quinta-feira, 15 de novembro de 2018

“Arte” Moderna: Um Infiltrado Entre As Bacantes




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“Arte” Moderna: Um Infiltrado Entre As Bacantes


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Como já narrei, agora faço um curso de história em uma universidade brasileira (que por aqui chamo Universidade de Gothan). O curso não é sem prazeres, mas também não é sem moléstias, e uma delas é a cota de horas de atividades complementares que todo aluno é obrigado a fazer até a graduação, atividades que podem incluir peças teatrais.
Vi que estava em cartaz a peça Bacantes de Eurípedes no Teatro Oficina em São Paulo. Cinco horas e meia de peça. Eu já esperava ser uma merda, mas cinco horas e meia me ajuda bastante a bater a minha cota. Fui à peça. E não me enganei, é uma bosta retardada mesmo. Mas não me arrependi, valeu pelas horas. E por este post.
O meu integrador acadêmico, o Lamar, é um esquerdista pós-modernista e já se disse fã do Zé Celso. Então é claro que não serei louco de falar mal da peça no relatório. Mas tenho vontade de falar mal. Então, farei uma espécie de caixa-dois: Aqui no blog, vai minha verdadeira opinião. Para o senhor Lamar, vou escrever o que ele quiser ler. E ainda vou escrever completamente bêbado.

Resumo da Ópera

Cheguei relativamente cedo ao teatro. Fui ouvindo no carro um nerdcast sobre o tema linguística, tema pelo qual normalmente me interesso, mas hoje não. Não estava muito bem de humor. Aliás, não ando muito bem de humor, especialmente após as 18h. Mas até aí tudo bem. Meu humor piorou “um pouquinho” quando, ao chegar à hostess, após aguardar um tempão na fila com outras pessoas, me disseram que eu tinha que ter pegado outra fila, para quem comprou ingresso pela internet, e sugeriram que eu fosse para o final desta outra fila. Não havia ninguém para informar ou organizar. É claro que eles mudaram de ideia e deram minha pulseirinha e me deixaram entrar naquela hora mesmo. Que bom, ou eu não estaria aqui escrevendo este post, provavelmente estaria preso ou morto após entrar com o meu carro no tal teatro oficina e atropelado uma dúzia de “bacantes”.
O teatro é bem diferente do que você esperaria de um teatro. Porque não tem palco. Não tem nem o formato de um teatro. Mais faz lembrar um mapa do Counter-Strike (e eu adoraria snipear alguns “bacantes”): Um galpão de aspecto industrial, oficina mesmo, vertical, com algumas plataformas ou andaimes em cada lado (mais ou menos como no Donkey Kong) para a plateia se acomodar.
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O longo corredor entre estas duas plataformas é o que serve de palco. Acabei sentando bem embaixo, foi onde achei lugar. Numa espécie de mureta. Nem quis tirar a mochila das costas. Aí a peça começou, após enumerarem a looonga lista dos patrocinadores (todos contemplados pela lei Rouanet, claro) e avisarem que toda a encenação seria gravada, e que trataram de toda a burocracia, e assim todo mundo que comprou ingresso já teria autorizado o uso de sua imagem, e quem não concordasse, que fosse à bilheteria pedir o dinheiro de volta. Mas eu preciso das horas complementares…
Poderia falar um pouco do enredo da peça, mas praticamente não tem nenhum. Nenhum nexo, ou pelo menos nenhum que faça sentido à uma mente sóbria. Nada além de algumas historias soltas envolvendo os deuses Dionísio e Baco, com muita cantoria. A peça começa com a encenação de um parto. Ou isso foi na metade? Não lembro, não faz diferença. E todo o resto da peça resume-se a um monte de gente seminua ou nua em pelo, de ambos os sexos, correndo e de um lado pro outro, cantando e brincando, uma grande orgia infantiloide. Como é de praxe nas peças do teatro oficina, fez parte do ato alguns atores (de ambos os sexos) se masturbando, como era no momento que a tal Afrodite fazia ao dar a luz ao Baco, batendo uma sirirca nervosa… Ou foi ao Dionísio? Ah, que se foda, é tudo muito maluco, tanto faz se eu tivesse assistido da metade em diante ou do começo para o fim.
Havia interação dos atores com a plateia, algo que não gosto muito, e menos ainda neste contexto, mas acho que viram a minha cara de saco cheio e nem vieram brincar comigo. Exceto pela mulher deitada atrás de mim, no que eles chamavam de “jardim”, atrás da mureta, mulher que em determinada hora começou a pisar na minha mochila e puxá-la, e também puxou o meu casaco, eu virei várias vezes para perguntar o que ela queria, mas parecia que ela não estava querendo chamar a minha atenção para dizer alguma coisa, só queria puxar a minha mochila e o meu casaco para encher o saco mesmo. Eu queria sair para fumar, e eles tinham explicado como sair do teatro sem ser pelo “palco”, mas eu tinha esquecido as instruções. Ah, bem… Que infortúnio. Em dado momento, não resisti à piada: Comentei com o sujeito ao meu lado: “Era melhor ter ido ver o filme do Pelé”.
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E entra a política

