos são ricos em virtude da transferência de heranças
3) Não existe meritocracia pois as condições de nascimento das pessoas são diferentes.
4) Argumentar que a meritocracia não se aplica porque ninguém é igual a ninguém.
5) A meritocracia impede os protestos contra as diferenças.
Eu poderia colocar mais um sexto argumento aqui mas prefiro fazer de forma separada, como um adendo: "A meritocracia é racista". Absurdo? Pois é... Nesse blog está escrito justamente isso: "De fato, essa ideologia (a meritocracia), levada às suas consequências lógicas, levaria à crença na existência de raças naturalmente desiguais, uma destinada a comandar, outra à escravidão". São ideias doentes. Creio que não é preciso explicar que a divisão de raças é justamente feito pelas pessoas que insistem nessa vitimização. É mais uma prova da constante desvirtualização que temos no debate hoje no Brasil. Você é a favor da meritocracia? Racista!
É verdade que a meritocracia, de certa forma, legitima uma certa desigualdade econômica. Tentei deixar claro no artigo "Transferência de riqueza e igualdade salarial: conceitos imorais", quando afirmei que "(...) as pessoas são naturalmente desiguais, possuem metas desiguais, possuem motivações desiguais. Ora, é claro que nunca serão economicamente iguais!". Lutar contra essa argumentação torna o discurso sem sentido. E enfatizo novamente, o que precisa ser garantido é a similaridade de oportunidades. O debate sobre isso é tão falho que até hoje um dos maiores problemas em nosso país é a educação fundamental, que seria um dos pilares para promover condições iniciais melhores para todos. Maior reconhecimento para os melhores professores, pois auxiliam esse processo. Maior reconhecimento para os melhores profissionais de saúde, pois produzem melhores resultados para a população. Maior reconhecimento para os melhores policiais, pois isso aumenta a segurança das pessoas. Atos meritocráticos contribuem para a ascensão da qualidade do sistema como um todo, pois possuem incentivos para o restante da equipe. E qualidade é algo com que todos podemos nos beneficiar.
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