segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Os Quatro Elementos da Religião Segundo C.S. Lewis

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Os Quatro Elementos da Religião Segundo C.S. Lewis



No primeiro capítulo da obra “O problema do sofrimento” [1] o escritor cristão C.S. Lewis discorre sobre os fios ou elementos que compõem a religião.  São eles o experimento ou sentimento do numinoso, a consciência moral, a associação entre estes e, somente no cristianismo, há um quarto elemento que ele chama de o evento histórico da encarnação de Deus.
  1. O sentimento do numinoso.
Mas o que seria isso? Bem, numinoso é a espécie de medo ou temor que todos os homens, desde a era primitiva, nutrem pelas forças superiores que governam a natureza e o universo. Lewis exemplifica esse temor comparando o medo que se tem de um tigre ao medo que se tem de um fantasma, para quem acredita neles, obviamente. 

O medo do tigre deriva de um medo físico relacionado a um perigo físico que o tigre oferece. Mas o medo de fantasmas, caso se acredite neles, ocorre não pelo perigo que eles possam oferecer, mas apenas pelo fato de serem fantasmas. Ou seja, o medo dos fantasmas deriva somente do fato deles serem o que são: fantasmas. 

Lewis indaga de onde essa espécie de medo veio. Pois o medo de perigos físicos pode ser logicamente deduzido de fatos físicos. Mas esses fatos físicos que dão origem ao medo do perigo físico não pode ser a causa do temor ou medo do fantasmagórico ou sobrenatural (numinoso) que domina o universo. A experiência que decorre dos acontecimentos no curso desse mundo tende muito mais (para Lewis) a guiar as inteligências para a visão de um universo oriundo do acaso e do sem sentido do que o oposto. 

Logo, de onde veio esse sentimento? Lewis conclui que há apenas dois pontos de vista possíveis a esse respeito. Ou essa espécie de medo provém de uma distorção mental humana que não tem nenhum grau de objetividade, embora possua a tendência de não desaparecer da mentalidade humana, ou ele provém de uma verdadeira experiência sobrenatural chamada revelação.
  • 2. Consciência moral.
Lewis argumenta que embora os padrões de comportamento moral se diferenciem uns dos outros, todos os homens concordam em reconhecer padrões de comportamento moral. 

Tais padrões não derivam da experiência, pois dela podem ser extraídos comportamentos que são mais desejados por alguns homens do que por outros, ou se pode reconhecer comportamentos que algumas pessoas somente praticariam se fossem obrigadas. 

Mas não é possível retirar da experiência o “devo” ou “não devo”. Isto é, o certo e o errado não provêm das experiências morais. Na obra “Cristianismo Puro e Simples” [2] Lewis pergunta se há o registro de alguma espécie de padrão moral na história humana que reconheceu o altruísmo como negativo ou o egoísmo como positivo. 

Algum humano se desculpa quando defende os filhos de algum perigo ou é glorificado quando age em benefício si mesmo em detrimento dos demais? 

Esses padrões fixos de moralidade vieram de onde? Da mesma forma que a noção do temor do numinoso não provém do medo do perigo físico (medo físico e temor do numinoso pertencem a dimensões diferentes para Lewis), a consciência de uma lei moral que guia o comportamento dos homens não brota da experiência moral

Assim, ambos são considerados saltos perceptivos que, para Lewis, são originários de alguma loucura inexplicável ou de revelação. Esses dois primeiros elementos compõem o desenvolvimento mais primitivo da religião. Mas eles parecem caminhar em direções opostas, já que enquanto o experimento do numinoso brota do medo do terrível, do desconhecido, do cruel, a consciência moral exige um comportamento oposto.
  • 3. A Harmonia Entre o Numinoso e a Moralidade
A união da noção do numinoso e a moralidade foi o maior salto na espiritualidade humana para Lewis. 

O caminho que parecia distinto entre ambos se funde. O sentimento do pavor fantasmagórico que se liga à ideia do universo vago, indiferente, injusto, se une à noção do Criador bondoso e sábio. 

A partir dessa consciência, o padrão moral que condena os homens se encontra nas mãos da autoridade sobrenatural que amedronta. 

Lewis argumenta que não foram todos os povos que aderiram a essa perspectiva, mas os que aderiram, a exemplo dos judeus, se salvaguardaram das obscenidades das religiões imorais e da frieza da moral não religiosa. 

Sim, esses conceitos sempre existiram e ainda existem. Há religiões que não possuem padrões morais estabelecidos e moralidades não ligadas à espiritualidade a exemplo de algumas religiões pagãs e do estoicismo, respectivamente. 

Lewis explica que quem bem uniu o lado terrível do Criador que amedronta ao lado justo e bom do mesmo Criador foram os judeus, ver Salmo11, 6-7

Através de Abraão as nações foram abençoadas. Essa noção produziu um frutuoso resultado que atingiu o seu auge de desenvolvimento no evento histórico que consagra o cristianismo como a religião que atinge o ápice do desenvolvimento espiritual. Ou seja, o auge da revelação de Deus aos humanos.


4. A Encarnação Histórica
Esse evento apresenta a encarnação do homem que afirma ser o Filho de Deus no sentido de ser “um com” Deus e materializa a união entre o numinoso que produz temor e o autor da lei moral que faz justiça e ama. 

Para Lewis há somente duas formas de se encarar a pessoa de Jesus Cristo, a partir da análise das reivindicações feitas por ele. Ou esse homem foi um lunático abominável ou foi quem disse ser. No caso dos registros históricos eliminarem a primeira hipótese, resta se dobrar à segunda. 


E sendo a segunda aceitável, as reivindicações dos cristãos se tornam críveis. Lewis conclui afirmando que o cristianismo não é um fato que dá uma resposta ao evento embaraçoso do sofrimento, mas é também um evento embaraçoso que se consagra no sofrimento daquele que muda (para melhor) a relação entre a divindade e os homens. O Cristo sofredor garante, pela sua morte e ressurreição, a realidade final da existência que será plena em justiça e amor.


Referências:
[1] LEWIS, C.S. O problema do sofrimento. 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2006.
[2] LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. 5. ed. São Paulo: ABU, 1997.  

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