Novo especialista do Imil, advogado Thiago Ramos Dias
analisa a escalada da violência no país.
12/11/2018
Com
mais de 26 mil assassinatos registrados no primeiro semestre de 2018, a
escalada da violência faz o Brasil alcançar índices de guerra. Neste podcast, o
advogado Thiago
Ramos Dias, coordenador de Segurança da Fundação NOVO e especialista do
Instituto Millenium, conversou com a equipe do Imil sobre a crise de segurança
pública enfrentada pelos brasileiros e as saídas para melhorar o trabalho dos
agentes que combatem os crimes no país.
1) De onde vem a
escalada da violência?
2) Os três eixos da renovação da segurança pública
3) O debate sobre segurança pública no Congresso
Thiago salienta que o fenômeno do aumento da insegurança é
complexo e não possui uma razão exclusiva ou determinante. A elevação nos
índices de violência pode estar relacionada a diferentes variáveis, incluindo
fatores de ordem sócio-econômica, desemprego e outras questões que podem
influir no processo decisório do agente ao cometer um crime. Por outro lado, há
a relação com a própria eficiência do Estado ao combater e coibir a prática
criminal. Nesse cenário, o especialista acredita que o Brasil falha ao opor
incentivos negativos à criminalidade, sobretudo no que diz respeito à certeza
da sanção e à proporcionalidade entre a pena imposta e a gravidade do ato
criminoso.
“Me filio às escolas que tendem a ver a criminalidade como
uma escolha racional daquele indivíduo, dado um sistema de incentivos positivos
ou negativos. Como fazer para oferecer uma resposta eficiente, rápida e que de
alguma maneira possa servir como um inibidor da prática de novos delitos?
A
pena tem que evitar a reincidência, deve ter um caráter punitivo-pedagógico,
que a gente chama de prevenção especifica, e ao mesmo tempo precisa servir de
exemplo para os outros como um elemento que funcione como dissuasor de
cometimento do crime. Então aquele indivíduo que vê as consequências daquela
prática precisa pensar que talvez não valha a pena praticá-la”, explica Thiago.
Para combater o sentimento de impunidade na população é
fundamental recuperar a capacidade operacional dos órgãos de segurança. Para
isso Thiago acredita que a política pública deve atuar com base em três eixos.
O primeiro deles é a procedimentalização, ou seja, a determinação de protocolos
claros, difundidos e atualizados sobre como os agentes devem atuar. Tais
questões devem ser amplamente divulgadas na sociedade, para que se tornem
objeto de conhecimento de todos. “A falta de clareza nos procedimentos pode
fazer muitas vezes com que o policial se omita, porque não tem segurança jurídica
para atuar e não sabe qual é o desfecho ou consequência legal de um determinado
comportamento dele. De outro lado, pode fazer com que ele haja da maneira que
quiser. Quando se tem um paradigma claro de atuação para aquele operador de
segurança, você torna as ações dele previsíveis. Quando isso não é muito claro,
não conseguimos sequer responsabilizar aquele agente de uma maneira adequada
por um eventual desvio”, explica o especialista.
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Uma vez estipuladas as condutas, é a vez da
responsabilização, o segundo eixo apontado por Thiago. Para ele, ao haver
clareza sobre a forma que os policiais devem atuar, é preciso que haja sanção
aos agentes por se desviarem do padrão estabelecido. Essa punição será capaz de
prevenir novos desvios, seja através da reincidência ou como exemplo aos demais
colegas.
O terceiro ponto destacado pelo especialista é a
valorização: “Não adianta punir alguém, considerando que a máxima sanção na
esfera administrativa é excluí-lo da corporação, se ele não se sentir
valorizado naquele trabalho. Só conseguimos mostrar que o caminho da legalidade
e do profissionalismo vale a pena quando construímos naquele indivíduo um senso
de pertencimento, um orgulho de ser policial.
Isso vai muito além da questão
salarial, passa pela relação com a sociedade, com os demais poderes, a maneira
com que é tratado dentro da administração. Quando ele entende que é peça
fundamental do Estado democrático de Direito e de uma ordem social justa, passa
a achar que não vale a pena delinquir, sendo certo que vai ser excluído daquela
condição. Busca-se, nessa dimensão, construir um acervo subjetivo que seja
capaz de tornar o comportamento adequado algo recompensador, ao mesmo tempo,
que torne a possibilidade de perdê-lo, na via da punição, um desestímulo
suficientemente poderoso”.
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