A peça, além da sacanagem bem gratuita, contou com uma encenação, na parte mais alta do teatro, que não estava bem visível para mim, encenação em que uma presidente Dilma careca era arrastada para longe por um político de terno e gravata, com faixa presidencial, enquanto era içada uma grande cédula de dólar, como se fosse uma bandeira. Este personagem, o presidente (Temer, evidentemente), junto com outro, vestido de gari (uma sátira ao prefeito João Dória) serviu de espantalho para uma boa parte do restante da peça. Os momentos em que apenas eles falavam, e aquele em que foi içada a nota de dólar gigante, foram os únicos momentos da peça em que eu sorri, mas é lógico que o falastrão Zé Celso, que dirigiu e também atuou, não esperava que alguém gostasse dessas falas. Serviram para fazer uma espécie de “dois minutos de ódio”, como em 1984. Em dado momento, uma atriz subiu em uma escada e simulou estar pichando, e o ator de gari foi atrás dela, subindo a escada. Até achei um pouco engraçado.
Tudo para expressarem como são um grupo de “minorias oprimidas” pelos caretas malvados que só querem arruinar a diversão dos libertinos de esquerda. O personagem presidente, em dado momento, avisou estar horrorizado com um tal de culto a um deus diferente que estaria tirando as mulheres das famílias… Ai, quanta besteira.

Arte de Esquerda?

