segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Valor Econômico – Brasil diz que governo Maduro é mecanismo do crime organizado

Valor Econômico – Brasil diz que governo Maduro é mecanismo do crime organizado


Por Fabio Murakawa | De Brasília

Alan Santos/PRErnesto Araújo, Miguel Ángel Martín e Bolsonaro: nota admite apoio brasileiro a presidente da Assembleia Nacional

O Ministério das Relações Exteriores disse ontem que o governo venezuelano "chefiado por Nicolás Maduro constitui um mecanismo de crime organizado", que "está baseado na corrupção generalizada, no narcotráfico, no tráfico de pessoas, na lavagem de dinheiro e no terrorismo".

A afirmação veio em um comunicado divulgado após 11 horas de reunião entre o chanceler Ernesto Araújo e líderes venezuelanos exilados, que teve "por objetivo discutir ideias de ação concreta para restabelecer a democracia na Venezuela".

Na nota, o Brasil admite apoiar o presidente da Assembleia Nacional, o opositor Juan Guaidó, em "sua disposição de assumir a Presidência da Venezuela interinamente, seguindo a Constituição venezuelana".

"O papel–chave do Brasil, sob a liderança do presidente [Jair] Bolsonaro, na mudança do cenário venezuelano, onde pela primeira vez em muitos anos ressurge a esperança da democracia, foi reconhecido por todos os líderes venezuelanos", afirma o documento. "O Brasil tudo fará para ajudar o povo venezuelano a voltar a viver em liberdade e a superar a catástrofe humanitária que hoje atravessa."

Representantes da Organização dos Estados Americanos (OEA), dos Estados Unidos e do Grupo de Lima – que congrega 12 países das Américas e desconhece a legitimidade de Maduro – também estiveram à mesa com Araújo e os venezuelanos. Alguns dos participantes do encontro, porém, são vistos com desconfiança pela Assembleia Nacional da Venezuela, dominada pela oposição desde 2016 e que teve os poderes esvaziados por Maduro desde então.

Eduardo Bittar e Roderick Navarro, membros do movimento Rumbo Libertad, estiveram ontem em Brasília e são classificados por boa parte da oposição venezuelana como de "extrema direita".

Eles defendem a formação de um governo no exílio, algo visto com entusiasmo pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL–SP). Filho do presidente Jair Bolsonaro, Eduardo é próximo de Bittar e Navarro e também participou do encontro no Itamaraty.

Mas essa ideia é vista com reserva por setores do governo brasileiro. Tampouco tem o apoio de outros participantes mais moderados do encontro de ontem – Antonio Ledezma, ex–prefeito de Caracas, Julio Borges, ex–presidente da Assembleia Nacional, e Carlos Vecchio, membro do partido Voluntad Popular, que vivem atualmente no exílio, em Madri, em Bogotá e Miami, respectivamente. "Não vejo razão para formar um governo no exílio se já podemos ter um governo legítimo dentro da Venezuela", disse Ledezma ao fim do encontro.

Araújo reuniu–se também em separado com Miguel Ángel Martín, presidente do Tribunal Supremo de Justiça no Exílio – uma criação da Assembleia Nacional. À tarde, o chanceler e o magistrado estiveram no Palácio do Planalto reunidos com o presidente.

"Sabemos como esse desgoverno [de Nicolás Maduro] chegou ao poder, inclusive com a ajuda de presidentes que o Brasil já teve, como Lula e como Dilma. E isso nos torna responsáveis pela situação que vocês se encontram, em parte", disse Bolsonaro em um vídeo divulgado após o encontro. "Continuaremos fazendo todo o possível para restabelecer a ordem, a democracia e a liberdade. Acredito que a solução virá brevemente", completou. No vídeo, Bolsonaro aparece ao lado do ministro de Araújo, Miguel Ángel Martín, e Gustavo Cinosi, representante da OEA.

Também dentro da Assembleia Nacional venezuelana há ressalvas quanto a Navarro, Bittar e o governo no exílio.

Falando sob a condição de anonimato, um deputado venezuelano disse desde Caracas sobre os membros do Rumbo Libertad que "eles se aproximaram de Bolsonaro e seus filhos, mas são uns loucos da resistência e essas coisas, são contra os partidos, contra a Assembleia Nacional, contra tudo". "Além disso, um governo no exílio não é um pleito da Assembleia Nacional."

A existência de um tribunal no exílio, além disso, tampouco é uma unanimidade.

"Angel Martin é presidente de um Tribunal Supremo no exílio que não é supremo. Isso é uma fantasia. Por isso que na Assembleia Nacional não há nenhum acordo que designe um tribunal supremo no exílio ou coisa parecida", afirmou a fonte parlamentar desde Caracas.

Ledezma, por sua vez, discorda. "Que se reconheça não somente a Assembleia Nacional e o TSJ no exílio como instituições legítimas. Mas aceitem também que Juan Guaidó é o presidente constitucional da Venezuela", disse.

Navarro e Martín estiveram em dezembro na Cúpula Conservadora das Américas. O evento, patrocinado por Eduardo Bolsonaro, pretende ser um contraponto histórico ao Foro de São Paulo, reunindo políticos e entidades da direita no continente.

Em comunicado divulgado à véspera da reunião no Itamaraty, a assessoria da Cúpula Conservadora trata os representantes dos partidos políticos como "falsa oposição venezuelana".

Ao mesmo tempo, a entidade liderada por Eduardo Bolsonaro diz que o Rumbo Libertad "luta pela instauração de um governo transitório em exílio" e afirma que ele "será o único representante da real resistência neste encontro". (Colaboraram Marcelo Ribeiro, Carla Araújo e Andrea Jubé)

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