Eu quero ser perfeitamente honesto aqui: Nem toda arte de esquerda, ou feita por esquerdista, é ruim, longe disso. Na verdade, parece que a inclinação criativa costuma vir junto de uma personalidade marcada por inconformismo, criativos são rebeldes em geral, o  que acaba levando estas pessoas a se identificarem mais com a política de esquerda. Mas isto não significa que eles não saibam trabalhar. Veja o caso do cineasta Oliver Stone, comunista de carteirinha, que já entrevistou Fidel Castro. Foi roteirista de Scarface, e diretor de clássicos como Wall Street, Platoon, e, mais recentemente, Snowden. Obras de arte com qualidade inquestionável, tramas envolventes e enredos perfeitamente coerentes, com começo meio e fim. Mesma coisa de Paul Verhoeven, de Vingador do Futuro (propaganda comunista safada, mas filmão) e Instinto Selvagem. A lista é muito longa. O mais legal é que esses artistas são de esquerda mas não fazem arte apenas para esquerdistas. Todo mundo pode apreciar seus filmes, independe de inclinação política. E o mesmo procede com músicos, teatrólogos, pintores…
Mas os artistas brasileiros de esquerda… Que desgraça.  Dos músicos vários se salvam (Chico Buarque e Caetano, por exemplo, são daqueles que fazem música universalmente agradável, independente de suas ideologias). Mas dos filmes que você mais amou na vida, quantos foram brasileiros? Provavelmente, você os contaria com os dedos de uma só mão. Uma grande parte da produção cinematográfica brasileira (mas não toda, que fique bem claro) é feita por intelectuais de esquerda para outros intelectuais de esquerda. Pago com dinheiro do povo. Tem coisa boa, no cinema e no teatro também, mas uma grande parte desses artistas são tão “modernos” e “desconstruídos” que acham que arte que seja agradável, ou mesmo coerente, é conformista e burguesa. Nem a arquitetura do teatro pode ser padrão! Tentam ser do contra de qualquer jeito, mesmo que seja pra ficar uma bosta. Um caso que ficou mais famigerado foi aquele da peça Macaquinhos, em que, em determinado momento, os atores ficavam de quatro, um atrás do outro, fazendo uma roda, com um ator enfiando a mão na bunda do outro. E isso é fichinha perto do que rolou na peça As Bacantes.
O que mais me impressionou foi haver crianças por lá, na plateia. Tão errado…
O terrorista anarquista Ted Kaczynski, mais conhecido como Unabomber, escreveu e publicou, pouco antes de ser preso, seu “Manifesto Unabomber: A Sociedade Industrial E Seu Futuro”. A obra é extremamente neurótica, repleta de teorias psicanalíticas equivocadas e niilismo exagerado, ostensivamente tecnofóbica, neo-ludita. O simples fato de seu autor ser um assassino já é motivo para termos receio. Mas é um desperdício simplesmente rejeitá-la: Ao examinar o manifesto de Unabomber, temos que ser minuciosos, como se estivéssemos desarmando uma de suas bombas. Não é tudo loucura: O trecho em que ele fala da esquerda, e da arte e da intelectualidade da esquerda em especial, é quase impecável. Comete algumas generalizações exageradas, que não apagam o valor do texto que é uma sova tão certeira na esquerda. Reproduzo alguns trechos em especial
17. As formas de arte que apelam aos intelectuais do esquerdismo modernotendem a enfocar-se na sordidez, na derrota e no desespero ou, por outro lado,tomam um tom orgiástico, renunciando ao controle racional, como se nãotivesse esperança de conseguir nada através do cálculo racional e tudo o queficou de fora deve submergir na sensação do momento.
18. Os filósofos esquerdistas modernos tendem a recusar coisas como razão,ciência e realidade objetiva e fazem questão de que tudo é culturalmente relativo. É justo formular perguntas sérias sobre os fundamentos do saber científico, sobretudo quando o conceito de realidade objetiva pode ser definido. Mas é óbvio que estes filósofos não são simplesmente coerentes de cabeça fria que sistematicamente analisam os fundamentos do conhecimento. 

 Estão profundamente envolvidos emocionalmente em seu ataque à verdade e à realidade. Atacam estes conceitos por suas necessidades psicológicas. Seu ataque é uma saída para a hostilidade, e ao ser exitoso, satisfaz o impulso pelo poder.
Em cheio.
Só faria um adendo: Estes artistas e intelectuais de que Kaczynski fala (ele mesmo diz no manifesto que não é à toda a esquerda que se refere) são aqueles do movimento conhecido como pós-modernista. Afinal, por que a esquerda, em especial a nossa, parece gostar de tudo quanto é porcaria? Por que essa fascinação com o estranho, o torpe, o marginal, o mau, o feio, o grotesco?
Antes de Dória (o “fascista mor” de São Paulo) estava o medíocre Fernando Haddad, que fez uma gestão para uma cidade de grafiteiros e skatistas, os mais ilustres cidadãos de sua São Paula. Dória, o “grande fascista”, cometeu o abominável ato de mandar limpar os muros da cidade. A tal “arte das ruas”, um monte de rabiscos nas paredes, feitas por pessoas não autorizadas pelos donos. “Higienismo”, no jargão pós-modernista. E qual seria o contrário de higienismo? “Sujismo”? Porque parece ser isto mesmo que esta esquerda tanto adora: Imundice. Um dos atores de Bacantes fez questão até de fazer seu papel com a bunda suja (juro).
Outro dia, foi à universidade um professor convidado, um historiador especialista na história dos comunistas do Brasil. O objeto principal dele eram os comunistas Olga Benário e Luís Prestes, e este historiador parecia particularmente interessado na história das intimidades dos comunistas que queriam dar um golpe de estado no Brasil, mencionando até que alguns do grupo trocavam pelos pubianos por carta. Que grande preocupação, não? Que assunto tão importante para um historiador estudar! (#sqn) Afinal, alguém me explique: Qual foi a importância destes movimentos terroristas para o mundo, ou para o Brasil? Qual sua relevância? O que fizeram ao Brasil? Engraçado, quando um Leandro Narlock faz um livro de história “politicamente incorreto” dedicado a fatos de relevância parecida (nenhuma), a academia entra em polvorosa. Mas quando é um intelectual de esquerda se debruçando sobre as correspondências íntimas de comunistas, aí tá valendo. Quantos pesos e quantas medidas há nesta história?
Por fim, se você achou demasiadamente “neurótica” minha citação de Unabomber, venho oferecer outra, de alguém bem mais racional, nada terrorista. De meu escritor favorito, Steven Pinker, cientista da cognição, uma das mentes mais geniais de nosso tempo. Em seu livro Tábula Rasa, de 2002, ele fala sobre a arte moderna e pós-moderna, e como chegou ao estado deplorável em que se encontra. Pinker explica, o começo do século XX viu uma revolução dos meios de reprodução que tornou arte abundante e acessível, tanto livros, quanto quadros, filmes, e todas as formas de arte. E não só era abundante, como uma grande parte dessa arte popular era de boa qualidade. O jeito foi os artistas começarem a fazer sua arte não mais apenas de qualidade, mas fazê-la ininteligível para as massas. Conceitos normais de “beleza” começaram a ser rechaçados como sendo banais e burgueses. Mas nem tudo da arte moderna foi ruim, muito dela foi apenas experimentação com técnicas novas, o que não é ruim, longe disso, muitos realmente tentaram chocar com criatividade legítima, não com esculacho.
Mas infelizmente para os modernistas, uma hora a arte moderna virou mainstream. E virar mainstream é a morte para os modernistas. E chegamos, nos anos 60 e 70, ao “pós-modernismo”, esse movimento cultural e intelectual que… Bem, basicamente, é a peça que eu fui ver no teatro oficina por necessidade. Cada vez menos a arte e a filosofia são ininteligíveis (e para a filosofia, em especial, isto é desastroso), e cada vez mais os artistas tentam se valorizar pelo choque, pela bizarrice. Uma arte pretensamente “intelectual”, mas o que menos há nela é inteligência. Talvez a arte moderna tenha começado a perder as estribeiras quando começaram a expor mictórios em museus:
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Como diz Pinker:
A campanha sem fim pelos artistas pós-modernistas para atrair a atenção de um público entediado progrediu de embasbacar plateias para fazer tudo quanto possível para ofendê-las.
Pinker, Steven. The Blank Slate: The Modern Denial of Human Nature (p. 414). Penguin Publishing Group. Edição do Kindle. (tradução minha)
Pra mim, nonsense por nonsense, prefiro as animações absurdas do Mundo Canibal, e os desvarios das páginas do Facebook “Stalinismo Anarcocapitalista” e “Chaves Nóia”. Pelo menos são engraçadas. E não são financiadas pelos cofres públicos. Agora com licença, enquanto viro mais um Jack Daniel’s e penso em um relatório bem criativo para fazer, ao gosto dos acadêmicos.

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